- O Estado de S. Paulo
Para ministros do Supremo Tribunal Federal,
o general Braga Netto, como Eduardo Pazuello, articula fazendo tudo que Jair
Bolsonaro quer.
Apolitização dos quartéis, misturada à
campanha presidencial antecipada, serviu para acender o sinal amarelo no
Supremo Tribunal Federal (STF). A preocupação ganhou novos contornos com a
absolvição do general Eduardo Pazuello pelo comando do Exército, agravada pela
falta de interlocução com o ministro da Defesa, Braga Netto. Na avaliação de
magistrados, Braga Netto virou “um novo Pazuello” e já demonstrou ter assumido
perfil político para fazer tudo o que o presidente Jair Bolsonaro quer. Custe o
que custar.
Com expressivas manifestações de rua contra
Bolsonaro, juízes temem novo ataque às instituições, desta vez por parte dos
fardados, com ameaças de insubordinação de soldados, cabos e sargentos do Exército.
Em conversas reservadas, ministros do Supremo observam que a violência e o
abuso praticados por policiais militares, como se viu nos últimos dias em
Pernambuco, Goiás e no interior de São Paulo, também parecem fazer parte de um
perigoso movimento da militância armada, em defesa da reeleição de Bolsonaro.
É exatamente aí que os caminhos de Braga
Netto e Pazuello se cruzam. Bolsonaro pressionou o comandante do Exército,
Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, para não punir o ex-ministro da Saúde, que
no último dia 23 participou de um ato político, no Rio, apesar de ser general
da ativa. Incentivado pelo presidente, que quer vê-lo candidato a governador ou
até mesmo a deputado federal, em 2022, Pazuello discursou animadamente em cima
de um palanque de trio elétrico.
Braga Netto nada falou sobre a transgressão disciplinar, hoje arquivada, ao contrário do vice Hamilton Mourão, que chegou a defender uma repreensão a Pazuello. À frente da operação apelidada ironicamente por aliados do Palácio do Planalto como “Fica na sua, meu Exército”, Bolsonaro ainda nomeou o ex-ministro da Saúde, nesta semana, para a chefia da Secretaria de Estudos Estratégicos da Presidência. Foi um prêmio dado a Pazuello, que blindou o presidente no primeiro depoimento à CPI da Covid e agora será blindado pelo governo. O recado de Bolsonaro para o Exército foi um só: “Quem manda sou eu”.
Do outro lado da Praça dos Três Poderes,
porém, integrantes do Supremo concordam com Mourão e dizem agora que a cúpula
do Exército endossou a “anarquia nos quartéis”. A um ano e quatro meses das
eleições de 2022, existe o temor de que um barril de pólvora esteja prestes a
explodir. Motivo: se um general pode desobedecer às ordens, por que os praças
não podem ocupar as ruas em defesa de Bolsonaro? E por que não engrossar
protestos, assembleias sindicais e fazer greve?
Diante do clima de polarização política que tomou conta do País, principalmente após o ex-presidente Lula voltar à cena, e de um governo acuado por um vírus ceifando vidas, a falta de controle da tropa tem potencial para significar novos motins e rebeliões. E, para magistrados, Braga Netto – no figurino de escudeiro número um de Bolsonaro – não tem pulso para segurar essas manifestações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário