Renata Galf / Folha de S. Paulo
SÃO
PAULO - Um
dos pioneiros da sociologia do trabalho no país, o sociólogo e cientista
político Leôncio Martins Rodrigues morreu nesta segunda-feira (3). Aos 87 anos,
ele fazia tratamento da doença de Parkinson e estava internado havia três meses
no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
Leôncio
foi professor titular do Departamento de Ciência Política da Unicamp e publicou
diversas obras
sobre política e sindicalismo.
Nascido
em 1934 em São Paulo, formou-se em ciências sociais na USP em 1962. Em 1967
concluiu seu doutorado sobre "Atitudes Operárias na Indústria
Automobilística”, tendo sido orientado pelo sociólogo Florestan Fernandes.
Seus
estudos sobre o sindicalismo lhe renderam, em 2009, o prêmio Florestan
Fernandes, da Sociedade Brasileira de Sociologia.
Já na década
de 90, apontava que os sindicatos eram instituições que estariam em
decadência e que os empregos que surgiam no mercado eram em áreas que não
favoreciam a sindicalização.
Em 1999, publicou a obra "Destino do Sindicalismo”, na qual discutia o futuro dos sindicatos e das relações de trabalho.
Também
pesquisou outros temas relacionados a partidos políticos, eleições e classe
política, principalmente sobre as fontes sociais de recrutamento partidário.
Na
juventude, ainda no colegial, Leôncio se aproximou do trotskismo e aderiu ao
Partido Socialista Revolucionário.
Com
isso, quando ingressou na graduação da USP, aos 25 anos, já tinha experiência
de trabalho e anos de militância política. Ele criticava a atenção que se dava
às obras de Marx e defendia que era preciso estudar o capitalismo moderno.
"Eu
dizia: 'Isso é uma bobagem. Por que não se estuda o capitalismo moderno? Por
que não se estuda o socialismo real?", afirmou em depoimento ao
CPDOC/FGV em 2008.
No
mesmo depoimento à FGV, ele citou Ruth Cardoso e o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso como personagens marcantes em sua trajetória. Ele conta que
Ruth foi sua professora no colegial e que ela o incentivou a estudar ciências
sociais.
Leôncio
também participou da criação
do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), grupo de pesquisa
fundado em maio de 1969, em plena ditadura, e que reuniu nomes como Elza
Berquó, Paul Singer, Cândido Procópio Ferreira e FHC.
Além
disso, foi membro da Academia Brasileira de Ciência (ABC) e da Ordem Nacional
do Mérito Científico, na classe de mestre e comendador.
"Ele
sofreu muito e batalhou muito pela vida", diz Tereza Sadek, que estava
junto com ele havia 20 anos. Leôncio deixa dois filhos, Daniel e Luciana.
"Léo
era bom de papo, curioso é generoso. Vai fazer falta nesse tempos
anestesiados", escreveu em seu perfil a historiadora e professora da USP
Lilia Schwarcz.
Leôncio
era amigo do ex-presidente e é citado nos Diários da Presidência de FHC. Em
1995, por exemplo, foi escolhido pelo tucano para representar o Brasil no
Conselho de Administração da OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Ao
longo de sua carreira como pesquisador, lançou mais de 15 obras, entre as mais
recentes estão "Partidos, Ideologia e Composição Social (2002) e
"Pobres e Ricos na Luta Pelo Poder. Novas Elites na Política
Brasileira" (2014).
Em
um estudo em 1987, ao analisar os partidos e deputados da Constituinte,
identificou o fenômeno de que os congressistas evitavam se posicionar
abertamente à direita do espectro ideológico, cunhando o termo “direita
envergonhada”.
"A
julgar pela autodefinição política dos deputados, o Brasil seria um país sem
direita", escreveu no livro "Quem é Quem na Constituinte".
Ao
longo de sua trajetória, passou a ser crítico da esquerda e fez duras falas
contra a oposição que o PT e os sindicatos faziam ao então governo tucano.
Em entrevista
à Folha em 2006, definiu os
petistas como "órfãos com pai vivo". À época ele afirmou que
acreditava que o escândalo do mensalão contaminara toda a classe política e
abrira espaço para o surgimento de lideranças carismáticas e populistas.
Na obra de 2014, comparou os patrimônios de deputados das quatro legislaturas anteriores e identificou que havia um processo de popularização da classe política no Brasil, tendência que vinha afastando do poder os membros das classes mais ricas.
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