Folha de S. Paulo
Petista diz que não terá 'conversa
especial' com fardados, mas emissários já tentam criar pontes
O ex-presidente Lula diz que não terá
nenhuma "conversa especial com as Forças Armadas" durante a campanha
ao Planalto. Em entrevista a uma rádio de Porto Alegre, na semana passada, o
petista afirmou que vai tratar os militares com respeito, mas rejeitou um aceno
ao grupo.
Ele repetiu a ideia na segunda-feira (16), durante viagem ao Nordeste. "Eu não tenho conversa com os militares", declarou. "Quando eu ganhar, eu vou conversar, porque aí eu vou ser chefe deles e vou dizer o que eu penso e qual é o papel deles."
Nos bastidores, a história é
diferente. Lula destacou
ex-ministros da Defesa da era petista para conversas com
militares, incluindo integrantes do Alto Comando do Exército. O objetivo é
traçar um diagnóstico das inclinações políticas nas Forças Armadas, tentar
refazer pontes e reduzir a oposição a seu nome no topo das cadeias de comando.
Na cúpula petista, há o entendimento de que
o cenário nos quartéis é conturbado: parte dos
altos oficiais aderiu ao projeto de Jair Bolsonaro e, portanto,
gestos de aproximação seriam bem-vindos. O ex-presidente admite isso reservadamente,
tanto que já cogitou publicar um artigo para lembrar ações de seu governo na
área de defesa (mas desistiu).
Lula joga na direção contrária ao vender,
em público, uma despreocupação com a farda. A leitura do petista e de seus
aliados é que uma conversa com militares soaria como um pedido de permissão
para disputar a Presidência —ideia que ele
rejeita. Além disso, o ex-presidente entende que um contato direto
poderia acirrar os ânimos políticos nas Forças.
O xadrez errático alimenta a tentativa bolsonarista de estabelecer um monopólio entre os militares. Depois das entrevistas de Lula, aliados do presidente passaram a explorar uma declaração em que o petista tratou com ironia a passagem de integrantes das Forças pelo Ministério da Saúde. "Eles botaram na cabeça que são superiores, eles botaram na cabeça que são mais honestos, e a CPI está mostrando o que aconteceu", afirmou o ex-presidente.
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