sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Bruno Boghossian - Um habeas corpus para Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Acuado, presidente busca proteção para não ser punido pelos crimes que já cometeu

Jair Bolsonaro acionou um advogado para tentar se salvar do cerco que se formou contra ele após o 7 de setembro. Com a ajuda de Michel Temer (OAB 16534/SP), o presidente divulgou uma nota para afirmar que jamais teve a "intenção de agredir" outros Poderes nos atos golpistas. O texto pode parecer um recuo, mas é, na verdade, um pedido de habeas corpus para um político em perigo.

Os dez parágrafos da declaração publicada nesta quinta (9) pelo Planalto dão todos os sinais de que Bolsonaro está em busca de proteção, não de diálogo e pacificação. No texto, o presidente ignora sua ameaça pública de descumprir decisões judiciais e torce para que a manobra seja suficiente para não ser punido pelos crimes que já cometeu.

Dois dias depois de chamar Alexandre de Moraes de "canalha", o presidente agora diz que tem apenas "conflitos de entendimento" com ele. Em vez de pedir que o ministro do STF seja enquadrado, Bolsonaro afirma que vai buscar resolver essas divergências na Justiça.

A defesa do presidente vai ter trabalho, já que é impossível destruir as provas de que ele incitou a desordem e a desobediência, do alto de um trio elétrico e à luz do dia. Nos protestos do feriado, Bolsonaro disse com todas as letras que não cumpriria decisões tomadas por Moraes e voltou a lançar suspeitas falsas sobre a lisura das eleições.

Bolsonaro busca blindagem com o argumento de que suas declarações "decorreram do calor do momento". Faltou lembrar que a ameaça ao STF foi gestada por semanas e que suas primeiras palavras contra o tribunal no dia 7 foram dadas ainda pela manhã, no frescor do Palácio da Alvorada, enquanto uma criança tocava o hino nacional no piano.

O presidente percebeu que as investigações contra seu grupo político vão continuar e que conversas sobre um impeachment começam a ganhar corpo. Ameaçado, ele simula um passo atrás para reduzir temporariamente as pressões sobre o governo até que fique confortável o suficiente para atacar de novo.

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