Folha de S. Paulo
Na largada, ex-juiz tenta seduzir
conservadores, militares e viúvos de Paulo Guedes
Sergio
Moro fez questão de assumir o rótulo da direita na corrida pelo
Palácio do Planalto. Depois de servir ao governo
Jair Bolsonaro, o ex-juiz mostrou que vai trabalhar para roubar do
presidente essa fatia do eleitorado.
Em seu primeiro pronunciamento depois
de se filiar a um partido, nesta quarta-feira (10), Moro tentou exibir uma
plataforma mais ampla do que os lemas anticorrupção que ele explorou para
ganhar projeção política.
O ex-juiz fez um discurso de quase 50
minutos em que citou valores cristãos, a proteção da família, o livre mercado,
reformas econômicas e um aceno às Forças Armadas.
Moro apresentou um projeto que deixa poucas dúvidas sobre os rumos de sua campanha. Se entrar na corrida presidencial, ele tentará seduzir o eleitor que votou em Bolsonaro em 2018. A ideia é convencer esse grupo de que ele tem compromisso com princípios semelhantes aos do atual governo, mas com mais chances de derrotar Lula num segundo turno.
O ex-juiz tentou acoplar uma nova agenda a
sua fixação
pela bandeira do combate à corrupção. Moro disse que este deve ser o
caminho para reduzir desigualdades e gerar emprego, mas também para
"proteger a família" e "viabilizar as reformas" —destacando
os ajustes econômicos que costumam encantar segmentos que apoiaram o capitão na
última campanha.
São tiros múltiplos para acertar o mesmo
alvo. Ao repisar o discurso da corrupção, Moro ativa o antipetismo que ajudou a
impulsionar Bolsonaro há três anos. Da mesma forma, ele se esforça para
descolar eleitores de seu ex-chefe, piscando
para os viúvos de Paulo Guedes e assumindo o papel de porto seguro
para conservadores.
O primeiro grupo recebeu um recado quando o
ex-ministro falou em combater as desigualdades com "mais do que programas
de transferência de renda", recorrendo à cartilha liberal que destaca a
educação e o emprego como mecanismos para tirar a população da pobreza.
Num trecho direcionado aos conservadores,
Moro falou em preservar a família brasileira da violência, da desagregação e
das "drogas que ameaçam nossas crianças". Para completar, prestou
reverência às Forças Armadas, prometendo se diferenciar de Bolsonaro ao rejeitar
a exploração dos militares para interesses pessoais.
A campanha do ex-juiz abre uma disputa
direta pelos votos da direita neste que talvez seja o momento de maior
fragilidade política do presidente. Esse cenário deve favorecer Moro agora, mas
também pode reacender as lembranças de sua
passagem por um governo desastroso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário