Folha de S. Paulo
Fantasma da corrupção representa pressão
dupla sobre Bolsonaro
O governo jogou todas as fichas na
blindagem de Jair Bolsonaro. Pela manhã, senadores aliados disseram na CPI que
o presidente havia pedido em março uma apuração sobre a compra da Covaxin.
Segundo eles, o Ministério da Saúde não encontrou nada de errado. Mais tarde,
porém, a própria pasta informou que vai suspender
e analisar novamente o contrato.
O vaivém reflete o medo do governo e mostra
que Bolsonaro estava mais interessado em dar uma resposta política do que em
explicar as negociações feitas nessa área. O presidente acreditava que
conseguiria ganhar tempo para se livrar do caso, mas uma nova acusação de
cobrança de propina mostra que ele não conseguirá eliminar esse fantasma.
O representante de uma empresa disse à repórter Constança Rezende que recebeu um pedido de US$ 1 por dose que seria comprada pelo Ministério da Saúde. O autor teria sido Roberto Ferreira Dias, diretor de Logística da pasta. O nome dele já havia aparecido no caso da Covaxin. O repeteco deve dobrar a pressão sobre o governo.
A frente de batalha imediata está nas
cobranças por um processo de impeachment com base nas suspeitas de corrupção
sobre o governo. O andamento vai depender das investigações. Enquanto
permanecerem dúvidas, dificilmente o centrão votará para derrubar o presidente.
Será mais difícil conter o desgaste
eleitoral. Depois de ter chegado ao Planalto com a fantasia do combate à
corrupção, a imagem de Bolsonaro pode derreter de vez, mesmo que não seja
possível comprovar algum crime até a disputa nas urnas. É por isso que ele
apelou cedo para o bordão de que não tem como
saber "o que acontece nos ministérios".
Parte do eleitorado de Bolsonaro é sensível
a sinais de corrupção. Eles já se afastaram do governo, mas poderiam voltar a
apoiá-lo. As duas suspeitas, no entanto, tornam o caminho mais escorregadio. O
movimento dessa fatia dos brasileiros deve determinar o resultado de 2022.
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