Estas 12 Fundações promoveram dois importantes eventos: “Política
ambiental brasileira e os desafios da sustentabilidade”, com a participação dos
ex-ministros do Meio Ambiente Carlos Minc, Edson Duarte, Izabella Teixeira,
José Carlos Carvalho, José Goldenberg, Marina Silva, Rubens Ricupero e Sarney
Filho, sob a mediação da jornalista
Daniela Chiaretti e a participação especial da cantora Carla Visi; “Crise
climática e a Amazônia brasileira”, com a participação de Ricardo Galvão,
Adriana Ramos, Thelma Krug e Suely Araújo, com a mediação da jornalista Giovana
Girardi e a participação especial da cantora Carla Visi (ver os portais e redes
sociais das Fundações e do Observatório da Democracia sobre os referidos
eventos).
Ainda um fato a ser destacado: desde o início dos trabalhos, estas Fundações estão comprometidas em construir uma proposta programática a favor de um Brasil Sustentável, a ser entregue às candidaturas do campo democrático que irão disputar o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais, em 2022, em prol de um Brasil com inclusão social, no caminho de uma economia de baixo carbono, preservando a natureza, a diversidade cultural e espiritual da sociedade brasileira.
O primeiro evento da Semana de Meio Ambiente, realizado
no dia 31 de maio, com a participação já mencionada de 8 ex-ministros(as) de
meio ambiente, atingiu plenamente seus objetivos ao discutir sobre o histórico
recente e a realidade atual da Política Ambiental brasileira. Fez uma análise
crítica do Governo Bolsonaro, apontando de uma maneira contundente os
retrocessos da Política Ambiental e seus reflexos sociais, econômicos e
ambientais. Destacou o retrocesso político-institucional e o desmonte, em curso,
do Sistema Nacional de Meio Ambiente, atacando as conquistas da Constituição de
1988, criando impedimentos e constrangimentos no processo de participação da
sociedade brasileira, através de suas representações, no Sistema Nacional de
Meio Ambiente, com reflexos negativos e preocupantes em todas as esferas do
próprio Governo Federal, governos estaduais e municipais; inviabilizando a
participação efetiva da sociedade civil e da comunidade científica; excluindo
importantes lideranças nacionais e regionais, no processo de construção,
avaliação e implementação da Política Ambiental brasileira, um dos instrumentos
fundamentais no processo de construção da sustentabilidade no Brasil.
Os resultados obtidos na Semana de Meio Ambiente, a
partir do trabalho destas Fundações, são animadores e apontam caminhos para a
continuidade de um Programa de trabalho a ser realizado entre estas Fundações,
o Observatório da Democracia e outras representações democráticas da sociedade
brasileira que podem se agregar a esta mobilização até às eleições
presidenciais em 2022.
Os desafios da Sustentabilidade
Foi unanimidade, entre os convidados destes dois eventos,
a necessidade de continuar e ampliar o trabalho ora desenvolvido por estas
Fundações, no sentido não apenas de construção de uma proposta para a campanha
presidencial de 2022, como também a necessidade de colaborar, de maneira
permanente, com as forças políticas democráticas que enfrentam o Governo
Bolsonaro frente ao desmonte institucional em curso, atingindo as conquistas
sociais alcançadas desde a Constituição de 1988.
Neste contexto, questões mais amplas e estratégicas devem
ser consideradas a favor de um Brasil Sustentável: a situação das florestas, do
litoral atlântico e bacias hidrográficas; a qualidade e os usos múltiplos da
água e de outras fontes de geração de energia, particularmente as energias
renováveis e as políticas agrícola e industrial em andamento, fundamentais para
a vida e a sustentabilidade econômica, social e ambiental brasileira e de uma
parte significativa da população mundial, dependente das exportações nacionais
de papel e celulose, de minérios e de alimentos, entre outras.
A pandemia no Brasil, já no seu segundo ano, deu maior
visibilidade à tragédia social, econômica e ambiental brasileira, demonstrando
a ineficiência de funcionamento do Estado, agravada com o isolamento social, a
crise política e de valores vivida no dia a dia da sociedade brasileira. Assim,
frente a essa realidade, a Federação, a partir de Brasília, não consegue
atender às expectativas sociais e econômicas da população, excluída dos seus
direitos básicos constitucionais, a saber: trabalho, moradia, segurança
pública, saúde e educação.
Portanto, os desafios do presente e do futuro imediato, a
favor de um Brasil Sustentável, é o de reverter a triste e desoladora realidade
de mais da metade da população brasileira sem acesso às conquistas sociais
modernas nas áreas de moradia, trabalho e renda, saúde, saneamento básico e
educação, como compromissos permanentes
do Estado, da cidadania e de toda a sociedade brasileira.
Urge identificar as razões e fundamentos desta crise
permanente vivida pela sociedade brasileira, historicamente e atualmente. Qual
o papel dos governos, do mercado e da sociedade civil no enfrentamento de tais
crises permanentes, desnudadas com a pandemia da covid?
Fundamentalmente, a questão da sustentabilidade
econômica, social e ambiental deve nortear e dimensionar uma alternativa
democrática e reformista para o Brasil. Há que se discutir a questão da
sustentabilidade brasileira associada às mudanças necessárias no caminho de um
novo pacto político, econômico e social entre os governos federal, estaduais e
municipais, e envolvendo toda a sociedade brasileira.
A crise que estamos vivendo hoje no País reflete um
conjunto de distorções, disfuncionalidades e limites históricos e atuais das
estruturas político-administrativas que são responsáveis pela formulação e
implementação das políticas públicas municipais, estaduais e federal. Esta
crise permanente pode ser resumida na insuficiência de receita, na falta de
visibilidade em relação às decisões sobre despesas e investimentos, na
insuficiência de recursos técnico-administrativos e, ainda, na falta de
participação da cidadania na política e na gestão pública, nas diversas esferas
da administração governamental e nas suas relações mais amplas com a sociedade
brasileira.
Neste contexto, urge realizar as reformas política, administrativa
e tributária na área federal, que não mudem apenas os critérios de
redistribuição de recursos entre as três esferas da República, melhorando a
situação atual da maioria dos Municípios, como também garantindo aos Estados e
à União recursos que viabilizem a implementação de políticas públicas,
particularmente nas áreas de educação, saúde e saneamento básico, criando as
condições nacionais para o enfrentamento da difícil realidade econômica e
social da maioria dos Municípios e Estados brasileiros apontando para esta
almejada perspectiva sustentável.
A questão democrática aqui se coloca de maneira contundente.
A sociedade civil e a cidadania estão desafiadas a construir relações de maior
autonomia frente ao Estado e ao Mercado, cujo funcionamento no Brasil não
atende às demandas históricas e atuais da maioria da população. São os nossos
dilemas permanentes a serem superados para a ampliação da democracia
brasileira, com a inclusão desta maioria excluída da população às conquistas
sociais modernas nas áreas de educação, moradia, saúde, segurança, mobilidade e
trabalho, condições elementares para a dignidade da vida social.
Assim, a alternativa democrática e reformista, a ser
construída, deve buscar, de maneira permanente, o diálogo entre as
representações do Estado, do Mercado e da Sociedade Civil, fundamentos das
sustentabilidades política, econômica, social e ambiental almejadas para a
sociedade brasileira. A possibilidade de construção de um Brasil Sustentável
está relacionada a uma proposta construída por toda a sociedade, apontando
cenários e caminhos a serem perseguidos, considerando os objetivos econômicos,
sociais e ambientais, a curto, médio e longo prazos .
Finalmente, a sustentabilidade é um processo em
construção em cooperação e/ou em conflito entre os interesses do Estado, do
Mercado e da Sociedade Civil, com a necessária participação permanente da
Cidadania, construindo novas relações entre a Sociedade e a Natureza. Uma
política de sustentabilidade deve ser parte integrante de uma visão mais ampla
do que é o Brasil atual e o Brasil que queremos ter nos próximos 5, 10, 20 e 30
anos, nas relações a serem estabelecidas entre a própria sociedade brasileira e
com o mundo em que vivemos. São os desafios históricos que continuam atuais.
Seremos capazes?
*Professor, Doutor, da UFBA e do Instituto Politécnico da Bahia
Um comentário:
Caro George, dadas as dimensões do colapso sósócioambiental,sua dinâmica e aceleração,somente uma revolução democrática radical poderia por cobro aos processos e garantir sua reversão no médio prazo. Acresce ser a burguesia o agente do caos. Impossível reeducá-la, muito menos em tempo histórico viável.
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