Folha de S. Paulo
Uma simples palavra começa a desafiar o seu
quociente de macheza ---corrupção
Um dia, quando se escrever a história do
Brasil à luz da macheza de alguns presidentes, será instrutivo ler a respeito
de, entre outros, Floriano Peixoto, Arthur Bernardes, Getulio Vargas, João
Batista Figueiredo, Fernando Collor e Jair Bolsonaro. Alguns, como Floriano,
Figueiredo e Collor, eram grosseiros, cafajestes. Outros, como Bernardes e
Getulio, falavam macio para esconder a crueldade. Todos, um dia, bateram o pau
na mesa presidencial. E todos ficaram mal na história.
Mas nenhum tão primário, estúpido e cruel quanto Bolsonaro. Seu estilo de governar às bofetadas, inspirado em Átila, Vlad Dracul e Mussolini, já é um marco na história da boçalidade. Ninguém, em tão pouco tempo, desrespeitou tanto uma nação e seu governo, suas instituições e sua dignidade. Ninguém nos reduziu tão bem a um país de merda —ou, segundo o próprio Bolsonaro, de maricas, idiotas e otários.
Ninguém rebaixou tanto o Brasil aos olhos
internacionais. Ninguém tornou tão difícil ser brasileiro em terras
estrangeiras, por ter de responder por um país que não reconhecemos nem é mais
nosso. Ninguém nos tornou tão irreconhecíveis aos nossos próprios olhos —a cada
dia que o deixamos no poder, nos acanalhamos como povo. E ninguém levou tantos
de nós à morte, de maneira tão consciente e premeditada, contando com a nossa
omissão e insensibilidade.
Jair Bolsonaro faz tudo isto cercando-se de
capangas de bíceps e pescoços ameaçadores, peritos em armas de fogo, oriundos
dos quartéis, academias e esgotos, muitos cavalgando motocicletas.
Ele próprio é um centauro a motor, metade cavalo e a outra metade também. Se
alguém o desafia, os políticos a seu soldo se juntam e partem para a
intimidação. Mas a terra treme sob ele a uma palavra —corrupção.
É a hora. A partir de agora, diante das
denúncias que começam a vir à tona, é que saberemos o seu quociente de macheza.
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