Objetivo
não é usar Exército contra o caos, mas contra a CPI, o STF e a candidatura Lula
O
ex-presidente Lula coleciona vitórias no Supremo e o presidente Jair Bolsonaro reage com
medo a Lula e à CPI
da Covid, ameaçando os governadores – e o País – com o
Exército nas ruas. Está apoiado no GSI, no novo ministro da Defesa, general
Braga Neto, no novo comandante do Exército, general Paulo Sérgio, e em todos os
seus ministros? Isso não é brincadeira.
O
Supremo já tem maioria pela suspeição do ex-juiz Sérgio Moro no caso do triplex
do Guarujá, que levou Lula à prisão por 580 dias. O grande vitorioso é Lula, já
em campanha para 2022. Os maiores derrotados são Moro e a Lava Jato. E perde
também o relator Edson Fachin, que tentou favorecer Lula e a Lava Jato ao mesmo
tempo. Não rolou.
Bolsonaro está em pé de guerra. Já não se refere ao “meu Exército”, mas ao “nosso Exército”, e embrulha seus propósitos com legalidade ao dizer que vai usar os militares para “fazer valer o artigo 5.º da Constituição”, sobre o direito de ir e vir, a liberdade de trabalho e culto. Mero pretexto, porque ele nunca esteve preocupado com direitos e não vê a hora, isso sim, de dar um golpe branco, dentro da lei.
Por
que ele inviabilizou o Censo pelo segundo ano seguido? Pelo medo da terrível
realidade que o IBGE divulgaria às vésperas da eleição. É justamente por causa
dessa realidade, de desemprego, fome, drama social, que o presidente acena com
Exército nas ruas.
O
que evitaria esse caos? Liberar geral? Deixar o vírus tomar conta do País de
vez? Não. É o oposto. Uma política nacional para restringir com rigor a
circulação de pessoas e garantir rápida e maciçamente as vacinas é o que
seguraria o vírus, aliviaria o sistema de saúde, garantiria a volta à
normalidade e a reação da economia mais rapidamente.
Depois
de exibir os generais Braga Neto e Eduardo Pazzuelo num
ato de campanha em Goianópolis (GO), sem máscara e
distanciamento social, Bolsonaro arranjou um cargo para Pazzuelo, pôs o general
debaixo do braço e foi com ele a Manaus, síntese dos erros na pandemia. E há a
primeira manifestação do novo comandante do Exército.
O
general Paulo Sérgio tirou 10 ao praticar no Exército tudo o que Bolsonaro não
praticou no País contra a pandemia. Não foi nomeado por isso, obviamente, mas
entrou em sintonia com o presidente ao dizer que o Exército é 1) “vigoroso
vetor de estabilidade e de garantia da ordem e da paz social” e 2) “esteve e
estará sempre junto ao povo brasileiro”. Isso reforça a dúvida desta coluna em
18/4: que povo? A Nação brasileira ou o “povo” do Bolsonaro?
Excepcionalidade
exige medidas excepcionais. Estados e municípios decretam restrições à
circulação, a cultos e compras, não por serem sádicos, contra a Constituição e
queiram destruir a economia, mas pelo oposto: porque têm de salvar vidas e
recuperar o quanto antes a economia. Com a incerteza das vacinas, a arma é
isolamento. Mas o presidente ataca pelos dois lados: é o grande culpado pela
falta de vacinas e guerreia também contra os paliativos.
Bolsonaro
é um prato cheio para a CPI e a
entrevista do ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten à Veja, apesar da dubiedade, põe mais
pimenta ao acusar o Ministério da Saúde de Pazzuelo pelo fracasso na compra da
Pfizer em 2020 e relatar que a questão foi tratada – e as chances desperdiçadas
– dentro do gabinete presidencial.
Bolsonaro fez tudo errado desde o primeiro momento, deu no que deu. Agora, quer manipular o Exército, atacar os governadores e prefeitos e convencer o “povo” de que a culpa do caos é do combate à pandemia, não da sua total incompetência no combate à pandemia. Seu real objetivo é usar as Forças Armadas, não contra o caos que ele criou e alimenta, mas contra a CPI, o STF e a candidatura Lula.
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