- Folha de S. Paulo
Sars-Cov-2 poderá afetar bebês que ainda
nem nasceram
A pandemia
ainda não acabou, mas já estamos inventariando seus danos. É um exercício
necessário para que possamos bolar as estratégias de mitigação quando
possíveis.
Os buracos se espalham por todos os lados.
Um estudo do Insper, por exemplo, estima perdas de até R$ 1,5 trilhão pelo que
os alunos do ensino básico deixaram de aprender nestes meses sem aulas
presenciais.
Temos ainda o impacto das vidas perdidas, que são irrecuperáveis, do desemprego (quanto mais tempo o trabalhador passa afastado do mercado de trabalho, mais difícil é voltar a ele), da perda de renda, que pode significar fome nas famílias mais pobres, e das sequelas da doença entre sobreviventes. Isso para citar apenas alguns dos mais óbvios.
Há, também, os impactos não óbvios. O
destaque aí vai para a exposição intrauterina ao Sars-CoV-2. Muitos desses
bebês ainda nem nasceram, mas há motivos para temer que o vírus irá afetá-los.
O precedente é a pandemia de gripe espanhola.
Trabalhos feitos principalmente a partir
dos anos 2000 mostram que as crianças que nasceram durante a pior emergência
sanitária do século passado ou logo depois sofreram uma série de efeitos
deletérios, alguns dos quais só se manifestaram após décadas.
Um estudo taiwanês mostrou que essas
crianças eram mais baixas do que as de coortes adjacentes e tiveram o estirão
da puberdade retardado. Um trabalho americano detectou entre os bebês expostos
um aumento de 20% na incidência de doenças cardíacas isquêmicas 60 anos depois.
Há também pesquisas que revelam prejuízos no desempenho educacional e na renda
dessas coortes. Achados semelhantes foram feitos no Brasil e na Suécia.
Não sabemos se isso vai se repetir com a
Covid-19. Os coronavírus parecem ser menos perigosos do que a influenza para os
pequenos, mas não será uma surpresa se houver efeitos negativos.
A pandemia deixa atrás de si uma tragédia
com múltiplas facetas.
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