Valor Econômico
Efeitos deletérios vão ocorrer sobre os
investimentos, que estão sendo adiados à espera de mais estabilidade política
Não são esperados novos desdobramentos do 7 de Setembro, na visão de fontes oficiais, porque o presidente Jair Bolsonaro não vai mudar e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, alvo da ira do presidente, não vai renunciar. Ao PT de Lula, principal adversário de Bolsonaro nas eleições de 2022, não interessa o impeachment do presidente. O presidente da Câmara, Arthur Lira, também não está considerando, por enquanto, a solução via impeachment. Portanto, “não vai acontecer nada”, avaliam as fontes, referindo-se a um desfecho da crise, em que fiquem claro vencidos e vencedores.
“Iremos, de crise em crise, até as
eleições”, sintetiza um experiente assessor. “Levando a economia do jeito que
der”, completa. Os efeitos deletérios vão ocorrer sobre os investimentos, cuja
expansão deveria sustentar taxas de crescimento mais robusta da atividade e
melhorar as condições do mercado de trabalho, mas que estão sendo adiados à
espera de períodos de maior estabilidade política.
Sem poder antever os próximos passos do
embate entre Bolsonaro e o STF, e o impacto destes na economia, assessores do
ministro Paulo Guedes trabalham com prognósticos para até onde a vista alcança.
Nessa visão, as prioridades são a aprovação da Proposta de Emenda
Constitucional dos Precatórios e a votação do pacote do Imposto de Renda no
Senado. Constam também a discussão da reforma tributária e avanços na
tramitação da reforma administrativa.
O montante dos precatórios que deveria ser
pago no ano que vem é de cerca de R$ 90 bilhões, alta de quase R$ 40 bilhões se
comparado ao total dos precatórios pagos neste ano. A PEC propõe o parcelamento
em dez anos dos valores superiores a R$ 66 milhões. Sem o parcelamento é
praticamente impossível criar o Auxílio Brasil, sucedâneo do Bolsa Família,
concebido para dar impulso à campanha de Bolsonaro pela reeleição no ano que
vem. Na ausência de investimentos, o novo programa social seria um motor para
dar algum alento (pelo lado do consumo) à economia no próximo exercício.
O Congresso estava buscando um entendimento
com o STF para um endosso deste à PEC dos Precatórios, que, diante do
contencioso criado por Bolsonaro com ministros da Suprema Corte, ficará mais
difícil de sair.
Já o pacote do Imposto de Renda, aprovado
na Câmara a despeito de tantos problemas apontados por especialistas em
tributos, depende, agora, do Senado, que tem se mostrado mais interessado em
uma proposta de reforma mais ampla dos impostos.
Ao convocar seus apoiadores para as ruas,
no dia 7 de setembro, o presidente Bolsonaro radicalizou o discurso de enfrentamento
do STF e enterrou a eventual possibilidade de avanço nas reformas econômicas.
Isso não significa que a sociedade apoie o ministro Alexandre de Moraes, que
tem se pautado mais como um delegado de polícia do que como um ministro da
Suprema Corte do país.
Aliás, não é de hoje que vem se formando
uma visão bastante crítica do desempenho do atual STF, em que 11 ministros
decidem o futuro da nação e, não raro, em resoluções monocráticas.
O momento é ruim, estressante, complicado
e, se prevalecer a ideia de que é possível viver ainda por 13 meses de crise em
crise, à espera das eleições, é prudente ter um plano B. A economia, quando se
destrambelha, não deixa pedra sobre pedra. Os investidores que ainda estão no
país fogem, a taxa de câmbio vai para o espaço, a inflação sobe para patamares
impensáveis, os juros vão às alturas e o caos se estabelece.
O Brasil viveu momentos muito difíceis em
2002, quando os mercados se conscientizaram de que Luiz Inácio Lula da Silva
poderia ser o sucessor de Fernando Henrique Cardoso. Foram cerca de seis meses
de intensas negociações que desaguaram em um acordo com o Fundo Monetário
Internacional (FMI), importante porque na ocasião o país não tinha reservas
cambiais, e em torno de uma carta em que o candidato se comprometia a respeitar
contratos.
Hoje o país tem reservas cambiais de sobra
para bancar as contas externas em momentos de tensão e tem colchão de liquidez
para se ausentar do mercado de dívida pública nessas horas. Mas ainda estamos
distantes das eleições e é inacreditável que passadas quase duas décadas da
vitória de Lula estejamos vivendo em um embate em que o retorno do líder
sindical do passado, hoje ex-presidiário, ou de Jair Bolsonaro esteja na raiz
de tamanho receio.
A Lula interessa, de fato, concorrer com um
Bolsonaro que se desmancha no ar. Como citou uma fonte oficial, o impeachment
interessa aos que buscam uma terceira via. Esta seria de centro, democrática,
capaz de tirar o país da polarização que só beneficia a ambos — Lula e
Bolsonaro.
O Brasil precisa urgentemente de bons
governos que, para começo de conversa, governem. Bolsonaro não mudou em nada
seu jeito de atuar. Ele está sempre no palanque. Nunca assumiu a Presidência da
República!
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