E aí, amigo, onde serão suas próximas férias? A depender do andar da carruagem global do pós-pandemia, por aqui mesmo. Estamos condenados a ficar ilhados com Jair Bolsonaro e seu séquito de negacionistas, ressentidos e cafonas, já que, cada vez mais, seremos proscritos de um mundo que quer superar uma pandemia na qual resolvemos chafurdar indefinidamente.
Você
aí que botou fé na cloroquina, fez uma festinha “só” para 50 pessoas no
réveillon, foi no grupo de WhatsApp da sala do filho divulgar abaixo-assinado
pelo impeachment do governador que decretou esse ab-sur-do de manter escolas
fechadas enquanto a média móvel chegava a 3 mil mortos por dia, onde vai fazer
suas “compritchas” quando todo este pesadelo passar?
Melhor
já ir pensando num destino por aqui mesmo, uma vez que que Paris e suas lojas
de alta costura não são uma opção viável no momento para a “cepa” de
brasileiros, esses que acham por bem contrariar o bom senso, a razoabilidade,
os conceitos mínimos de solidariedade e empatia durante uma crise sanitária — e
ainda dão algo como 24% de menções de “ótimo ou bom” ao pior presidente da face
da Terra plana.
A decisão do governo da França de proibir voos do Brasil é um indicativo concreto, que atinge justamente a elite mais egoísta, aquela que está louca para que as lojas Havan vacinem logo seus funcionários e para que a vida “volte ao normal”, porque mostra a ela um espelho duro de encarar: somos vistos fora daqui como a imagem e semelhança do “Mito” que alguns ainda insistem em cultuar, alheios às evidências abundantes de desgoverno absoluto em todas as áreas da vida nacional.
Mas
nossa classe mais abastada segue anestesiada e fazendo seus planos cada vez
mais excludentes e alheios à realidade que atinge o país. Começam a abundar
relatos de quem vai tirar férias para fazer uma conexão Cancún-Miami (sim,
porque os Estados Unidos também não estão dando mole para deixar brasileiro
entrar lá sem uma escala prévia que funcione como quarentena).
Aqueles
que chamam os prefeitos de ditadores por não ter academia aberta acham que tudo
bem ficar de 10 a 14 dias trancados em quartos de hotéis em países que, vejam
só!, adotam distanciamento social, só para ter acesso a imunizantes que o
governante para o qual passam pano se negou a comprar para o conjunto da
população. O que é restrição à liberdade individual em casa vira chique e
civilizado nos cada vez mais escassos lugares do mundo que ainda aceitam
passaporte brasuca.
Involuímos.
Em tudo. E o resultado é que chegaremos muito depois do resto do planeta ao
mundo pós-covid. Na economia, na educação, nos indicadores sociais (que,
ademais, demoraremos a conhecer, porque Bolsonaro conseguiu a façanha de
demolir o Censo Demográfico!), na recuperação dos sequelados pelo vírus, no
estabelecimento dos protocolos que terão de ser seguidos daqui para a frente
diante da evidência de que outras pandemias virão cedo ou tarde, no
compartilhamento de informações científicas oriundas de um esforço histórico
por vacinas e medicamentos, de que fomos apenas espectadores letárgicos.
Estamos fadados a trocar essas discussões do nosso tempo, as que definirão os rumos do trabalho, das relações afetivas, das artes, do turismo, do comércio global num mundo paralisado pelo vírus por outras só nossas, como as jabuticabas: se posso comprar 2 ou 6 armas, se o Senado pode fazer uma CPI para investigar estados ou municípios, se devemos usar máscaras (que ano é hoje?), se viraremos jacarés depois de tomar vacina, se teremos voto impresso em 2022. Estamos na Idade da Pedra do mundo pós-covid, trancados em casa e condenados a um convívio forçado com o vírus e com Bolsonaro, sem que saibamos qual deles é mais letal para o futuro do Brasil, nem sequer que futuro será esse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário