A volta
de Lula reabilitou um fantasma que assombrou a última corrida presidencial: a
ideia de um país dividido entre dois extremos. Em 2018, a propaganda de Geraldo Alckmin martelou que era
preciso evitar, a qualquer custo, a polarização entre Bolsonaro e PT. As duas
forças foram apresentadas como “lados da mesma moeda: a do radicalismo”.
A
retórica denunciava o desespero do tucano. O eleitorado do seu partido já havia
aderido ao capitão, e ele terminou com menos de 5% dos votos. No segundo turno,
os candidatos do PSDB esqueceram o discurso e correram para Bolsonaro. A carona
ajudou a eleger João Doria e Eduardo Leite, que agora tentam se descolar da
imagem do presidente.
A
equivalência entre PT e Bolsonaro sempre foi conversa fiada. O partido de Lula
tem muitos defeitos, mas nasceu na luta contra a ditadura e governou pelas
regras da democracia. Quando Dilma Rousseff sofreu o impeachment, os petistas
entregaram as chaves do palácio e foram para a oposição.
Bolsonaro é um antigo defensor do autoritarismo, da tortura e das milícias. Não moderou o discurso na campanha nem no governo, onde passou a flertar abertamente com um autogolpe.
Polarização
não é sinônimo de duelo entre extremos. Como lembra o cientista político Cláudio Couto, PT e PSDB
polarizaram seis disputas presidenciais sem que nenhum deles fosse extremista.
O professor diz o óbvio. Mesmo assim, há quem insista na falsa simetria.
A
deputada Joice Hasselmann, ex-líder de Bolsonaro, agora se apresenta como
adversária do “bolsopetismo”. O termo não quer dizer nada, mas virou moda em
rodas conservadoras. Na falta de um candidato competitivo, apela-se ao fantasma
de 2018.
O
retorno de Lula mostrou que não era difícil polarizar com um presidente que
nega a ciência e debocha das vítimas da pandemia. Para o petista, bastou
aparecer de máscara, defender a vacina e informar que a Terra não é plana.
OS TRÊS
PATETAS
Na
semana em que o Brasil superou a marca de duas mil mortes diárias pela Covid,
os filhos do presidente se destacaram pelas seguintes ações:
Flávio,
o Zero Um, comparou medidas para conter a pandemia ao massacre de judeus no
Holocausto.
Carlos,
o Zero Dois, deu chilique na Câmara Municipal e chamou um colega de “canalha” e
“cabeça de balão”.
Eduardo,
o Zero Três, divulgou o desenho de um Zé Gotinha miliciano, armado com um
fuzil.
HELIO E
A FRENTE AMPLA
Com a
morte de Helio Fernandes, vai-se uma parte da História do Brasil no século XX.
O jornalista resistiu a seguidos apelos para publicar suas memórias. Deixou um
único livro, “Recordações de um desterrado em Fernando de Noronha”, além de
milhares de artigos no baú da “Tribuna da Imprensa”.
Helio
respirava política e trabalhou pela reconciliação de JK e Lacerda quando os
dois rivais, que apoiaram o golpe de 1964, viram-se na mira da ditadura que
ajudaram a instalar.
A primeira reunião da Frente Ampla ocorreu na casa do jornalista, no Rio, em 22 de agosto de 1966. O movimento foi sufocado pelos militares, e JK e Lacerda morreram sem ver a redemocratização do país. Helio morreu na mesma casa, na madrugada de quarta, aos 100 anos.
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