Para ex-ministro da Defesa, decisão do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira desonra os últimos comandantes das Forças Armadas
Felipe Frazão / O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O ex-ministro da Defesa Raul Jungmann afirmou nesta
quinta-feira, 3, que o Exército capitulou diante da pressão do presidente Jair Bolsonaro ao não punir um ato de
indisciplina do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello,
general da ativa.
Para Jungmann, a decisão do comandante do
Exército, general Paulo Sérgio
Nogueira de Oliveira, desonra os últimos comandantes das
Forças Armadas e o ex-ministro da Defesa, general Fernando Azevedo. Em atitude inédita,
Bolsonaro demitiu em março os comandantes das três forças e o então ministro da
Defesa, em uma troca atribuída a cobranças por apoio ao governo – ofensiva a
que a antiga cúpula militar teria resistido.
“A capitulação de hoje não honra os ex-comandantes
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica e do ex-ministro da Defesa, que não se
dobraram ao presidente e caíram por respeito à Constituição e à democracia, com
quem as Forças Aramadas permanecem”, disse Jungmann, último ministro civil a
chefiar a Defesa, ainda no governo Michel Temer. “Mas é hora de reagir e
de unidade. Antes que seja tarde.”
Em comunicado oficial, o Exército informou
nesta quinta-feira que o comandante acolheu as alegações de Pazuello e entendeu
que ele não cometeu transgressão disciplinar ao subir em carro de som e
discursar a militantes bolsonaristas, ao lado do presidente no Rio, em 23 de
maio. Pazuello alegou, com respaldo de Bolsonaro, que a manifestação não teve
viés político-partidário. O comandante arquivou o caso, embora a maior parte do
generalato verde-oliva tenha sugerido que Pazuello fosse punido para preservar
a disciplina, ao menos com uma advertência.
Mais tarde, o ex-ministro disse considerar
o arquivamento do processo disciplinar "inaceitável" e afirmou que a
conclusão do caso "favorece a anarquia nos quartéis". Jungmann acusou
Bolsonaro de se associar à quebra da disciplina e da hierarquia, por levar
Pazuello para um palanque político.
"A decisão do Comando do Exército
contraria a lógica. O ex-ministro e general da ativa Eduardo Pazuello
transgrediu o que é a regra de uma instituição de Estado, participando de ato
político induzido pelo comandante-em-chefe, o presidente da República, que
nesse ato se associou à quebra da disciplina e da hierarquia", afirmou
Jungmann, em entrevista à GloboNews.
Para o ex-ministro, o Exército pode ter
sido forçado a tomar essa decisão para evitar uma "crise maior": a substituição
em dois meses do novo comandante do Exército, caso Bolsonaro desautorizasse o
comandante Paulo Sérgio. Jungamann cobrou que o Congresso regulamente a
forma de participação de militares da ativa em cargos de confiança em governos
e que convoque o comandante para cobrar explicações sobre a apuração
disciplinar de Pazuello.
Generais da ativa consultados pela reportagem afirmaram que o Alto Comando tem ciência de que a decisão não foi bem recebida e que gerou desgaste à instituição e desconforto a eles mesmos. Ponderaram, no entanto, que qualquer decisão geraria problemas e que uma eventual a punição a Pazuello representaria por tabela uma reprimenda ao presidente, por causa da presença de Bolsonaro no mesmo palanque.
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