Folha de S. Paulo
Covaxin, risco de apagão, inflação e até o
IR azedam vida do governo, mas dólar cai
Momentos de tumulto político e de
perspectiva de vitória eleitoral da esquerda não raro causam estresse nos povos
dos mercados financeiros. Jair Bolsonaro afunda
em rolos e más notícias variadas, o que por ora favorece Lula da Silva
(PT), pois até agora a “terceira via” não consegue nem ao menos ser o fantasma
dessa opereta. Na pesquisa de opinião mais precisa dos humores dos donos do
dinheiro, no câmbio e nas taxas de juros, não aparece preocupação com esse
cenário político. Pelo menos até agora, antes da vacina com propina.
Para as pessoas que se ocupam de problemas
mais comezinhos, como pagar a conta de luz, causou comoção o novo
preço da bandeira vermelha, embora o impacto direto desse aumento na vida
de cada classe de renda seja muito variado. De qualquer modo, um ministro apareceu
na TV para falar que “é grave a crise” de energia, cada dia tem uma
fumaça de escândalo da Covaxin e até a redução do Imposto de Renda afundou no
vinagre que é o noticiário sobre o governo.
Como se escrevia nestas colunas no domingo, empresas ou endinheirados fariam pressão à boca pequena no Congresso a fim de derrubar o possível aumento de imposto proposto por Paulo Guedes, que nesta terça-feira (29) já deu uma amarelada, sugerindo redução mais rápida do IR. No caso do agronegócio, o protesto é aberto e foi direto ao Planalto.
Há de mau humor a raiva com a mudança nos
impostos. Empresas ou seus acionistas fazem contas e tentam imaginar como podem
escapar das mordidas, nos dividendos
em particular, mas não apenas. Ainda não está claro qual o efeito real,
prático, a “alíquota efetiva”, o imposto que terá mesmo de ser pago caso passe
a alteração proposta pelo governo, o que pode variar, a depender de tamanho e
setor do negócio.
A confusão pode ser maior. O Congresso pode
manter reduções de impostos e amaciar aumentos, “business as usual”, o que pode
redundar até em buracos nas contas públicas e, assim, em risco de vetos
presidenciais. Os parlamentares estão evidentemente inclinados a criar jabutis,
cágados, tartarugas marinhas e outros bichos, vide a votação do Orçamento de
2021 ou aquele papelucho vergonhoso da privatização
da Eletrobras. Não costuma haver coordenação política e segurança sobre o
que a “base” do governo vai fazer dos projetos do Planalto. Dado o rolo da
Covaxin, a desordem aumentou.
A inflação vai
subir mais um tanto com a carestia da eletricidade, embora o grosso do
estrago dos preços já viesse de bem antes. A bandeira vermelha mais cara é a
azeitona podre de um empadão de inflação e de desconfiança da competência do
governo (sim, há quem acredite nisso): não tem ou não teve arroz, carne, vacina
bastante e, agora, pode não ter luz.
Por ora, portanto, não há sinais de alívio
para o governo. No entanto, o povo da finança parece tranquilo, vide câmbio e
juros.
Calmaria na finança internacional, dívida
pública crescendo menos, perspectiva de PIB maior, Banco Central livre
para tocar
o aumento de juros e capital entrando de novo no país podem ser a
combinação de calmantes, o sedativo temporário. Nas explicações alternativas
estariam as hipóteses de que a eleição ainda está longe, de que pode surgir uma
“terceira via”, de que Lula vai perder ou, improvável, de que não faria
diferença se o PT vencesse Bolsonaro.
Por vezes crises políticas são mera espuma, ainda mais se não há “ruas” ou movimentos organizados de partes do sistema de poder com o objetivo de aproveitar o momento ruim do governo. Sim, haverá alguma recuperação de crescimento e da vacinação. Ainda assim, a calmaria na finança é de estranhar
Nenhum comentário:
Postar um comentário