Folha de S. Paulo
E agora até o mercado passou a reagir às
declarações mais abertamente golpistas
Em seu discurso
pós-7 de Setembro, o presidente da Câmara, Arthur Lira, deu
indicações de que não pretende pautar o impeachment de Bolsonaro. Nas contas do
centrão, é cedo para abandonar a nau bolsonarista. Ainda dá para seguir por
mais um tempo usufruindo dos cargos e verbas proporcionados pela blindagem que
o grupo empresta ao presidente. A aposta mais sensata, portanto, é a de que a
destituição não sairá, mas eu acrescentaria que está surgindo uma possibilidade
real de o jogo mudar.
As razões morais para o impeachment estão dadas há tempos, mas imperativos éticos não são o melhor dos motivadores. Os últimos dias trouxeram sinais de que razões instrumentais podem estar entrando em ação. O movimento começa pela economia. Quando Bolsonaro se sente pressionado, ataca as instituições e, cada vez que o faz, diminui as chances de seu governo produzir boas notícias, que poderiam ajudá-lo na reeleição. E, se antes o mercado não ligava para o que julgava ser bravatas presidenciais, agora, diante de um cenário econômico deteriorado, passou a reagir às declarações mais abertamente golpistas.
O resultado é um ciclo vicioso: Bolsonaro
fala besteiras que pioram as perspectivas para a economia, o que faz com que
ele se sinta mais ameaçado e vomite mais asneiras. Como até os
"faria-limers" já se deram conta de que o presidente não mudará seu
comportamento, mesmo que este o leve à ruína, há cada vez mais gente se
perguntando se dá para seguir assim até o ano que vem ou se é melhor se livrar
de Bolsonaro tão antes quanto possível.
As ramificações vão para a política. Se a
centro-direita quer mesmo uma candidatura alternativa às que estão colocadas, o
melhor caminho pode ser tirar logo Bolsonaro da equação, criando o espaço
ecológico para que surja a tal da terceira via.
Eu preferiria o impeachment pelas razões
certas, mas não vou me queixar se ele vier por cálculos interesseiros.
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