Proteção
de nossas florestas
Cento
e oitenta anos antes do Biden, Macron, Merkel estarem dando opinião sobre como
devemos cuidar de nossas florestas, um parlamentar inglês aprovou lei dando
direito à Marinha Britânica de intervir nos mares internacionais e nacionais e
até nos portos de qualquer país, para proibir tráfico de escravos. Esta lei
gerou uma forte indignação entre os traficantes, os fazendeiros e classes
médias urbanas que dependiam da escravidão para fazer funcionar a economia e a
sociedade.
A realidade social e econômica levou a população brasileira a se manifestar em defesa de nossa soberania, nosso direito a ter escravos, usar a escravidão a deixar nossos navios transportarem as mercadorias que nossa soberania aceitasse, inclusive mercadoria humana. Vista à distância, 180 anos depois, difícil entender a soberania de manter o que hoje parece infame a nossos olhos: o maldito tráfico de escravos.
Da
mesma forma que na época da escravidão a moral humanista deveria se sobrepor à
soberania nacional, cada país precisa aceitar regras que definam os limites de
seus direitos soberanos. A diferença é que no lugar de um só país impor-se aos
demais, agora as interferências devem ser definidas de forma global. No lugar
de em nome da soberania nos opormos a intervenção estrangeira, devemos proteger
nossas florestas e participarmos da definição de regras internacionais para
todos países. Aceitar a preocupação do mundo com nossas florestas e exigir que
os Estados Unidos e Europa reduzam o nível de consumo que depreda o meio
ambiente tanto quanto o desflorestamento. Provocar as nações do mundo a irem
além da preocupação com as florestas, definirem um novo rumo para a economia,
domando o monstro da produção e do consumo, em busca de um desenvolvimento
harmônico entre as pessoas e delas com a natureza, graças a uma soberania decente
que respeite valores morais humanista.
*Cristovam Buarque foi senador, ministro e governador
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