quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Bruno Boghossian – Moro, pela direita

Folha de S. Paulo

Na largada, ex-juiz tenta seduzir conservadores, militares e viúvos de Paulo Guedes

Sergio Moro fez questão de assumir o rótulo da direita na corrida pelo Palácio do Planalto. Depois de servir ao governo Jair Bolsonaro, o ex-juiz mostrou que vai trabalhar para roubar do presidente essa fatia do eleitorado.

Em seu primeiro pronunciamento depois de se filiar a um partido, nesta quarta-feira (10), Moro tentou exibir uma plataforma mais ampla do que os lemas anticorrupção que ele explorou para ganhar projeção política.

O ex-juiz fez um discurso de quase 50 minutos em que citou valores cristãos, a proteção da família, o livre mercado, reformas econômicas e um aceno às Forças Armadas.

Moro apresentou um projeto que deixa poucas dúvidas sobre os rumos de sua campanha. Se entrar na corrida presidencial, ele tentará seduzir o eleitor que votou em Bolsonaro em 2018. A ideia é convencer esse grupo de que ele tem compromisso com princípios semelhantes aos do atual governo, mas com mais chances de derrotar Lula num segundo turno.

O ex-juiz tentou acoplar uma nova agenda a sua fixação pela bandeira do combate à corrupção. Moro disse que este deve ser o caminho para reduzir desigualdades e gerar emprego, mas também para "proteger a família" e "viabilizar as reformas" —destacando os ajustes econômicos que costumam encantar segmentos que apoiaram o capitão na última campanha.

São tiros múltiplos para acertar o mesmo alvo. Ao repisar o discurso da corrupção, Moro ativa o antipetismo que ajudou a impulsionar Bolsonaro há três anos. Da mesma forma, ele se esforça para descolar eleitores de seu ex-chefe, piscando para os viúvos de Paulo Guedes e assumindo o papel de porto seguro para conservadores.

O primeiro grupo recebeu um recado quando o ex-ministro falou em combater as desigualdades com "mais do que programas de transferência de renda", recorrendo à cartilha liberal que destaca a educação e o emprego como mecanismos para tirar a população da pobreza.

Num trecho direcionado aos conservadores, Moro falou em preservar a família brasileira da violência, da desagregação e das "drogas que ameaçam nossas crianças". Para completar, prestou reverência às Forças Armadas, prometendo se diferenciar de Bolsonaro ao rejeitar a exploração dos militares para interesses pessoais.

A campanha do ex-juiz abre uma disputa direta pelos votos da direita neste que talvez seja o momento de maior fragilidade política do presidente. Esse cenário deve favorecer Moro agora, mas também pode reacender as lembranças de sua passagem por um governo desastroso.

 

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