Na
vida adulta, geração que chega aos 30 só viu país empobrecer e se barbarizar
As projeções
de crescimento da economia para o ano que vem começam a cair para a
casa do 1%. É apenas chute vagamente informado, mas essa bola deve cair mesmo
no pântano em que vivemos faz tempo. Em 2022, bicentenário da Independência,
serão nove anos de pobreza piorada. Ainda estaremos colonizados pelos nossos
piores monstros.
Imagine-se
uma brasileira que teve a boa sorte de terminar a faculdade no último ano antes
da catástrofe, em 2013, nos seus 21 anos. “Boa sorte” porque apenas 1 de cada 4
jovens de 18 a 24 anos está no ensino superior ou concluiu este curso. Há quem
tenha largado a escola muito antes e terá vida pior. No ano que vem, essa
brasileira fará 30 anos. Terá passado a primeira parte de sua vida adulta em um
país em destruição. É apenas um símbolo de uma catástrofe duradoura, uma de
várias gerações perdidas.
No
ano que vem, o país ainda será mais pobre do que era em 2013: a renda
(PIB) per capita deve ser ainda 7,5% menor. Pelas estimativas atuais,
voltaremos a 2013 apenas em 2027. Mas chute econômico não é destino. Assistir
bestificado à presente destruição vai nos garantir futuro tenebroso.
Mal ou bem, países do centro do mundo planejam a reconstrução depois da epidemia. São grandes projetos de economia verde e pesquisa científica e tecnológica, como biotecnologia e inteligência artificial.
Qual
o lugar do Brasil nesse futuro? Uma zona de catástrofe ambiental e sanitária,
talvez por isso objeto de sanções econômicas e políticas.
Nossos
produtos industriais logo serão ainda mais obsoletos em termos tecnológicos e
ambientais. Talvez não queiram também nossos grãos, ferro e petróleo, por
prevenção ambiental ou porque a China passou a plantar soja na África ou porque
o país é infecto ou avilta o trabalhador. Com o troco que nos sobrar,
compraremos produtos “verdes” ou máquinas inteligentes reais e virtuais etc.
inventados com pesquisa subsidiada no mundo rico.
O
plano Bolsonaro é o avesso podre dos planos de reconstrução: é devastação
ambiental e da Educação, sob mando de um adepto do espancamento de
crianças. São tempos de dr. Jairinho e
dr. Jairzinho.
Desmontam-se
agências e a participação democrática nos conselhos de Estado, avilta-se ou se
assedia o corpo técnico de servidores, perseguem-se professores, acelera-se a
destruição da pesquisa científica. Capangas oficiais e paramilitares, milícias,
talvez colaborem para a implantação de um autoritarismo temperado por
farisaísmo, fundamentalismo religioso, patriotada militaresca e ignorância
lunática.
Nos
acostumamos aos quase nove anos de catástrofe econômica assim como nos
acostumamos agora aos 3
mil mortos por dia ou aos crimes
de responsabilidade semanais de Jair Bolsonaro. Resta força apenas
para combater o regresso autoritário. O Brasil se acostumou a não ter futuro.
É
pior do que nos anos perdidos para o horror social e a inflação dos 1980/90.
Então se tentava reconstruir um país: Constituição, estabilidade econômica,
alguns direitos sociais.
Ainda
assim, nossos desastres vêm de longe, pelo menos desde a recessão que começou
em 1981, desatino final da ditadura militar. Desde então até 2019, o PIB per
capita do Brasil cresceu 36%. O dos países já ricos (OCDE), 85%. O do mundo,
75%. É o aspecto econômico de um fracasso longo e maior. A diferença agora é
que morreu ou está para morrer, sem UTI, a ideia de sucesso ou de progresso.
“Não Verás País Nenhum”, dizia o título do romance presciente de Ignácio de Loyola Brandão (aliás de 1981). Tratava de um Brasil em que a Amazônia se tornou um deserto, em que São Paulo fede a cadáveres e em que militecnos comandam um governo autoritário.
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