sábado, 18 de setembro de 2021

Hélio Schwartsman - O que mais Bolsonaro precisa fazer?

Folha de S. Paulo

São pequenas as chances de reeleição; mas ainda falta um ano até o pleito

É assustador que 22% dos brasileiros ainda considerem o governo de Jair Bolsonaro ótimo ou bom —só dois pontos percentuais a menos do que o medido em julho. É uma resiliência impressionante. Afinal, um resumo de poucas linhas da gestão inclui quase 600 mil mortos na pandemia, inflação batendo nos dois dígitos, desemprego em alta, provável apagão elétrico, aumento na destruição ambiental e retrocessos em direitos humanos. O pseudoargumento do "pelo menos não tem corrupção" não vale, como mostraram as "rachadinhas" e a CPI da Covid.

Nem mesmo a pantomima golpista que o presidente ensaiou no 7 de Setembro parece ter afetado sua popularidade. Pergunto-me o que ele precisaria fazer para colocar seus apoiadores abaixo dos 10% —a estatura de nanico que a história lhe reserva. Estuprar criancinhas ao vivo no horário nobre da TV? Declarar que é ateu, gay e costuma vender maconha na porta das escolas?

É claro que, se escarafuncharmos com cuidado os dados do Datafolha, encontraremos notícias menos lúgubres. Já vão surgindo fissuras no apoio a Bolsonaro em grupos demográficos importantes, como o dos mais pobres e o dos evangélicos. Mais, olhando para as perspectivas econômicas, parece difícil encontrar algo em que o presidente possa se escorar para recuperar a popularidade.

Embora as dificuldades impostas pela epidemia tendam a arrefecer, um espetáculo do crescimento em 2022 é altamente improvável. Programas populistas capazes de alavancar o voto estão severamente limitados por uma situação fiscal difícil. Bolsonaro pode até tentar uma mandrakaria para burlar as regras, mas o mercado provavelmente perceberia o truque e jogaria dólar e juros nas alturas, o que significa mais inflação e menos votos.

A boa notícia é que, hoje, me parecem pequenas as chances de Bolsonaro ser reeleito. A má é que ainda resta um ano até o pleito, tempo suficiente para muita coisa ruim acontecer.

 

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