O
cânon ocidental ficará cada vez restrito ao estudo dos especialistas
Foi
assim que Cornel West, um dos mais destacados intelectuais negros dos EUA,
classificou a decisão da Universidade Howard, talvez a mais importante
instituição de ensino negra do país, de fechar seu departamento de estudos
clássicos.
West,
que escreveu um contundente artigo de opinião para o Washington
Post, afirma que a noção de crimes do Ocidente se tornou tão central na
cultura americana que ficou difícil reconhecer as coisas boas que o Ocidente
proporcionou, notadamente os clássicos, que são clássicos justamente porque
permitem uma conversação universal, abarcando pensadores de diferentes eras e
povos.
Diretores de Howard responderam, no New York Times. Dizem que, ao contrário de universidades brancas de elite, a instituição não tem dinheiro para tudo e teve de estabelecer prioridades. Afirmam que os alunos de Howard não ficarão sem ler Platão, Aristóteles e outros clássicos, apenas que não haverá mais um departamento exclusivo dedicado a esses pensadores.
Os
clássicos estão morrendo? Morrer, eles não morrerão. Haverá sempre, nas
universidades e fora delas, uma legião de estudiosos que garantirão que nosso
conhecimento sobre esses autores não só não regredirá como avançará. Eu receio,
porém, que o chamado cânon ocidental será cada vez mais objeto de estudo de
especialistas e menos um corpo de referências que todos os cidadãos educados
reconheçam.
Isso
é ruim, porque, assim como a concordância acerca do que são fatos é fundamental
para a ciência e a democracia, um universo de noções comuns em que as pessoas
possam se apoiar para dialogar, trocar ideias e identificar-se é vital para a
constituição de uma sociedade.
E é preferível que esse universo seja povoado por autores densos, que comportem interpretações complexas e que resistiram ao teste do tempo a que seja determinado pelos modismos simplificadores das guerras culturais.
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