Valor Econômico
Pacheco usa tom eleitoral em ato com MDB e
Caiado
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
estava bem humorado ontem na reunião com deputados e senadores no salão de um
hotel em Brasília. Na fala de abertura do encontro, relembrou os tempos em que
era presidente da República e se deparava no dia seguinte com bastidores do
governo, que eram de conhecimento de um grupo restrito de auxiliares,
estampados nos jornais.
Lula questionava os auxiliares sobre o
responsável pelos vazamentos à imprensa. Ao fim, dizia em tom de pilhéria que o
tagarela só poderia ser o “anão embaixo da mesa”. A galhofa virou piada interna
do PT.
Ontem, segundo relato de um dos presentes à
coluna, o ex-presidente comentou, irônico, que a imprensa já publicou pelo
menos 13 nomes de candidatos que ocupariam a vaga de vice em chapa encabeçada
por ele. Nesse momento, citou matéria deste Valor, que informou a criação
de um gabinete informal para assessorá-lo na pré-campanha. “Também já tenho não
sei quantos coordenadores”, provocou, culpando de novo o “anão embaixo da mesa”
pela informação.
Lula está bem disposto, de humor leve, mas “consciente da realidade”, disse à coluna o governador do Piauí, Wellington Dias, que se reuniu com ele na véspera do encontro com as bancadas federais.
A primeira agenda de Lula em Brasília foi
domingo, com os quatro governadores do PT: Camilo Santana, do Ceará; Fátima
Bezerra, do Rio Grande do Norte; Rui Costa, da Bahia, e Wellington Dias.
Também participaram da reunião a
vice-governadora de Sergipe, Eliane Aquino (PT), a presidente do PT, deputada
Gleisi Hoffmann, e o senador Jaques Wagner, pré-candidato ao governo da Bahia.
Lula queria colher a visão dos gestores
sobre os problemas do país, como o aumento da inflação, a volta da fome, os
rumos da educação após a pandemia e a crise na segurança pública.
“Ele quer compreender o ponto de vista dos
Estados. Está preocupado, por exemplo, com o aumento da violência, mas,
especialmente, com a expansão do crime organizado”, explicou Wellington. “De um
lado, existe a violência mais associada ao social”, decorrente do aumento do
desemprego e da pobreza. “Mas tem uma fatia, e essa é a maior parte, que é a do
aumento do crime organizado, como o narcotráfico”, explicou o governador.
Uma ala do PT considera a falta de
propostas para a segurança pública como uma das falhas da campanha de Fernando
Haddad em 2018, enquanto o tema foi bandeira de Jair Bolsonaro. No segundo
turno, Rui Costa - já reeleito governador da Bahia - desembarcou em São Paulo
especialmente para aconselhar Haddad sobre o tema.
Camilo Santana tem manifestado publicamente
o desconforto com a escalada do crime organizado no Ceará. No começo do ano,
reclamou da liberação pela Justiça de 71 presos em operação da Polícia Civil
contra o tráfico de drogas na cidade de Quixeramobim, no sertão cearense.
“Absolutamente lamentável! Após meses de trabalho árduo da nossa polícia. Uma
derrota para toda a sociedade”, criticou em seu perfil nas redes sociais.
Na esfera educacional, Lula ouviu dos
governadores a preocupação com os quase dois anos de ensino à distância, que
trarão danos de difícil superação aos mais vulneráveis. “Isso levará prejuízos
para toda uma geração”, lamentou o governador.
Wellington negou que exista um clima de
euforia interna no PT diante da persistente liderança de Lula nas pesquisas
sobre a sucessão presidencial e assegurou que o líder petista sabe que ainda
tem muito chão pela frente até a eleição.
“[A orientação dele] é para estarmos todos
na pauta do povo, cuidar dos mais pobres e buscar alternativas para atração de
investimentos para gerar emprego e renda”, afirmou o governador. “Nada de
sapato alto, de já ganhou. A hora é de humildade, muito diálogo e trabalho”,
concluiu.
Lula e Pacheco
Um observador experiente da cena política
afirma que Lula faz nova rodada de conversas em Brasília cinco meses após a
primeira para mostrar que está se movimentando. Há poucos meses, havia
reclamações de alas do PT de que Lula estava “jogando parado” e essa tática
estava equivocada para a conjuntura atual.
Uma leitura interna, entretanto, é de que a
estratégia de Lula neste momento é a da “troca de passes”, enquanto os
adversários da terceira via têm de correr para o ataque para se viabilizar no
jogo eleitoral.
É nesse contexto que os adversários do
petista testam movimentos. Depois de ser vaiado, Ciro Gomes (PDT) pediu uma
“trégua de Natal”. João Doria e Eduardo Leite intensificam as articulações para
as prévias de novembro.
Sem alarde, com a discrição típica dos
mineiros, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), também se movimentou
nas últimas duas semanas.
No dia 15 de setembro, participou de evento
em Goiânia com o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), e o governador
de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM). Uma semana depois, reuniu-se com o prefeito de
São Paulo, Ricardo Nunes, também do MDB. Na sexta-feira, encontrou-se com o
governador do Rio Grande do Sul e presidenciável do PSDB, Eduardo Leite, em
evento nacional do Ministério Público na Serra Gaúcha.
O que chamou a atenção no ato político em
Goiânia ao lado de Baleia Rossi e Ronaldo Caiado foi o tom eleitoral da
manifestação de Pacheco em evento com dezenas de vereadores e prefeitos
goianos.
Foi um discurso muito além da tradicional
fala institucional sobre o respeito entre os Poderes. Ele exaltou a “boa
política” como solução para os problemas nacionais, condenou os extremos,
pregou a união. “Não queremos discurso de ódio, de rejeição, de apontamento de defeitos
como se fôssemos os donos da verdade”, afirmou.
“Precisamos de união do povo brasileiro, o
que não significa concordar ou conciliar sempre. Temos inimigos comuns, mas não
estão entre nós. É a fome, a miséria, o desemprego, a crise hídrica”, prosseguiu,
sob aplausos.
Ele concluiu citando um ícone da política
mineira e nacional: “tenhamos o que Juscelino Kubitschek nos ensinou: otimismo,
entusiasmo”, exortou.
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