- Revista IstoÈ
No que me concerne, prefiro seguir o
conselho do marechal De Gaulle: “D’abord, la politique”. Olhar primeiro a
política
Se cada brasileiro tivesse no cérebro um espelho retrovisor, em dez minutos compreenderia por que temos tido um desempenho tão medíocre na promoção do crescimento econômico e do bem-estar. E por que vamos continuar falhando ainda por muito tempo.
Na economia, nada fizemos para erradicar a
estrutura patrimonialista, vale dizer, o super-Estado burocrático que asfixia o
setor privado. Na tecnologia, conseguimos fazer alguma coisa numas poucas
empresas, como a Embraer; na educação, somos uma catástrofe. Se nossa renda per
capita continuar crescendo à medíocre taxa de dois por ano, levaremos mais de
uma geração para atingir o nível da Grécia ou Portugal. Nada a comemorar.
No que me concerne, prefiro seguir o
conselho do marechal De Gaulle: “D’abord, la politique”. Olhar primeiro a
política. Como o resto da América Latina, nos mantemos aferrados à mitologia do
presidencialismo populista. O “salvador da pátria”.
O super-homem que encarna os anseios do
povo. Que assegura a estabilidade política e a unidade de ação do Estado.
Insistimos também na crença não menos idiota de que quanto mais partidos,
melhor.
A partir dos anos cinquenta, a lenga-lenga populista continuou produzindo demagogos aos magotes. Juscelino Kubitschek cometeu vários erros, mas pelo menos governou tentando estabelecer um clima de concórdia e civilidade. Depois dele, uma turma para ninguém botar defeito: Jânio Quadros, Leonel Brizola, João Goulart, Adhemar de Barros e sabe Deus quantos mais. Havia populistas municipais, estaduais e federais.
Outra sandice difundida até entre as elites
cultas é a de que os militares, só por serem militares, são mais eficientes na
economia e na manutenção da estabilidade política. No pós-64, o processo
sucessório presidencial sempre foi tumultuado. O marechal Costa e Silva
atrapalhou o projeto do marechal Castello Branco. Falecido Costa e Silva, o
alto comando militar deu um golpe, impedindo a posse do vice civil (o deputado
mineiro Pedro Aleixo) e emplacando o general Emílio Garrastazu Médici.
Ernesto Geisel assumiu a presidência sem maiores problemas — até porque o líder das Forças Armadas era seu irmão Orlando Geisel — mas em 1978 esteve perto de ser por sua vez golpeado pelo general Sylvio Frota. Naquele sistema já em adiantado estado de decomposição, Ernesto Geisel conseguiu emplacar o general João Baptista de Figueiredo, que nos legou a “década perdida” dos anos 80 e uma inflação apontando para a vertical.
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