Decantação da pandemia no eleitor deve definir novo presidente
Quando
os americanos foram às urnas em novembro do ano passado, as mortes por Covid-19
voltavam a se aproximar de 1.000 por dia nos EUA. O coronavírus foi um dos
temas mais presentes da eleição presidencial, com uma característica que se
tornou a marca política da pandemia: a divisão entre as mortes e seus
impactos sobre a economia.
A
atuação de Donald Trump e os efeitos da doença no mercado de trabalho racharam
o país. Entre os eleitores que consideravam a economia uma prioridade, 78%
votaram no republicano, segundo pesquisas de boca de urna. Para aqueles que
diziam que o importante era conter o vírus, 79% escolheram Joe Biden.
O democrata ficou em vantagem porque mais americanos achavam importante salvar vidas (52%) do que recuperar a atividade econômica (42%). No Brasil, a escalada da doença e a decantação da crise no humor do eleitorado podem definir o próximo presidente.
A
questão central é se a pandemia e seus efeitos serão tópicos relevantes até lá.
A depender do cenário do país, o eleitorado pode usar o voto para julgar a
conduta de Jair Bolsonaro, pode ir às urnas para escolher outro rumo na
administração da crise ou pode ignorar a doença em nome de outros interesses.
Bolsonaro
desdenhou da morte de milhares de brasileiros porque acreditava
que seus efeitos políticos seriam limitados. Em sua matemática, faria mais
sentido oferecer a bandeira da defesa da economia a qualquer custo, em
contraponto a personagens como João Doria e Luiz Henrique Mandetta.
O
resultado dependerá da situação econômica e de quanta responsabilidade o
eleitor atribuirá ao governo. Bolsonaro só será beneficiado se o eleitor
enxergá-lo como um nome capaz de liderar a recuperação.
A volta de Lula bagunça o jogo porque o petista tenta aliar o discurso da saúde a uma pauta de proteção aos mais pobres e de enfrentamento das dificuldades econômicas. Se a plataforma vingar, ele será um rival de Bolsonaro em duas frentes.
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