O
presidente colhe o que plantou
Quatro ministros da Saúde depois e com a estagnação do ritmo de vacinas aplicadas porque não as comprou a tempo, o máximo que fez até aqui o governo Bolsonaro contra a pandemia da Covid foi montar um comitê especial para cuidar do assunto formado por representantes dos três poderes da República e sob o comando de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado.
Nos últimos 30 dias, o comitê instalado com toda pompa reuniu-se duas vezes e só produziu abobrinhas. Bolsonaro faz questão de manter-se diante dele. Não quer ouvir falar de máscara, lavar as mãos com álcool gel, e respeitar medidas de isolamento. Atrapalharia suas pregações diárias e passeios semanais, todos na direção contrária do que aconselha o comitê.
Prefere
continuar insistindo com o uso da cloroquina e de outras drogas sem eficácia
para combater o vírus – o tal do tratamento precoce que ele agora não chama
pelo nome para não ter seus vídeos suspensos nas redes sociais. Ultimamente,
deu para acenar com a intervenção do Exército contra qualquer tentativa de
lockdown nacional ou de saques ao comércio.
De
fato, o espantoso é que até agora, dado ao crescente número de desempregados e
de pessoas que retornaram à condição de miseráveis, não se tenha notícia de
atentados à ordem pública. Ao que tudo indica, Bolsonaro torce para que isso aconteça
com a esperança de angariar novos poderes a pretexto de restabelecer o império
da ordem e da lei. É o seu sonho.
Na
outra ponta das preocupações do presidente está a CPI da Covid no Senado que
será instalada na próxima terça-feira. Dos 11 membros da CPI, 6 são
independentes e de oposição ao governo, e 5 mais ou menos governistas, a
depender do andar da carruagem. Na verdade, a um ano das eleições gerais de
2022, ninguém ali está disposto a se imolar para salvar o mandato de Bolsonaro.
Cuide-se,
Bolsonaro, portanto – e é o que ele passou a fazer mobilizando todos os
recursos ao seu alcance. Deu ordem ao general Luiz Eduardo Ramos, chefe da Casa
Civil, para que montasse uma força tarefa, composta por representantes de todos
os ministérios, encarregada de coletar documentos e informações que possam ser
usadas a favor do governo na CPI.
Estão
sendo mapeados os funcionários e ex-funcionários do governo que poderão ser
convocados a depor. E a eles será oferecido treinamento sobre como comportar-se
e o que dizer em depoimentos e acareações. Dos ex-funcionários, o que inspira
maior cuidados à força tarefa é o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da
Saúde, desempregado e um pote de mágoas.
Uma marca indelével do governo Bolsonaro é a de estar sempre correndo atrás do prejuízo semeado por ele mesmo. Dito de outra maneira e bem ao gosto dos nordestinos: o presidente está como um vira-lata sem dono e perdido em meio à festa do santo padroeiro de uma cidade, a pular assustado daqui para acolá a cada vez que uma bomba estoura perto dele.
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