Folha de S. Paulo
O vídeo do recente jantar em
homenagem a Michel Temer lembrou-me uma cena do filme “O
Poderoso Chefão 3”, o último sobre a saga da família Corleone, dirigido por
Francis Ford Coppola e estrelado por Al Pacino. A ficção mostra um encontro de
mafiosos, num ambiente cafona e decadente em cada detalhe da decoração:
cristais, pratarias, taças, lustres.
Semelhante também é a disposição dos personagens na cena: senhores cheirando a naftalina, em torno de uma grande mesa para tratar de negócios. No caso, aqui, para celebrar o “business as usual”, depois que Temer afivelou uma focinheira em Bolsonaro e deixou claro quem controla as rédeas do processo golpista que se desdobra desde 2016.
No vídeo, a anormalidade institucional do
país, os ataques de Bolsonaro à democracia, à legalidade e ao STF, enfim, tudo
o que joga o país no chão é tratado com chocante naturalidade. Na imitação que
faz do presidente, um animador de auditório fala em instrumentos de
tortura usados na escravidão, como a chibata, e o pau de arara, símbolo da
violência na ditadura. Seguem-se risadas e aplausos.
É emblemático que o jantar tenha sido na
casa de Naji Nahas, mega especulador que chegou a ser condenado por golpes
contra o sistema financeiro, décadas atrás. Entre os comensais, outros
arquétipos da elite brasileira. Gilberto Kassab, dono do PSD, o partido que
“não é de direita, nem de esquerda, nem de centro”. Poderosos da mídia,
juristas, um médico e um suplente de senador completam a confraria. Na ficção,
a reunião de mafiosos termina mal. Na vida real, Temer e seus convidados
divertem-se a valer.
Nunca um presidente cometeu tantos crimes
de responsabilidade contra o povo. Estamos chegando a 600 mil mortos pela
Covid. Doença, desemprego e fome dilaceram os sonhos de milhões de brasileiros,
lançados ao desespero pelo governo que essa gente ajuda a manter no Palácio do
Planalto. Ainda que mal pergunte, riem do que, senhores?
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