Folha de S. Paulo
Crise política piora, mas atores decisivos
estão com Bolsonaro ou se omitem
A política nas próximas semanas deve ser
agitada. Haverá uma ofensiva da oposição mais à esquerda, com alguns agregados
acidentais. O bunker do governo está em desarranjo por causa da CPI e
de outros problemas com a Justiça.
A popularidade de Jair Bolsonaro parece se
arrastar pela mínima de 23%, segundo pesquisa Ipec (o pessoal que fazia
pesquisa de opinião para o Ibope). Ainda nesse quase mês adiante, o governo
promete uma contraofensiva, com agrados sociais e fiscais.
Pode tudo se resumir a mais uma opereta de
horror político, condizente, portanto, com os tempos bolsonarianos, mas que não
vai a lugar algum.
Um ator decisivo dessa peça, o centrão comandado por Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, está em outra, assim como o grosso da Câmara. A esquerda, acusada de amaciar o impeachment de Bolsonaro, está quase sozinha nessa ofensiva e nas manifestações de rua. A terceira via, ou quase tudo que possa encalhar nessa terceira margem do rio, faz corpo mole ou cara de paisagem.
Partidos que têm cerca de 25% das cadeiras
da Câmara dos Deputados e movimentos sociais apresentam no dia 30 de junho
o superpedido
de impeachment de Bolsonaro.
São a oposição, a minoria e estão à esquerda (PDT e o Cidadania estão no
grupo). Para o 24 de julho está
marcada outra manifestação contra Bolsonaro, quase toda conduzida pela
esquerda, largada por outros grupos e partidos que quereriam se livrar de
Bolsonaro.
Lira, o premiê de Bolsonaro, toca o
programa que o levou a presidir a Câmara. Acaba de conduzir a avacalhação
da Lei
de Improbidade e da Lei
da Ficha Limpa. No mais, toca as reformas, algumas lavadas em água de
centrão, como essa aberração da lei da venda da Eletrobras. Apoia o ataque à
lei eleitoral, ou coisa pior, o que ocorre nas frentes do voto impresso, do
código eleitoral e da reforma política, que são misturas de agrados ao baixo
clero e a partidos negocistas com apoio a ataques bolsonaristas à segurança do
voto.
A ofensiva da oposição à esquerda pode
fazer barulho, com alguma ajuda do sururu da CPI. A história da Covaxin pode
dar em nada, mas causa desgaste. Há mais e mais bolsonaristas com problemas na
polícia. Parte dos meios de comunicação bate mais em Bolsonaro. Etc.
O grosso do Congresso, porém, está
interessado no programa baixo clero de Lira e em arrancar ainda mais favores de
um Bolsonaro ora acuado. Partidos e movimentos sociais da terceira via parecem
incapazes ou tolhidos pela possibilidade de favorecer ainda mais a candidatura
de Lula da Silva. Em geral, são aqueles que fizeram campanha para derrubar
Dilma Rousseff e não estão ou não estão mais com Bolsonaro.
O governo promete as bondades sabidas para
salvar ou recuperar parte da base. Vem aí, como diz Paulo Guedes, uma redução
do Imposto de Renda (para ricos inclusive), assistência
social com restos do Bolsa Família, o Minha
Casa Minha Vida Militar ou o subsídio para empresas empregarem jovens
estagiários. Dada a competência habitual do governo, pode demorar a sair ou a
fazer efeito maior. Mas pode vir aí.
Além do mais, é possível, mas não certo,
que a despiora da economia e o avanço mais rápido da vacinação desanuviem o
clima para o governo. Não se sabe. Depende muito também de política.
O fato principal, por ora, é que a oposição
à esquerda e alguns agregados estão isolados, por omissão das elites que
escreveram tantas cartas de repúdio e pela adesão do grosso da Câmara ao
lirismo de Lira e pela oportunidade de arrancar dinheiros e favores de
Bolsonaro.
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