Valor Econômico
Haverá disputa na Dutra, BR-381 e nos
terminais em Santos
Ecorodovias e CCR entregaram ontem, na B3,
seus lances para a relicitação da Via Dutra (Rio-São Paulo). As duas empresas
vão competir, na sexta-feira, pelo novo contrato da principal concessão
rodoviária do país.
O desconto oferecido sobre a tarifa-teto de
pedágio tem um limite de 15%. O governo avalia que ambas vão chegar a esse
percentual e entrar na segunda rodada da disputa, que definirá o vencedor pelo
pagamento da maior outorga. Para a CCR, está em jogo manter sua concessão mais
nobre. Para a Ecorodovias, roubar o “filé mignon” de sua maior concorrente.
Dessa briga, depois de amanhã, vai emergir a líder do mercado rodoviário.
Foi uma estratégia do governo ter a relicitação da rodovia, que exigirá aportes de quase R$ 15 bilhões, antes dos demais leilões no setor. Por quê? O capital imobilizado no contrato da Dutra, que terá uma nova pista na Serra das Araras e a modernização da BR-101 (Rio-Santos) como exigência adicional, é tão grande que provavelmente afastará o grupo vencedor de outras disputas. Quem ganhar o certame agora leva o ativo mais cobiçado entre todas as estradas oferecidas. Quem perder fica livre para entrar pesado nos próximos certames.
Os últimos leilões de rodovias têm atraído
poucos estrangeiros. A CCR e a Ecorodovias, além de pequenas empresas regionais
que formaram consórcios em casos específicos, vêm sendo a salvação da lavoura.
Por isso, havia preocupação quanto à sequência das licitações. Mas há sinais
bem positivos. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, deve adiar por
algumas semanas o leilão da BR-381/262 - entre Minas Gerais e Espírito Santo -
por causa do pedido de grupos interessados que querem mais tempo para fazer o
cálculo de seus lances. Ele está marcado para 25 de novembro. O fundo Pátria,
além das espanholas Sacyr e Acciona, foram ao governo deixando claro que esse
prazo adicional é para refinarem suas propostas. A CCR, dependendo do que
acontecer na Dutra, também quer entrar. O contrato prevê investimentos de R$
7,3 bilhões e duplicação integral da chamada “Rodovia da Morte”.
Com as indicações de que o leilão da
BR-381/262 será bem-sucedido, o foco do ministério se volta para as Rodovias do
Paraná, um conjunto de seis lotes de estradas federais e estaduais que somam
3.368 km e vão requerer R$ 43 bilhões em aportes privados. De forma
surpreendente para o próprio Tarcísio e equipe, essas rodovias foram objeto de
forte interesse no “road show” que fizeram em Nova York e teriam entrado na
lista “top 5” entre ativos os logísticos no Brasil.
Um dos investidores que mais prometeram
estudar as rodovias foi o fundo australiano Macquarie Asset Management, que tem
US$ 562 bilhões em ativos por 22 países - mas nada aqui. Em concessões de
infraestrutura, o histórico de demanda é valioso, por diminuir riscos
associados a estimativas errôneas. Esse aspecto joga a favor da relicitação no
Paraná.
Passando para portos, o governo agendou
para 19 de novembro o leilão de dois terminais voltados para granéis líquidos
(combustíveis) em Santos, o STS 08 e o STS 08A. Será o maior arrendamento
portuário da história, com investimento de quase R$ 1 bilhão em expansão da
capacidade. Também para essa disputa, as sinalizações são ótimas. Raízen,
Santos Brasil, Catallini / Spolt, Ultracargo, Ageo e Transpetro podem oferecer
propostas. Há chance zero de “vazio” (um leilão sem ofertas).
Pesos-pesados do setor já estão de olho
também no leilão do STS 10, o novo superterminal de contêineres em Santos, que
será licitado só em 2022. China Merchantes, a filipina ICTSI e a PSA (Port of
Singapore Authority) estão de olho. Santos Brasil e BTP, que brigam pela
liderança no porto, não querem perder a chance de crescer. As sócias da BTP -
APM Terminals (subsidiária da dinamarquesa Maersk) e a suíça TIL - também
cogitam participar sozinhas.
Por incrível que pareça, há dúvidas em
torno de dois ativos normalmente tidos como “joias da coroa”. No caso do
aeroporto Santos Dumont (RJ), a visão do governo federal colide com os planos
do Estado e da prefeitura, o que provoca insegurança nos investidores. Em
Congonhas (SP), consultores alertam que o cenário mudou. Ninguém sabe se o
ritmo das viagens corporativas algum dia voltará aos patamares pré-pandemia. O
Zoom veio para ficar. Com mais e-commerce e o receio de circular em ambientes
fechados, também por causa da covid-19, haverá menos apelo nos “aeroshoppings”.
Além dos blocos capitaneados por Santos Dumont e Congonhas, o governo leiloará
juntos os aeroportos de Belém e Macapá. Para esses dois, o mercado aposta na
francesa Vinci, que já arrematou neste ano os terminais da região Norte,
incluindo Manaus. “Não precisa nem fazer leilão”, diz uma fonte.
Bobos somos nós
A MP 1.055, medida provisória da crise
hídrica, não deve mais ser votada no Congresso e com isso perderá validade no
dia 7 de novembro. A recuperação dos reservatórios nas últimas semanas amenizou
o risco de blecautes e tira um pouco da urgência de decisões tomadas pela
“Câmara do Apagão”, apelido da Câmara de Regras Excepcionais para Gestão da
Crise Hidroenergética (Creg), criada pela MP. De mais a mais, outra medida
provisória pode ser editada com a virada do ano legislativo, se for necessário.
Houve intensa articulação de associações da
indústria, do Ministério da Economia e até do Tribunal de Contas da União (TCU)
contra uma emenda introduzida pela Câmara dos Deputados que repassaria a conta
de construir gasodutos em todo o país para a tarifa dos consumidores de
energia. Uma fatura em torno de R$ 33 bilhões para levar gás natural até localidades
do país onde o insumo hoje não chega. Seria o desfecho perfeito, para a turma
que gosta de socializar custos e embolsar benefícios, de outro “jabuti”: a
exigência de novas usinas térmicas no Norte, Centro-Oeste e Nordeste como
contrapartida à privatização da Eletrobras. Falta justamente o combustível para
viabilizá-las.
Agora, diante da tentativa de empurrar para
a sociedade mais um gasto bilionário, preferiram ver a MP caducar. Dizem por aí
que a esperteza, quando é muita, engole o dono. Quem dera. Bobos somos nós. O
Centrão - aliado a um empresário conhecido pela defesa dos gasodutos - só vai
esperar o próximo projeto de lei ou medida provisória sobre energia para atacar
novamente. Por ora, devemos um chope a São Pedro.
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