Nordeste,
BH, Betim, Maricá etc. compram vacina russa, que ainda não existe
Os estados do Consórcio Nordeste, liderados pela Bahia, contrataram a compra de 37 milhões de doses da vacina russa Sputnik. As primeiras chegariam em abril.
Belo
Horizonte afirma ter contratado 4 milhões. Betim, outra cidade mineira, 1,2
milhão de doses. Maricá, no Rio de Janeiro, diz ter fechado a compra de 400
mil. A prefeitura de Morro da Fumaça assinou carta de intenções para comprar 20
mil doses para 18 mil fumacenses. A cidade faz parte do grupo de 233 cidades de
Santa Catarina que pretende encomendar 4,1 milhões de doses. Até o governo
federal diz agora ter contrato para 10 milhões de doses.
De certo modo, é a revolta da vacina. O descrédito e a incompetência do governo de Jair Bolsonaro fazem com que governadores, prefeitos, empresas privadas e associações civis se virem a fim de obter doses, alguns com motivos nada republicanos.
Na
prática, como em tantos assuntos nacionais, de “reformas” a providências para
barrar tentativas
autoritárias de Bolsonaro, passando pela gerência da epidemia, o restante
do país tem de improvisar a governança básica.
Isto posto, impõem-se duas questões essenciais: 1) haverá tanta Sputnik? Quando?; 2) quando sai a aprovação da Sputnik? Desde janeiro está atrasada a entrega dos documentos corretos na Anvisa 3) como seriam aplicadas essas vacinas? Alguns governantes falam em usar as doses apenas em sua região.
O
governador Wellington Dias (PI-PT) repetia até antes do fechamento do contrato
Sputnik do Nordeste que as vacinas do Nordeste irão para o programa nacional,
respeitando o calendário de prioridades para grupos de risco. Governadores de
outros estados e consórcios municipais de Sul e Centro-Oeste dizem que pode não
ser assim.
O Fundo
de Investimento Soberano Russo, que patrocina o desenvolvimento, produção e
distribuição da Sputnik, não informa um calendário de produção de vacinas,
cronograma que seria publicado “nas próximas semanas”. Jornais russos, mais
ou menos independentes, dizem que em março seriam fabricadas 30 milhões de
doses, indo a 40 milhões por mês até junho. Até fevereiro, haviam sido
produzidos pouco mais de 7 milhões de Sputniks. Até 11 de março, a Rússia
vacinara 4,98 milhões de pessoas, 5% da população: tanto quanto o Brasil.
Mastigando várias fontes de números, parece que dois terços das doses de março em diante seriam fabricados fora da Rússia, em 10 países. Metade dessas doses “estrangeiras” de Sputnik seriam produzidas justamente no Brasil e na Índia, outra boa parte na Coreia do Sul. Mas tanto aqui como alhures o início da produção está atrasado.
Segundo
o Statista, site alemão de estatísticas de mercado, o mundo havia encomendado
791 milhões de doses de Sputnik até 11 de março. Dessas, 470 milhões seriam
fabricadas por certos países para si mesmos: Coreia do Sul, Índia, Casaquistão
e 8 milhões de doses da União Química no Brasil. Nós importaríamos outros 10
milhões (as doses federais). Os demais 40 milhões de doses a serem comprados
até agora por estados e cidades não estão nessa tabela do Statista.
É fácil
perceber que essas contas não fecham, pelo menos para o ano de 2021. De resto,
a Sputnik nem foi aprovada no Brasil, embora agora a lei permita que imunizante
aprovado na Rússia também possa ter liberação acelerada pela Anvisa.
Qualquer
quantidade extra de vacina é desesperadamente
necessária: 10 milhões de doses em um mês podem salvar a vida de uns 4.500
idosos ou evitar mais de 6 mil internações em UTIs.
Mas a conta da Sputnik até agora não fecha, nem de longe.
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