O
trabalho deveria começar por seus antepassados: Hitler, Jack o Estripador,
Drácula, Herodes e Belzebu
Sempre
achei um risco biografar gente viva. Não por medo do biografado ou
de sofrer um processo, mas por motivo mais sério: como contar uma história que
ainda não terminou? Imagine se, no dia seguinte ao lançamento de uma biografia,
o biografado comete algo terrível, como estrangular seu papagaio ou fugir com a
mãe de sua mulher. Em um segundo lá se vai o trabalho de anos do biógrafo —por
que ele não previu que seu biografado seria capaz daquilo? Donde o certo é esperar
que o fulano abotoe naturalmente o paletó, para só então mergulhar na
investigação de sua vida.
Mas, com Jair Bolsonaro, não se pode mais esperar que ele vá para o diabo que o carregue. É urgente começar a biografá-lo porque, pela velocidade de sua trajetória —não passa um dia sem praticar um crime contra a democracia, a saúde, a educação, a ciência, a cultura, a economia, a ecologia, a diplomacia, a Justiça, os direitos humanos e a vida—, em breve ela não caberá em um volume. E isso apenas desde que assumiu a Presidência.
Ai está.
Uma biografia de Bolsonaro deveria recuar aos seus antepassados, como Hitler,
Jack o Estripador, Drácula, Herodes e Belzebu; explorar suas origens em
Glicério (SP), burgo de 2.000 habitantes em 1955, onde depositaram o ovo do
qual ele nasceu— e chegar à sua infame carreira militar e ascensão política.
Vai-se revelar o seu longo e meticuloso processo de corrupção de colegas,
servidores, generais, policiais e juízes, e, de passagem, descobrir como
construiu seu patrimônio imobiliário e transferiu esse know-how para filhos e
mulheres.
O
importante é que, em alguma etapa, surja algo que explique o seu grau de
desumanidade estudada, demência, crueldade e ódio.
Pelo que sei, já há profissionais biografando Bolsonaro. Só garanto que não sou um deles. Há um limite para a náusea, e basta-me ter ânsias de vômito quando o vejo na televisão.
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