Mudança
abre caminho distrações que podem acabar poupando Bolsonaro na pandemia
A
missão número um de Jair Bolsonaro era
"mudar o objetivo" da CPI da Covid. Com a ajuda do Congresso, o
presidente conseguiu. O Senado ampliou o foco da investigação e incluiu o
dinheiro federal repassado aos estados. De quebra, parlamentares começaram a
criar empecilhos para a realização das sessões. Na prática, cresceram as
chances de a comissão não dar em nada.
Bolsonaristas
já trabalham para que a CPI só exista no papel. O líder do governo no
Congresso, Eduardo Gomes (MDB), quer que o colegiado só se reúna depois que a
vacinação avançar. Ele espera ter o apoio do presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco (DEM), que era contra o funcionamento da comissão agora.
Se não for possível segurar o andamento dos trabalhos, a base governista tem outras saídas. A decisão de transformar a CPI numa investigação abrangente, como pediu Bolsonaro, abre caminho para manobras diversionistas que podem acabar poupando o presidente.
Com
a ampliação de escopo, a comissão passa a incluir as ações de estados e
municípios “no trato com a coisa pública” durante a pandemia. Isso significa
que a CPI pode investigar praticamente qualquer despesa com verba federal em
qualquer lugar do Brasil. É o suficiente para distrair senadores que não
estiverem interessados em investigar Bolsonaro.
Os
integrantes da CPI também ganham poder para mirar adversários políticos e
desafetos. Aliados de Bolsonaro estão de olho em rivais do presidente nos
estados, enquanto outros senadores, interessados em concorrer a governos
estaduais em 2022, querem aproveitar para desgastar concorrentes locais. O
Planalto deve se beneficiar da confusão.
A blindagem de Bolsonaro vai depender do comportamento dos 11 titulares da CPI. O governo não conseguiu escalar uma tropa de choque fiel, mas a comissão terá uma minoria de oposicionistas convictos e uma maioria de senadores do centrão ou de partidos sem alinhamento político claro. O Planalto tem muito a oferecer para esse grupo.
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