Blog do Noblat / Metrópoles
O presidente do Senado é o único que poderá
largar Bolsonaro de mão. Os outros querem um pouco de paz para tocar seus
negócios
Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do
Senado, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados e Ciro Nogueira
(PP-PI), chefe da Casa Civil da presidência da República, disseram a Jair
Bolsonaro nas últimas 48 horas que sua situação está ficando cada vez mais
difícil dentro e fora do Congresso.
E que a continuar assim ou até piorar,
ficará complicado para eles ajudar o governo como gostariam e se dispuseram a
fazer até agora. Um deles citou a mais recente pesquisa de opinião XP-Ipespe
divulgada ontem. Ela mostra que Bolsonaro seria derrotado no segundo turno por
qualquer um dos nomes testados.
Perderia não só para Lula (PT) como também
para Ciro Gomes (PDT), Sérgio Moro, Luiz Henrique Mandetta (DEM), João Doria
(PSDB) e até Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, um ilustre
desconhecido fora do seu Estado. 61% dos brasileiros dizem que jamais votariam
em Bolsonaro.
A pesquisa trouxe outros dados que deveriam
preocupar Bolsonaro como preocupam seus aliados. A avaliação positiva do seu
governo segue em queda. A vacinação em massa aumentou a avaliação positiva dos
governadores (de 36% para 43%) e dos prefeitos (de 45% para 55%), mas diminuiu
a dele (de 22% para 21%).
Em julho, 59% dos brasileiros diziam que a economia estava no rumo errado, contra 29% que diziam que estava no rumo certo. Agora, 63% disseram que está no rumo errado, contra 27% que a julgam no rumo certo. 57% estão convencidos de que o governo se envolveu com corrupção. 67% acompanham a CPI da Covid.
Não se sabe o que Bolsonaro respondeu aos
três suplicantes que bateram à sua porta com ar grave. Mas o que lhes disse não
importa. Quantas vezes ele já não deu o dito pelo não dito, recuou mais tarde
para novamente avançar. Quem o contraria não é ouvido com atenção e arrisca-se
a deixar de ser ouvido.
Quando cobrado por decisões erradas do seu
pai ou declarações estapafúrdias, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ)
costuma responder:
– Fui voto vencido.
Os suplicantes podem suplicar à vontade –
Bolsonaro sabe que eles não o abandonarão para não perder o poder que têm. Lira
é dono de um pedaço do Orçamento da União para administrar como quiser.
Nogueira ocupa o segundo cargo mais importante do governo e livrou-se de ter
que disputar o governo do Piauí.
Quanto a Pacheco… Confessa a amigos que
está achando “danado de bom esse trem” de ser aspirante a candidato a
presidente da República ano que vem pelo PSD de Gilberto Kassab. Dos três, é o
único que de fato poderá chutar a bunda de Bolsonaro.
Ministro da Defesa chama de “regime de
força” o que foi ditadura
General Braga Neto, um dos mais fiéis
servidores de Bolsonaro que nega a Ciência, faz questão de negar a História
Se a Procuradoria-Geral da República
considera o presidente Jair Bolsonaro um fora da lei ou acima dela, por que
seus ministros, pelo menos os mais importantes deles, não estariam liberados
para mentir, distorcer a verdade ou simplesmente dizer qualquer coisa em nome
da liberdade de expressão?
O ministro da Defesa, general Braga Netto,
não precisou de licença para mentir na Câmara dos Deputados ao dizer que não
houve ditadura militar entre 1964 e 1985 no Brasil. “Se houvesse, talvez muitas
pessoas não estariam aqui. Ditadura, como foi dito por outro deputado, é em
outros países”, afirmou.
Stop! Rebobine o filme. Entre 1964 e 1985,
no mínimo 434 pessoas foram mortas ou desapareceram por ação direta de cinco
governos militares que cassaram mandatos de parlamentares e de ministros de
tribunais superiores, fecharam o Congresso, suspenderam o direito ao habeas
corpus e censuraram a imprensa.
A ordem jurídica foi para o brejo. A
tortura de presos políticos foi adotada como política de Estado e autorizada
por generais no exercício da presidência da República. Guerrilheiros que se
entregaram vivos ao Exército foram fuzilados. E tudo em nome da defesa da
democracia supostamente ameaçada pelo comunismo.
Os militares deram a ditadura como
terminada quando perderam totalmente o apoio para mantê-la. Voltaram aos
quartéis como derrotados. Mas lá passaram a ensinar aos que o sucederam que a
ditadura, que preferem chamar de regime de força, ou de movimento militar, foi
uma imposição do tempo em que viveram.
Continuam negando a História até hoje. A
propósito da passagem de mais um aniversário, este ano, do golpe de 1964, nota
oficial do Ministério da Defesa afirmou que a data deveria ser celebrada e que
“o movimento permitiu pacificar o país”. Braga Neto, outro dia, disse que sem
voto impresso a eleição de 2022 seria cancelada.
Repetiu o que Bolsonaro já disse mais uma
vez. Para a maioria dos generais, a Constituição deve ser revista porque é de
esquerda, e o Supremo Tribunal Federal expurgado de ministros “comunistas”.
Bolsonaro remeterá ao Senado o pedido de impeachment dos ministros Alexandre de
Moraes e Luís Roberto Barroso.
“Houve
um regime forte, isso eu concordo”, declarou Braga Neto. “Cometeram excessos
dois lados, mas isso tem que ser analisado na época da história, de Guerra Fria
e tudo mais, não pegar uma coisa do passado e trazer para o dia de hoje”. Quem
tenta ressuscitar o passado é gente como ele e Bolsonaro.
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