O Estado de S. Paulo
Desnorteado pelos casos Covaxin e Salles,
Bolsonaro ataca as máscaras
É ou não é espantoso o presidente da
República mandar uma menininha retirar a máscara durante um evento no Rio
Grande do Norte? Enquanto no mundo inteiro presidentes e primeiros-ministros
usam, estimulam e em alguns casos impõem o uso das máscaras, o sr. Jair Bolsonaro faz justamente o
oposto no Brasil, onde 505 mil brasileiros já morreram de covid e a pandemia
continua inclemente.
Como toda manhã, o presidente acordou e se perguntou: como vou irritar o povo brasileiro hoje? Criativo ele é, seu estoque não acaba nunca, vai de helicópteros, jet-skis e motos até as frases mais chocantes a favor do coronavírus e contra tudo o que a ciência prega. Com a CPI da Covid, a queda nas pesquisas, a história cabeluda da Covaxin e os processos contra o agora ex-ministro Ricardo Salles, ele fica ainda mais impossível.
Bolsonaro atacou a Coronavac do Butantan e desprezou a Pfizer, uma empresa sólida, mas seu governo saiu em desabalada carreira para comprar a desconhecida Covaxin, a mais cara de todas, apresentada por um atravessador de má fama, de uma empresa que responde a processo. Mais: além de não ter sido aprovada, a vacina indiana foi criticada pela Anvisa. Então, por que não a Pfizer e a Coronavac e por que sim a Covaxin?
Nada faz sentido e tudo isso caiu no colo
do presidente Bolsonaro quando o deputado Luis Miranda e seu irmão, Luis
Ricardo Miranda, que atua na área de importações do Ministério da Saúde, foram
ao Palácio da Alvorada, em pleno sábado, fora da agenda, levando a história
toda da pressa e da pressão, com documentos. Bolsonaro disse que enviaria o caso à PF, mas nada fez.
Nem faria.
Agora, quando a bomba explode, em vez de,
enfim, abrir um inquérito interno para averiguar quem, como e por que promoveu
essa relação esdrúxula com a Covaxin, o presidente manda investigar quem foi
alertá-lo. Como efeito colateral, o general da ativa Eduardo Pazuello e sua
tropa de coronéis da Saúde ficam numa situação ainda mais desconfortável e
esgarçam a bandeira anticorrupção de Bolsonaro.
Pazuello é considerado o pior ministro da
Saúde da história, Ernesto Araújo, o pior chanceler da história, Abraham
Weintraub, o pior ministro da Educação da história, Roberto Alvim, o pior
secretário da Cultura da história e Ricardo Salles, o pior ministro do Meio
Ambiente da história. Uma coleção espantosa, que ajudou firmemente Bolsonaro a
levar o Brasil ao pódio de pária internacional.
Todos eles foram os homens errados, no
lugar errado, na hora errada, mas nenhum desses jabutis subiu sozinho na
árvore. Foram colocados lá por Bolsonaro para fazer o que fizeram e não
pouparam esforços para atender a tudo o que seu mestre mandasse, dentro da
máxima de que um manda, todos obedecem cegamente.
Eles caíram, um a um, mas o estrago já está
feito, a recuperação é lenta, difícil de ser observada a olho nu, e a conta
continua chegando. Pazuello vai empilhando casos, Manaus, testes, vacinas,
isolamento, máscaras, cloroquina e, agora, essa história muito mal contada da
Covaxin. E Ricardo Salles, já condenado em São Paulo, enfrenta dois processos
no Supremo que devem cair para a primeira instância, mas ainda assombrando o
agora ex-ministro.
Uma coisa é incompetência, despreparo,
arrogância, e outra é, no caso de Pazuello, estar no centro de suspeitas por
uma vacina esquisitona, num processo esquisitão. E, no caso de Salles, sofrer
inquérito por fazer o diametralmente oposto ao que se espera de um ministro do
Meio Ambiente: em vez de defender a Amazônia, aliar-se a destruidores da
Amazônia.
Perguntei ao vice-presidente Hamilton Mourão o que ele acha da demissão de Ricardo Salles e ele foi fino e irônico: “Como dizem os castelhanos, se fue”. Em bom português, já foi tarde!
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