O texto de hoje e minhas energias e
vibrações positivas são para você, que representa, neste caso, todas as mães de
meninos negros que sofreram com a violência policial no país.
O documentário “Auto de resistência” é
chocante, profundo e muito, muito tocante. Com ele, refleti sobre quanto sou
sortudo por ter sobrevivido até o momento, apesar de ter passado boa parte de
minha existência na periferia do Rio de Janeiro. Para fugir daquele ambiente
tão perigoso, meu pai foi sábio e se mudou conosco para uma cidade menor, na
Região Metropolitana, numa área então não afetada pelo narcotráfico.
Infelizmente, milhares de crianças e jovens negros não tiveram o mesmo destino, e famílias foram destroçadas pela falida guerra às drogas, usada como pano de fundo no projeto de extermínio dos negros no Brasil.
Perder um filho deve ser duríssimo, mas, da
forma como aconteceu com você, um tiro nas costas de um menino de apenas 19
anos... eu não consigo imaginar, já dá um nó na garganta. Entretanto, ao
contrário de todos os vetores que a pressionam na manutenção da situação como
ela sempre foi, você se ergueu acima de nós, reles mortais, e começou sua luta.
Não por justiça, porque, se ela existisse, Johnatha estaria vivo, mas pelo
amor, pela vida.
Na conversa que tivemos recentemente, a luz
de seu espírito e sua força foram admiráveis. Creio que apenas uma Mãe, com M
maiúsculo, conseguiria reviver esse episódio com o desejo incandescente de que
o Estado pare de matar nossa juventude negra e destruir suas famílias.
Como diria O Rappa, “é só regar os lírios
do gueto que o Beethoven negro vem para se mostrar”. No entanto a função que
seria proteger passa a ser extinguir.
Com seu filho assassinado e o executor à
solta, o sistema de Justiça se mostra cúmplice. É o crime perfeito: a administração
pública mata, o Judiciário não pune e o Legislativo afrouxa.
Apesar da pandemia, mesmo com a diminuição
de circulação de pessoas nas ruas, o Brasil bateu no ano passado o recorde de
pessoas mortas por policiais desde 2013, chegando ao absurdo número de 6.416,
resultando num aumento de 190% desde o início do acompanhamento do índice.
As mortes registradas em operações
policiais, no Rio de Janeiro, aumentaram entre janeiro e fevereiro, chegando à
marca de 47, representando um aumento de 161%, na comparação com os meses de
novembro e de dezembro de 2020, quando foram registradas 18 mortes, com cinco
feridos em confrontos, segundo a Rede de Observatórios da Segurança.
Assim, vemos que a guerra de Ana Paula é a
nossa guerra. Desde 2014, ela batalha para que o policial, que deveria cumprir
sua obrigação de servir à sociedade, responda por seus atos.
Ana Paula diz que, ao gritar por amor à
vida, está cuidando de seu Johnatha, porque “é como se ele estivesse vivendo
através da minha luta, é onde posso continuar sendo sua mãe”.
Por isso precisamos nos colocar de pé
contra esta forma de constituir sociedade que assassina seus frutos, não lhes
dando o devido valor. É urgente acolher nossas mães e potencializar suas vozes.
Querida Ana Paula, você não está só.
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