O exercício da liberdade individual e
coletiva não é e nunca foi questão pacífica. E cá estamos, em pleno século XXI,
novamente às voltas com o tema. Somos diversos, somos diferentes. E temos que
aprender a conviver com as diferenças na diversidade.
Veio-me à cabeça o tema, porque na mesa ao
lado do café em um hotel estava um casal e um amigo manifestando alto suas
idiossincrasias quanto à vacina contra a COVID-19, suas desconfianças e a
convicção de que não vão se vacinar de forma alguma. A sabedoria popular repete
a esmo que “a nossa liberdade termina onde começa a dos outros”. A liberdade
individual nem sempre é solidária à liberdade coletiva. Até que ponto
individualmente tenho a liberdade de não usar máscara, de provocar aglomerações
e não me vacinar, colocando em risco a saúde coletiva?
Também um amigo liberal me questionou que decisões do STF são abusivas ao constrangerem a “liberdade de opinião” de pessoas que ameaçam autoridades e instituições, propagam a violência, às vezes de arma em punho, e usam a liberdade proporcionada pela democracia para abalar os pilares e a sobrevivência da própria democracia. Opinar, sim, sempre; conspirar contra a ordem constitucional democrática, não, nunca.
Disse certa vez Rousseau: “O homem nasceu
livre e por toda a parte vive acorrentado”. A liberdade permanentemente corre
riscos. Por isso é conquista e construção permanentes, e nunca irreversível.
Talvez tenha sido por isso que Thomas Jefferson afirmou: “O preço da liberdade
é a eterna vigilância”.
Freud em textos como “Futuro de uma
ilusão”, “Mal estar na civilização” e “Totem e Tabu” descreve como a situação
do homem na sociedade é marcada pelo antagonismo inevitável entre as exigências
do instinto e as restrições da civilização. Como escreveu certa vez Simone de
Beauvoir: “O homem é livre, mas ele encontra a lei na sua própria liberdade” e
completou: “Querer ser livre é também querer livres os outros”. Liberdade é
escolher caminhos. Mas, como quis Neruda: “Você é livre para fazer suas
escolhas, mas é prisioneiro das consequências”.
Qual é a bússola da busca da liberdade?
Talvez Tolstói tenha razão: “Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade,
mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência”. Na economia
e na política, Adam Smith, Stuart Mill, Marx, Keynes, Hayek e Friedman tinham
visões diferentes sobre a liberdade.
Liberdade é tema controverso e polêmico. A
democracia brasileira é uma jovem planta tenra. Nunca é demais lembrar que há
apenas 133 anos tínhamos escravidão em nosso país. O atual ciclo democrático
sobrevive a curtos 36 anos. Podemos discordar sobre tudo, mas um pacto
silencioso e quase unânime temos que celebrar: a defesa da liberdade e da
democracia.
Porque afinal, quem estava mesmo certa, era
Cecília Meireles, no seu “Romanceiro da Inconfidência” e não me canso de
repetir: “Liberdade – essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém
que explique, e ninguém que não entenda”.
*Presidente do Conselho Curador ITV –
Instituto Teotônio Vilela (PSDB)
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