sábado, 6 de novembro de 2021

João Gabriel de Lima - Do blablablá às ações concretas

O Estado de S. Paulo

Governos, empresas, academia precisam dar respostas a perguntas sobre a mudança climática

Chega de blablablá. Inspirados pelo mantra de Greta Thunberg, jovens tomaram as ruas de Glasgow e pediram aos líderes mundiais medidas concretas contra as mudanças climáticas. O papel dos governos é essencial para evitar um futuro de pesadelo – o qual, por óbvio, afetaria principalmente os que hoje estão na casa dos 20 anos. Eles não são, no entanto, os únicos que devem ser cobrados.

Presidentes e primeiros-ministros têm jurisdição apenas sobre os países onde foram eleitos. As nações têm uma grande contribuição a dar – o Acordo de Paris é basicamente sobre isso.

Mas a mudança climática é um problema global. As redes transnacionais precisam contribuir.

Que redes são essas? Uma das definições mais usuais de globalização é: livre circulação de bens, finanças, pessoas e conhecimento. Pelo menos duas dessas redes – a do conhecimento e a das finanças – fizeram anúncios importantes na conferência do clima de Glasgow que correm o risco de passar despercebidas em meio aos acordos governamentais.

A COP 26 abrigou o encontro da Global Alliance of Universities on Climate (Gauc), que reúne a nata dos pesquisadores de mudanças climáticas.

Participam da aliança, entre outras, as americanas Columbia, Berkeley e MIT, e as britânicas Oxford, Imperial College e London School of Economics.

As universidades de Tóquio, Tsinghua e Federal do Rio de Janeiro representam, respectivamente, Japão, China e Brasil.

Na reunião da Gauc em Glasgow, realizada ontem, falou-se na troca de créditos de carbono entre as universidades. “Com isso, a academia se envolverá fortemente no desenho de um mercado mundial de carbono”, diz a brasileira Suzana Kahn-ribeiro, da UFRJ, uma das líderes do Gauc e mentora do projeto. Ela é entrevistada em um dos minipodcasts da semana.

Outra iniciativa importante veio na área da economia globalizada. Na quarta-feira, a Fundação IFRS, responsável pela uniformização internacional dos relatórios financeiros das empresas, anunciou que irá desenvolver métricas universais para que as companhias possam padronizar seus perfis de sustentabilidade. “Com isso, investidores poderão incluir dados ESG em suas análises de risco e de oportunidades, com maior comparabilidade e mais rigor científico”, diz o português Rodrigo Tavares, integrante da rede de líderes jovens globais do Fórum Econômico Mundial. Ele é entrevistado em outro minipodcast.

Governos, empresas, academia. Todos esses atores precisam dar respostas aos que, com razão, fazem perguntas inconvenientes sobre a mudança climática. De preferência, com ações concretas – e sem blablablá.

 

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