quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Bruno Boghossian – O doutor e o almirante

Folha de S. Paulo

Médico defendeu presidente e disse que ele foi mal interpretado em declaração falsa sobre vacinas

O médico que comandava o Ministério da Saúde no início da pandemia foi demitido porque decidiu contestar os desatinos do chefe. Na véspera de perder o cargo, Luiz Henrique Mandetta reconheceu que estava em risco porque havia "um descompasso" entre a pasta e Jair Bolsonaro. O doutor que ocupa a cadeira hoje prefere não correr o mesmo perigo.

Marcelo Queiroga faz figuração no cargo de ministro da Saúde enquanto espera para lançar uma candidatura nas próximas eleições. Ele já lançou dúvidas sobre o uso de máscaras numa época em que morriam 1.000 pessoas por dia e suspendeu a vacinação de adolescentes para seguir as vontades de um presidente que acredita em boatos da internet.

Agora, o doutor resolveu defender um chefe que espalhou uma associação falsa entre os imunizantes contra a Covid-19 e a Aids. Numa entrevista à agência de notícias portuguesa Lusa, Queiroga disse que Bolsonaro foi mal interpretado e que só existem "narrativas de como o presidente é contra a vacina".

O ministro desfila pelo país com números oficiais da vacinação para fazer propaganda do governo federal, mas é incapaz de desmentir uma das maiores atrocidades fabricadas pelo presidente em sua interminável campanha de sabotagem à imunização dos brasileiros.

Na ausência de um ministro disposto a proteger a saúde da população, surgiu um contra-almirante. O presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres usou o início de uma reunião da agência para rebater a barbaridade presidencial. "As vacinas aprovadas pela Anvisa não induzem a nenhuma doença", disse.

Formado em medicina, o militar se dizia amigo de Bolsonaro e participou de uma aglomeração em frente ao Planalto durante a pandemia. Meses depois, ele foi chamado à CPI e criticou as atitudes do presidente.

Barra Torres tem estabilidade no cargo e mandato até 2024. Queiroga quer segurar a vaga na Esplanada e pedir votos com Bolsonaro em 2022. Para atingir esses objetivos, o ministro prefere só bajular o presidente.

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