O Estado de S. Paulo
A repercussão negativa da votação da PEC
dos precatórios não tem precedente recente
Quinze milhões de reais. Esse foi o preço
acertado para a compra de voto para aprovação da PEC dos precatórios, que é
também a PEC do calote, PEC furateto, PEC da reeleição e a PEC do Auxílio
Centrão. Uma proeza mesmo para os padrões atuais da Câmara.
Um cruzamento básico do quadro de votação
da PEC com a planilha do Ministério do Desenvolvimento Regional de controle dos
repasses das emendas de relator (RP9) revela que a maioria dos deputados que
apertaram a tecla do sim na madrugada de quinta-feira já era habitué das
emendas de relator.
Metade dos votos favoráveis à PEC do Podemos, PSDB, PSB e PDT também partiu de deputados que já estavam listados nessa planilha como beneficiários dessas emendas, como revelou o Estadão.
De lá para cá, o que aumentou foi o vício
parlamentar por essas emendas, que se transformaram numa droga entorpecente, em
que a ameaça de corte garante também votos.
A votação da PEC deixou o “orçamento
secreto” escancarado para a sociedade desse modelo do toma lá, dá cá, que está
se sofisticando.
Já não há mais negacionismo da sua
existência. Fila de deputados na porta da assessoria da Presidência da Câmara
se formou abertamente para a negociação das emendas. E, sem pudores, os valores
das negociações foram falados em reuniões com mais de 20 parlamentares.
Esse relato publicado na reportagem de
ontem do Estadão mostra o quadro estarrecedor. “Colegas nossos de bancada
comentaram que era esse valor, de R$ 15 milhões (para quem votasse a favor da
PEC)”, afirmou o deputado Celso Maldaner (MDB-SC), que votou contra e disse não
ter recebido nada.
É a casa da mãe joana, o lugar onde vale
tudo e predomina a balbúrdia. A repercussão negativa dessa votação não tem
precedente recente em se tratando de assunto econômico tão árido como os
incluídos na PEC. Viralizou. A imagem da Câmara está destruída por completo.
Quem já percebeu o risco de seguir adiante
com esse modelo está disposto a enfrentar a guerra por mudanças nas emendas de
relator que começa a ser travada na próxima semana na Comissão Mista de
Orçamento (CMO).
Entre os que votaram contra e mesmo entre os que garantiram a aprovação da PEC, há um desconforto com as ameaças de retaliação disparadas pelas lideranças. É a percepção de que a falta de transparência é grave, mas pior ainda é deixar o controle desses recursos bilionários nas mãos de poucos caciques de partidos, dos presidentes da Câmara e Senado e do relator do Orçamento. É preciso coragem.
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