Por conta da fragilidade do pacto pela
governabilidade, a corrida eleitoral, comanda pela reeleição, deve agravar
o cenário econômico em 2022. O Banco Central projeta para o próximo
ano a possibilidade do brasileiro ter de conviver com uma inflação e taxas
de juros de dois dígitos; gasolina e dólar acima de R$ 6,00; 15 milhões ou mais
de desempregados; expansão de 0,5 por cento do PIB; e um rombo nos
limites fiscais para os gastos públicos acima de R$ 100 bilhões.
A realidade mostra que boa parte dos indicadores econômicos negativos tem sido produzida, desde já, pela força desproporcional dos embates eleitorais, cujo pleito acontecerá daqui a um ano. O País tornou-se um caldeirão de retóricas, promessas vazias, confusas, de interesses pessoais, até vingativos. Tudo improdutivo. O sistema econômico e as políticas públicas são quase ignorados. Cada empreendedor se vira como pode à luz da imobilidade das reformas em tramitação no Congresso. Algo bárbaro e selvagem acontece. O professor e ex-deputado constituinte Elias Murad conclui que “O Brasil progride à noite, enquanto os políticos estão dormindo”.
Esse ambiente discursivo irresponsável, ao
invés de trazer soluções, sem qualquer autocrítica, carismatiza absurdos e
ocupa o tempo e apoios a pessoas presas moralmente às
imputações corruptivas, como se inocentes fossem. Afloram por todos os
lados interesses e oportunismos. Convive-se,
inconscientemente, com sábios e sabidos emergidos de espaços de transgressões.
O atual Presidente, apesar de
defendido pelos correligionários como incorruptível, virtude incomum no campo
da política, com sua indiferença administrativa e seu amorfismo escatológico,
tem culpa direta na configuração desse cenário indigesto e sem qualquer futuro
para a sociedade. Ao assumir o cargo, em 2019, iludido pelas formulações
abstratas de seu ministro da Fazenda, economista Paulo Guedes, declarou
provocativamente que a política macroeconômica que ele formulava iria lhe garantir
“uma reeleição tranquila”.
Assim, Bolsonaro vem atravessando esses
anos de governo, manipulando interpretações falseadas e programas públicos em
direção à inoportuna visão da reeleição, mesmo sob o fogo cruzado de uma
oposição moralmente pouco qualificada. São candidatos prematuros e,
todos, desde São Paulo e até ao interior do Nordeste, são vaiados por uma
opinião pública invisível.
No presente contexto, a governabilidade
voltada para a reeleição dos atuais dirigentes ou para o retorno de velhos
caciques, atingiu um dos níveis mais baixos. A desilusão com a política,
a alta do desemprego e da inflação atemorizam o cidadão comum, assustado já com
a rapidez e com a sucessão de eventos transgressores aflorados no seio
do Estado. A população vai assim se alienando em um
estado letárgico, patologicamente angustiado, com total indiferença. Mas,
não dá. A deterioração dos indicadores vai bater, mais cedo ou mais tarde, às
portas dos cidadãos, na sua mesa.
O País está mergulhado em um realismo
fantástico. FHC, uma das vozes contemporâneas aparentemente mais lúcidas
no campo da política, depois de cumprir dois mandatos de quatros anos, ponderou.
“ ...foi um erro a reeleição: se
quatro anos são insuficientes, seis parecem muito tempo. Ao invés de pedir que
no quarto ano o eleitorado dê um voto tipo “plebiscitário” (de reconhecimento
da eficiência ou não do governo) seria preferível uma mandato de cinco anos”.
Sarney fez isso: esticou-o por cinco anos,
e se deu mal. JK eternizou-se em cinco anos.
Paradoxalmente, foi FHC quem criou a
reeleição que iria proporcionar desajustes econômicos logo depois ao se
cultivar, ao longo de 16 anos ininterruptos, a ideia de que o Estado podia
tudo. Fantasiosamente, defendia-se “uma contabilidade criativa”. Bolsonaro
deve acreditar nisso. Mas Guedes e seus assessores demissionários não parecem
ter a mesma convicção para sustentar uma reeleição.
Daí que, com o ambiente político gerado
artificialmente, o ano eleitoral de 2022, no entender dos economistas de
plantão, será propício para a total desestabilização da economia. Poderá haver
desarranjos incontornáveis decorrentes da manipulação inadequada dos
recursos públicos, com consequências graves para o governo que vier a ser
eleito e para a população.
Pelos custos que representam para a Nação,
devia haver um mandato curto (seis meses) de transição para os vices daqueles
titulares que, nos respectivos cargos, candidatam-se à reeleição. É preciso
proteger a máquina pública dos financiamento das campanhas de quem está em
exercício em cargos como o de presidente da República, governador ou de prefeito.
É, sim, uma desincompatibilização. Os vices substitutos cumpririam o papel
de evitar a paralização de programas governamentais – se existirem - e de
resguardar os recursos públicos da sanha da reeleição. Caberia a ele encerrar
aquele mandato, sem se envolver nas eleições.
Precisa-se dar um fim á reeleição inventada
por FHC, que inspirou trampolins contábeis dentro do Tesouro Nacional. É uma
festa de gastos com dinheiro público, sem qualquer retorno para o sistema
produtivo. Como se prevê, constitui em ameaça a economia nacional em 2022.
*Jornalista e professor: autor de
“Pinguela: a maldição do Vice”. Brasília: Otimismo, 2018
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