O Estado de S. Paulo
STF agravou a briga dentro do Centrão pelo acesso ao cofre aberto por Bolsonaro
O orçamento secreto agora não tão secreto
vai continuar por outros meios, mas a decisão do STF garantiu a briga no
consórcio montado para gastar à vontade em ano de eleição. Os consorciados são
parlamentares do Centrão e Jair Bolsonaro.
O processo que levou ao orçamento secreto
agora não tão secreto começou lá atrás, ainda durante Dilma, e tinha como
objetivo limitar a capacidade do Executivo de manipular votos no Parlamento via
distribuição de emendas. Foi “aperfeiçoado” por Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre
dentro do mesmo espírito, ou seja, o Legislativo avançando em suas
prerrogativas.
Coube ao “gênio” político Jair Bolsonaro consumar a entrega de fatia importante de seus poderes – a alocação de recursos através do Orçamento – aos chefões do Centrão, hoje os verdadeiros donos das principais decisões de governo. Eles já estavam em rota de colisão entre si por conta do único fator que lhes interessa, que é acesso aos cofres e máquina públicas.
A disputa tinha sido trazida a público no
começo da semana pelo chefão do PL, ao qual Bolsonaro pretende se filiar, e que
já tem um pedaço do Palácio do Planalto. Concorre ali com o chefão do PP, dono
de um outro pedaço. O enfraquecimento de outro chefão do PP, o presidente da
Câmara, trazido pela decisão do STF de suspender em parte o orçamento secreto,
complica o jogo entre esses senhores.
Que já era intrincado o suficiente
considerando-se o papel do Senado, do qual depende agora a tramitação da PEC
dos precatórios e seus R$ 90 bilhões de “espaço fiscal” (na verdade, uma
gambiarra despudorada). Apenas nas aparências o presidente do Senado manifestou
muxoxo com o ataque do STF ao orçamento secreto que ele diz que não existia. Na
prática, seu poder político de barganha aumentou consideravelmente.
Há quem enxergue na decisão claramente
política do STF de suspender as emendas do relator um esforço de “salvar” a
democracia e princípios da Constituição. O que o Direito não consegue, porém, é
salvar o Brasil do seu próprio sistema político, que funciona (desde sempre?)
para alimentar grupos privados (partidos políticos) que se juntam para
apropriar-se de recursos públicos (estruturas do Estado e fundos) em benefício
próprio.
O resultado dessa confusão, em parte um
espelho da confusão mental de Bolsonaro, e da qual o grande público está
alheio, é uma considerável paralisia política agravada por um quadro econômico
que permanece em crescimento muito abaixo do necessário com medíocre
recuperação de emprego e renda. O consórcio Centrãobolsonaro tem condições
apenas de agravar esse quadro.
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