O Estado de S. Paulo
Bolsonaro ameaça ministros do STF com impeachment e apoiador diz que a cobra vai fumar
Encurralado por quatro ações no Supremo
Tribunal Federal (STF) e uma no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um recorde
histórico, Jair Bolsonaro postou no sábado 14: “Todos sabem das consequências,
internas e externas, de uma ruptura institucional, a qual não provocamos ou
desejamos. De há muito, os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto
Barroso, do Supremo Tribunal Federal, extrapolam com atos os limites
constitucionais”.
Mentira! Desde 2018 o presidente denuncia
as urnas eletrônicas como fraudadas para evitar, com um autogolpe, a derrota em
2022. Após longa leniência das autoridades guardiãs da Constituição, da paz e
da ordem públicas, estas exigiram que ele apresente as provas que diz ter. Mas,
à exceção da fraude que pratica, tendo prometido combater a corrupção, “mais
Brasil e menos Brasília”, e traído tais promessas, nada revelou de relevante.
Ao contrário, seja por tolerância exagerada ou compreensível respeito à vontade popular em decisões eleitorais não alteradas, que venceu seis vezes, o chefe do desgoverno atroz tem sido poupado de merecidas penas. Há dois anos, o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro denunciou suas reiteradas tentativas de interferir politicamente na Polícia Federal (PF). De lá para cá, fez gato e sapato com a instituição, ao nomear fâmulos da famiglia, Anderson Torres e Paulo Maiurino, para o Ministério da Justiça e a direção da policia judiciária. O delegado Alexandre Saraiva foi afastado do inquérito sobre suspeita de cumplicidade de seu apoiador Ricardo Salles no Ministério do Meio Ambiente, mesmo tendo sido este denunciado em venda ilícita de madeira da Amazônia, flagrada não pela PF, mas no destino, os EUA, o que lhe provocou demissão. O inquérito está parado porque o STF ainda não decidiu se o presidente deporá por escrito ou pessoalmente. Lana caprina, portanto.
Bolsonaro ainda compartilhou, por escrito,
no aplicativo Whatsapp, manifesto ostensivamente golpista, assinado por um
grupo de Facebook chamado “Ativistas direita volver”. O manifesto reza, em
vernáculo vulgar: “O Presidente Bolsonaro, no início de agosto, em vídeo
gravado, pediu para que o povo brasileiro fosse mais uma vez às ruas, na
Avenida Paulista, no dia sete de setembro, dar o último aviso, mas, desta vez,
ele reforçou que o ‘contingente’ deveria ser absurdamente gigante, ou seja, o
tamanho desta manifestação deverá ser o maior já visto na história do país, a
ponto de comprovar e apoiar, inclusive internacionalmente, para que dê a ele e
às FFAA, para que, em caso de um bastante provável e necessário contragolpe que
terão que implementar em breve, diante do grave avanço do golpe já em curso há
tempos e que agora avança de forma muito mais agressiva, perpetrado pelo Poder
Judiciário, esquerda e todo um aparato, inclusive internacional, de interesses
escusos”. Compartilhar significa participar.
Compartilhou-o simultaneamente à divulgação
por seu aliado Roberto Jefferson, dono do Partido Trabalhista Brasileiro – que
lhe foi doado por Golbery do Couto e Silva na ditadura –, de um manifesto
virulento, ilustrado por uma foto empunhando duas pistolas, ao estilo caubói do
Velho Oeste. No mesmo sábado 14 de agosto em que o próprio Bolsonaro anunciou
que exigiria as cabeças de Barroso e Moraes ao presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco, que ajudou a eleger, um cantor que migrou da Jovem Guarda para o
sertanejo convocou, em reunião com empresários ditos do agronegócio, o
“antigolpe” para o feriado da Independência: “Nós vamos parar 72 horas. Se não
fizer nada, nas próximas 72 horas, ninguém anda no País, não vai ter nem
caminhão para trazer feijão para vocês aqui dentro”, disse o artista em reunião
em Brasília. Sentado ao lado do presidente da Aprosoja, Antonio Galvan, Sérgio
Reis gabou-se ainda de ter sido remunerado e de haver almoçado com Bolsonaro
antes das ameaças.
A impudica e imprudente pretensão golpista
do capitão terrorista o inclui na condição de “aloprado”, definição usada por
seu mais provável adversário no segundo turno da eleição presidencial de 2022,
Lula, quando insultou correligionários que produziram relatório falso para
evitar a vitória do senador José Serra ao governo de São Paulo. A pretensão do
cantor esbarra em leis que proíbem o impedimento de abastecimento de alimentos
e o congelamento de preços de derivados de petróleo. Como Jefferson, Reis e
Eduardo Araújo encenam um caso de polícia corriqueiro, que nem exigiria a
intervenção do STF ou do TSE.
Em entrevista ao Blog do Nêumanne, no
portal do Estadão, o economista Paulo de Tarso Venceslau, o primeiro a
denunciar corrupção do PT, observou: “Bolsonaro é um zero à esquerda e não
depende de Deus para ficar, mas dos milicos”. E do povo. Marcelo Ramos,
vice-presidente da Câmara dos Deputados, resumiu: “Presidente, chega! Chegou a
hora de o senhor falar como vai enfrentar 15 milhões de desempregados, 19
milhões com fome, juros crescentes, inflação descontrolada na comida, energia e
combustível. Chega dessa graça de criar problemas artificiais para um país
cheio de problemas reais”. Basta, xô e tchau!
*jornalista, poeta e escritor
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