O Estado de S. Paulo
Por ora, permanece o otimismo, mas muita
coisa pode ameaçar o roteiro
Prevalece o otimismo com chegada de mais vacinas, mas muita coisa pode ameaçar o roteiro.
A reabertura das principais economias
mundiais, após o pior da pandemia de covid ter ficado para trás, estava
caminhando para ser o principal tema dos mercados no segundo semestre de 2021,
mas o risco político e a crise hídrica no Brasil e a sinalização da retirada de
estímulos monetários pelo Federal Reserve (Fed) nos Estados Unidos devem
dividir a atenção dos investidores domésticos e ameaçar o crescente otimismo.
Nos EUA e na Europa, o avanço da vacinação
contra a covid resultou numa acentuada queda de novos casos e mortes, o que
permitiu um relaxamento quase total das regras de distanciamento social. Nos
EUA, os indicadores de atividade econômica já vinham antecipando uma
recuperação mais forte desde o primeiro trimestre.
Nas últimas semanas, o mercado também
passou a revisar para cima as projeções de crescimento do PIB da zona do euro
neste ano, à medida que vários países do bloco começaram a reabrir suas
economias, em especial o setor de serviços, incluindo o de turismo, um dos mais
afetados pela pandemia.
No Brasil, a imunização finalmente começa a
ganhar maior ritmo. A média móvel de sete dias da vacinação com a primeira dose
contra covid atingiu 1.426.813 na segunda-feira. Há sete dias, essa média era
de 1.242.303 e, há 30 dias, de apenas 472.971.
As projeções de crescimento do PIB brasileiro para 2021 vêm melhorando há dez semanas e agora apontam para uma expansão de 5,05%, conforme a mais recente pesquisa Focus. Há quatro semanas, as estimativas dos analistas eram de um crescimento de 3,96%.
O grande salto aconteceu depois da
divulgação, pelo IBGE, do PIB do primeiro trimestre deste ano, cujo crescimento
de 1,2% superou com folga a previsão do mercado, de alta de 0,7%. É que a
segunda onda da pandemia teve um impacto menor do que o esperado sobre a atividade
econômica.
Do lado externo, a maior ameaça ao
desempenho dos países emergentes, incluindo o Brasil, no segundo semestre vem
da possibilidade de o Fed antecipar o processo de retirada de estímulos
monetários, o chamado “tapering”. Isso poderia, por exemplo, reduzir os fluxos
de recursos para países emergentes.
Na sua última reunião de política
monetária, a maioria dos diretores do Fed passou a projetar a primeira alta da
taxa básica dos juros americanos em 2023. Antes, a maioria esperava que a taxa
básica permanecesse inalterada pelo menos até 2024.
Essa sinalização mais dura do Fed foi, em
parte, uma reação à forte aceleração da inflação americana. Em maio, a taxa
anual do índice de preços ao consumidor nos EUA atingiu 5,0%, o maior avanço
desde agosto de 2008. A preocupação é se esse repique inflacionário será
temporário ou não.
Para o diretor de investimentos e fundador
da gestora ACE Capital, Fabrício Taschetto, o pico da inflação americana ficou
para trás e, com isso, o Fed não será tão agressivo na retirada dos estímulos
monetários. “Com números mais comedidos da inflação, o Fed vai ganhar mais
tempo e vai jogar o processo do ‘tapering’ para o início do ano que vem”, diz
Taschetto. “Isso vai gerar um superotimismo em todos os mercados e, em especial,
os emergentes.”
A alta da inflação, aliás, será um tema
importante para o mercado e também para o Banco Central brasileiro,
principalmente depois que a crise hídrica forçou o acionamento das usinas
termoelétricas, cujo custo de geração de energia é mais elevado.
A bandeira vermelha patamar 2, a mais cara
do sistema, passará a vigorar também em julho, pelo segundo mês consecutivo e
com reajuste maior da sua tarifa. Com isso, muitos analistas passaram a embutir
uma contribuição maior da energia na inflação de julho. Para 2021, a projeção
de inflação já está em 5,97%.
Mas a crise hídrica não é o único fator que pode limitar o otimismo com a retomada da economia brasileira na segunda metade do ano: a repercussão da CPI da Covid no Senado, diante das acusações envolvendo diretamente o presidente Jair Bolsonaro na compra da vacina indiana Covaxin, promete agitar ainda mais um ambiente político instável em meio à corrida para a eleição presidencial de 2022. Por enquanto, prevalece o otimismo com a chegada de mais vacinas e a perspectiva de retomada econômica no segundo semestre. Mas muita coisa pode ameaçar esse roteiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário