Comitê
tenta depor presidente do governo da epidemia, mas mortos-vivos mordem e matam
O comitê
de combate à epidemia pode dar algum resultado apenas se Jair
Bolsonaro renunciar ao comando da Saúde e à propaganda criminosa contra os
esforços de controle da Covid-19. Ainda que se retire e se cale, falta saber se
o comando do Congresso e Marcelo
Queiroga, novo ministro da Saúde, vão apertar o laço de Bolsonaro o
bastante para mantê-lo preso e a distância nesse novo “parlamentarismo branco”.
Há
sinais de contemporização, de pequenas mordidas e grandes assopros. Arthur Lira
(PP-AL), presidente da Câmara fez
na noite de quarta-feira um discurso em que explicita os termos do
acordo com Bolsonaro: vai se evitar a escalada que pode terminar em conflito
aberto ou com a degola, mas o presidente precisa se colocar no seu lugar. Em 78
linhas, cerca de 65 são de palavras como “também não é justo descarregar toda a
culpa de tudo no governo federal ou no presidente. Precisamos ... de alma leve,
abrir nossos corações e buscar a união de todos”. Outras 13 têm termos como
“remédios políticos no parlamento”, “todos amargos”, “alguns fatais”.
Qualquer tolerância com bolsonarices já será uma rendição, uma farsa completa. Farsa existe, pois o arranjo do comitê é um aditivo do acordo geral centrão-Bolsonaro.
O desastre
humanitário ampliado já é fato consumado. O que se pode fazer é
atenuá-lo a partir de algum momento de abril, o que governadores e prefeitos,
nem todos, têm tentado desde o início da semana passada. Mas o combate à
epidemia não se restringe ao básico sabotado por Bolsonaro desde março do ano
passado (distanciamento, máscara, testagem, vacina). Depende de entendimento
científico da disseminação do vírus e planejamento adequado ao que se descobrir
a respeito, para dar apenas um exemplo, o que pode exigir medidas duríssimas.
O
comando do Congresso, com alguma ajuda ou pressão
de parte da elite econômica, fez esse arranjo do “comitê” a fim de evitar
um confronto com Bolsonaro, que em parte aderiu ao acordo porque a cena da
“união nacional” parece fazer parte de seu novo esquema de propaganda.
No pronunciamento
chave de cadeia nacional desta quarta-feira, de mentiras ainda mais
repulsivas do que de costume, Bolsonaro posou de líder da vacina, um jogo
arriscado que até pode vir a ganhar. Nada disse sobre outras medidas de
controle da epidemia, com o que teria de se renegar ou, então, explodir o
arranjo do comitê mesmo antes mesmo de sua inauguração. A ideia é refazer sua
imagem e ocultar crimes passados, com cumplicidade do Congresso.
Rodrigo
Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, tem reunião na sexta-feira com os
governadores. A pauta, segundo um governador, é de emergência: mais UTI,
mais oxigênio,
importação de remédios
para intubação (mas não só), sem imposto ou outra trava, e um método
nacional e articulado de fazer “lockdowns” ou a versão brasileira, aguada,
desse tipo de medida. Muito disso depende de decisão executiva do ministério.
Vai ser conversa para inglês ouvir?
Além
do discurso, Lira colocou e vai colocar em votação medidas para facilitar
importação de remédios, financiamento de UTIs e coisas do gênero, prioridade
nos próximos 15 dias.
Queiroga,
o ministro, começou a nomear profissionais no lugar dos brucutus do Exército,
embora desconverse o quanto pode sobre bolsonarices negacionistas. Até haver
uma equipe funcional, no mínimo três semanas, terão morrido outras quase 50 mil
pessoas.
Tudo muito pouco e tardio, se é que vai funcionar: para tanto, é preciso que Bolsonaro fique preso na casinha.
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