Três respostas são consideradas fundamentais para que uma terceira via possa se tornar competitiva: quem vai vencer as prévias tucanas? ex-juiz será candidato? presidente vai conseguir estancar a queda de popularidade?
Adriana Ferraz, O Estado de S. Paulo
Ainda distantes de qualquer sinal de
convergência para uma candidatura única na disputa presidencial de 2022, os partidos do centro
político optam, por enquanto, por um movimento contrário à chamada terceira
via. A praticamente um ano da definição do próximo presidente da República, ao
menos 11 pré-candidatos se apresentam para a disputa. Entre eles o presidente
do Senado, Rodrigo Pacheco, que se
filiou nesta quarta, 27, ao PSD, e entrou oficialmente nessa fila.
Este cenário reflete a movimentação dos presidenciáveis que hoje estão nas primeiras colocações das pesquisas de intenção de voto, a começar pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, que colocou trabalha persistentemente por criar condições para a reeleição. Neste ano, Bolsonaro reforçou a agenda de rua com apoiadores – incluindo as motociatas – e, mais recentemente, lançou o Auxílio Brasil, programa social que substituirá o Bolsa Família.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem se dedicado a encontros partidários desde que se tornou novamente elegível por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Com suas condenações na Lava Jato anuladas e seu retorno ao xadrez político, o petista aparece com larga vantagem nas pesquisas, o que obrigou à revisão de estratégias nos campos da direita e da esquerda.
Centro congestionado
No centro agora congestionado, os
candidatos a candidato ao Planalto, por sua vez, estão em compasso de espera.
Três respostas são consideradas fundamentais para que uma terceira via possa se
tornar real: Quem vai vencer as prévias tucanas? Sérgio Moro será
candidato? Bolsonaro conseguirá estancar sua queda de popularidade e se manter
em 2022 como um candidato competitivo?
Da primeira pergunta ao menos uma definição
será dada. Se o escolhido for o governador de São Paulo, João Doria,
dificilmente o PSDB aceitará compor uma chapa presidencial que não seja
encabeçada pelo partido. Já se o governador gaúcho Eduardo Leite vencer,
analistas tratam essa possibilidade como possível e até provável, o que
facilitaria o entendimento com outras siglas.
“O resultado dessa disputa definirá os
arranjos entre os partidos do centro. Se Leite vencer, e aceitar mesmo ser vice
– o que é, aliás, um anseio de uma ala do partido –, ele abre caminho para que
outros nomes façam o mesmo. Doria dificilmente teria a mesma disposição. É
nesse sentido que as prévias importam para fora do PSDB”, avalia a cientista
política Lara Mesquita, do Centro de Estudos em Política e Economia do Setor
Público (Cepesp) da FGV-SP.
A definição tucana também pode influenciar
em outra questão ainda em suspenso: a participação do ex-juiz e ex-ministro
Sérgio Moro na eleição. Ainda relativamente bem colocado nas pesquisas de
intenção de voto, pontuando entre 5% e 10% de acordo com o cenário, Moro nunca
afirmou e tampouco descartou interesse no Planalto. Enquanto deixa a porta
aberta para encabeçar uma chapa, o ex-juiz se aproxima de Doria para uma
eventual parceria.
Mesmo que confirme a filiação ao Podemos
nos próximos dias, o símbolo máximo da Lava Jato deverá enfrentar uma série de
obstáculos para viabilizar uma candidatura presidencial. A começar pela busca
de aliados – Moro enfrenta forte resistência no meio político, pois a operação
atingiu dezenas de parlamentares que ainda ocupam cadeiras no Congresso.
Para o cientista político Christopher
Garman, no entanto, o fator preponderante na definição de uma terceira via com
chances de vitória não está nas respostas do PSDB ou de Moro, mas nos índices
de popularidade do presidente. “O que falta para o centro ser competitivo é
espaço. O presidente precisa se enfraquecer mais para que uma terceira via
apareça. Hoje, com a aprovação dele na casa dos 25% a 30% essas chances são
muito baixas. Calculamos que esse patamar precise cair mais dez pontos”, diz o
diretor executivo da Eurasia para as Américas.
Decidido a espremer esse centro e, ao mesmo
tempo atrair o eleitorado petista, Bolsonaro aposta suas fichas no Auxílio
Brasil, sem levar em conta o ônus econômico que a concessão do benefício pode
lhe render, como aumento dos juros e inflação ainda em alta.
Para a economista Ana Carla Abrão, a
expectativa de piora na economia pode ajudar na construção de uma candidatura
concentre apoios no centro. “O Brasil sempre reage ao abismo. E estamos à beira
dele. Isso, ao mesmo tempo que nos impõe riscos e grandes desafios, favorece o
consenso em torno de um nome que se contraponha ao PT e ao Bolsonaro. A crise
econômica que já chegou e que será agravada pela via populista que o governo
agora sinaliza adotar sem pudor, ao mesmo tempo que nos impõe um altíssimo
custo econômico e social, favorece o surgimento de uma alternativa”, diz Ana
Carla, que é colunista do Estadão.
Lula ensaia guinada ao centro político
Líder nas pesquisas, Lula foca no discurso
da retomada econômica e social enquanto trabalha para aumentar seu leque de
alianças. O petista ensaia uma guinada ao centro para mostrar-se viável ao
mercado e atrair o mesmo centro democrático.
E é nesse cenário, já congestionado, que
outros nomes tentam se firmar como opção aos eleitores que rechaçam a
permanência de Bolsonaro e a volta de Lula. Se a eleição fosse hoje, ao
menos Ciro Gomes (PDT)
afirma que não vai retirar se nome da futura disputa.
Terceiro colocado em 2018, o pedetista já
tem o aval do partido para lançar-se pela quarta vez à Presidência e, aos
poucos, vai montando suas estratégias, com jingle, plano de governo e até
marqueteiro contratado: João Santana, ex-PT. O discurso e a imagem têm se
adaptado, assim como o arco desejado de alianças, que inclui agora até paridos
mais à direita, como o DEM e o PSL
O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o
apresentador José Luiz Datena (PSL) são alguns dos nomes com quem Ciro tem
conversado para formar uma chapa. Ainda pontuando nas pesquisas, Mandetta já
disse aceitar ser vice, mas, como Datena, aguarda os rumos que seu partido vai
tomar diante da fusão com o PSL no novo União Brasil.
Com exceção de Ciro, Bolsonaro, Lula e dos
tucanos Doria, Leite e Artur Virgílio (também inscrito nas prévias, mas sem
chances reais), o desejo de concorrer à Presidência ainda é projeto embrionário
para os demais nomes.
Pacheco foi lançado ontem em cerimônia
repleta de simbolismo planejada pelo criador e presidente nacional do PSD,
Gilberto Kassab. O ato de filiação se deu em Brasília, no Memorial Juscelino
Kubitschek – mineiro, apaziguador e democrático, assim como o ex-prefeito quer
vender Pacheco.
O presidente do Congresso vem sendo
colocado por seus aliados como um nome para acabar com a divisão do País e
inserir as reformas e planos de desenvolvimento no topo da lista de prioridades
almejadas pelos mais diversos setores da economia – assim como JK. É advogado,
jovem, agregador e de centro.
Menos conhecidos até o momento pelo público em geral, outros potenciais concorrentes se lançaram ao Palácio do Planalto: o cientista político Luiz Felipe d’Avila, pelo Novo, e os senadores Alessandro Vieira (Cidadania) e Simone Tebet (MDB), a única mulher até agora a demonstrar intenção de participar mais ativamente da disputa presidencial de 2022. Independentemente do nome, a professora Lara Mesquita reforça que as alternativas à polarização precisam estreitar o espaço para candidaturas se quiserem oferecer alternativa concreta para o eleitor no ano que vem. “Hoje, o cenário é de dispersão.”
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