O
culpado por esta crise política e institucional tem nome e sobrenome: Rodrigo
Pacheco
O
essencial é que a pandemia seja investigada. Que os erros de gestão sejam
expostos, por mais que diluídos nas tentativas de tumultuar o ambiente.
Impossível escapar de acusações. As feitas ao presidente Jair
Bolsonaro, no fundo, se resumem a apenas uma: a negação. O
presidente contestou a existência da covid-19 e
as mais elementares formas de combatê-la, como o isolamento e as vacinas.
Quando não foi omisso, foi equivocado.
Já
o presidente do Senado,
que teve à mão uma forma eficaz de intervir e mudar os rumos da catástrofe, imaginou
que poderia aplicar um sofisma parlamentar. Como dependia da sua assinatura a
instalação da CPI, tentou postergá-la. Exercitou o golpe de Pilatos e lavou as
mãos. Um passo em falso nas cenas iniciais da sua liderança de um dos poderes
da República.
Obrigado a cumprir o dever por decisão judicial, acabou por perder o controle da situação.
A
experiência das CPIs mostra que, mais do que as investigações, as denúncias
ganham dimensões de provas.
Por isso, haja o que houver, e mesmo que Bolsonaro tenha conseguido truncar a CPI, o culpado por esta crise política e institucional tem nome, sobrenome e endereço: o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado. Ele vislumbrou dominar o processo com silêncios e retardamentos.
Definido
por seu público como um político tático e tendo surgido no Senado como uma
novidade bem-vinda ao jogo parlamentar, parecia uma espécie de ressurreição dos
políticos mineiros que fizeram história. É curto o caminho percorrido, mas
Rodrigo Pacheco, até agora, está frustrando estas expectativas.
Os
argumentos que mobilizou para não instalar a CPI são superficiais e às vezes
parecem sobrenaturais, porque tomam distância da realidade.
Estreante,
o senador Pacheco desprezou mais de 30 assinaturas de senadores de diferentes
partidos e ideologias. Apegou-se ao argumento, depois capturado pelo governo,
que a CPI não podia funcionar por meio virtual. Hoje, no planeta, da assembleia
de condomínio ao programa de auditório, sem falar no plenário dos tribunais, as
sessões realizam-se remotamente.
Outro
dos problemas mencionados seria a impossibilidade de dar segurança às
testemunhas. Por quê? O presidente e o relator podem acompanhar a testemunha
numa reunião, enquanto os inquiridores trabalham de outras latitudes. Surgiu
ainda a alegação estapafúrdia, logo incorporada por representantes do
investigado, de que a CPI da Pandemia, se realizada durante a pandemia, seria
um ato político e atrapalharia o enfrentamento da doença. E para completar
recorreu ao lugar-comum: a CPI seria um “ponto fora da curva”. Qual é a curva?
Enquanto
fugia de suas atribuições constitucionais, o senador Pacheco não se recusava a
tentar desempenhar competências do Executivo, buscando formas de comprar
vacinas e toda sorte de providências que não tinha condições legais de assinar.
Perda de tempo. Até aceitou liderar um comitê decorativo, criado por Bolsonaro
para envolver suas responsabilidades numa cortina de fumaça.
O
fato de o destemido Jair Bolsonaro estar com medo de ser investigado é até um
bom sinal. Poderia significar que tem consciência dos atos perversos que
praticou na gestão da pandemia. Já o presidente do Senado poderia ter evitado a
crise e baixado a temperatura de mil formas. Quem sabe, se tivesse instalado a
CPI quando foi proposta, por exemplo, não saberíamos hoje as verdadeiras razões
das quatro mudanças de ministros da Saúde neste governo, em menos de um ano.
Ao submeter-se ao capricho do presidente, o senador Pacheco talvez não tenha percebido que a grife da presidência do Senado só é desfrutável quando se está no exercício do cargo. Quem se lembra hoje do senador Davi Alcolumbre?
Nenhum comentário:
Postar um comentário