Folha de S. Paulo
São pequenas as chances de reeleição; mas
ainda falta um ano até o pleito
É assustador que 22% dos
brasileiros ainda considerem o governo de Jair Bolsonaro ótimo
ou bom —só dois pontos percentuais a menos do que o medido em julho. É uma
resiliência impressionante. Afinal, um resumo de poucas linhas da gestão inclui
quase 600 mil mortos na pandemia, inflação batendo nos dois dígitos, desemprego
em alta, provável apagão elétrico, aumento na destruição ambiental e
retrocessos em direitos humanos. O pseudoargumento do "pelo menos não tem
corrupção" não vale, como mostraram as "rachadinhas" e a CPI da
Covid.
Nem mesmo a pantomima golpista que o presidente ensaiou no 7 de Setembro parece ter afetado sua popularidade. Pergunto-me o que ele precisaria fazer para colocar seus apoiadores abaixo dos 10% —a estatura de nanico que a história lhe reserva. Estuprar criancinhas ao vivo no horário nobre da TV? Declarar que é ateu, gay e costuma vender maconha na porta das escolas?
É claro que, se escarafuncharmos com
cuidado os dados do Datafolha, encontraremos notícias menos lúgubres. Já vão
surgindo fissuras no apoio a Bolsonaro em grupos demográficos importantes, como
o dos mais pobres e o dos evangélicos. Mais, olhando para as perspectivas
econômicas, parece difícil encontrar algo em que o presidente possa se escorar
para recuperar a popularidade.
Embora as dificuldades impostas pela
epidemia tendam a arrefecer, um espetáculo do crescimento em 2022 é altamente
improvável. Programas populistas capazes de alavancar o voto estão
severamente limitados por uma situação fiscal difícil. Bolsonaro pode até
tentar uma mandrakaria para burlar as regras, mas o mercado provavelmente
perceberia o truque e jogaria dólar e juros nas alturas, o que significa mais
inflação e menos votos.
A boa notícia é que, hoje, me parecem
pequenas as chances de Bolsonaro ser reeleito. A má é que ainda resta um ano
até o pleito, tempo suficiente para muita coisa ruim acontecer.
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