O Estado de S. Paulo
Tudo é incerto em 2022, porque a maioria do Brasil é de desinteressados e/ou indecisos
O desconhecido empresário Romeu Zema virou
governador de Minas, um dos três principais Estados do País, em quatro dias.
Com 43% de indecisos, o eleitorado rejeitava tanto Antonio Anastasia, por
representar o PSDB de Aécio Neves, quanto Fernando Pimentel, que concorria à
reeleição pelo também vulnerável PT. Os indecisos descobriram Zema, do Novo,
num debate na terçafeira anterior às urnas. De quarta a domingo, ele disparou
de 5% para 41% e venceu a eleição.
Se Romeu Zema é ou não um bom governador, e a quantas andam sua gestão e aprovação, são outros 500, mas os tucanos usam essa história de 2018 para defender com unhas e dentes que uma “terceira via” entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula é não apenas possível como bastante provável, com muita chance de chegar ao segundo turno e vencer. Até por isso Lula corre atrás de MDB, PSD, PP e PSB.
As pesquisas de hoje cristalizaram a
dianteira confortável de Lula e um quarto do eleitorado com Bolsonaro, mas,
segundo os tucanos, esse cenário estático só parece irreversível para quem não
tem experiência de pesquisas e eleições. “Não é (irreversível). O importante é
se há ou não espaço para o sentimento essencial que uma candidatura representa.
Se há, o eleitor encontra essa candidatura”, diz o ex-deputado Marcus Pestana,
de Minas, um dos coordenadores das prévias de novembro do PSDB.
O governador Eduardo Leite (RS) tem o apoio
de Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas, Bahia, Ceará, Alagoas,
Paraíba e Amapá. O também governador João Doria (SP) tem São Paulo, Pará, DF,
Tocantins e Acre. Ainda faltam 13 Estados e o que vale não é o número de
diretórios, mas de eleitores. São Paulo, sozinho, tem 32% dos votos.
Para os tucanos, e não só para eles, mas
para especialistas em política, terceira via é quase sinônimo de candidatura do
PSDB, que venceu as eleições presidenciais em primeiro turno em 1994 e 1998 e
disputou o segundo turno em todas as quatro seguintes (2002, 2006, 2010 e
2014), até ficar fora em 2018, com a polarização feroz entre o PT e Bolsonaro.
Na semana passada, enquanto o experiente
senador Tasso Jereissati (CE), ex-governador e ex-presidente nacional do PSDB,
desistia das prévias em favor do novato Leite, Doria jantava com Luiz Henrique
Mandetta (DEM) e Sérgio Moro (sem partido). Os três são vivamente a favor de um
nome de centro, mas, assim como Doria está amarrado às prévias tucanas,
Mandetta depende da fusão DEMPSL e a Moro interessa menos disputar a
Presidência e mais resgatar o legado da Lava Jato.
Vez ou outra, pingam nomes, como o do
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, do DEM, que está nas mãos de Gilberto
Kassab, do PSD; o próprio Zema, que precisa encorpar em casa, ou seja, em
Minas; João Amoêdo, que não une nem o Novo; e os senadores Simone Tebet (MDB) e
Alessandro Vieira (Cidadania), que ganharam muita visibilidade na CPI da Covid
e têm como bandeira o combate à corrupção, mas estão mais para vices do que
para cabeças de chapa.
Correndo por fora, Ciro Gomes (PDT) é bom
de palanque, tem o recall de três eleições presidenciais e um marqueteiro top,
João Santana, que criou o “Lulinha Paz e Amor”. Ciro, porém, não tem para onde
crescer, porque atrai desconfiança. A esquerda está com Lula e a direita olha
para ele e vê um esquerdista.
Não custa lembrar que Lula tem muito
esqueleto no armário, Bolsonaro coleciona desastres e, tal como em 2018, em
Minas, metade do eleitorado ainda está, ou completamente alheio, focado na
covid, no desemprego e na inflação, ou muito desconfiado com os dois favoritos.
Logo, o que há hoje são incertezas e muita água vai rolar a partir de janeiro,
com a definição de nomes, partidos, estratégias e um cenário desconhecido: o
pós-pandemia.
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