sábado, 31 de dezembro de 2022

Luiz Werneck Vianna* - Concretizar democraticamente o nacional-desenvolvimentismo

Até aqui, tudo bem, teriam sido, no registro anedótico de Millor Fernandes, as palavras proferidas por um desastrado ao cair do 10º de um prédio ao passar pelo 9º, tal como podemos conjeturar a poucos dias da investidura presidencial de Lula e Alkmin, cerrando os olhos para não ver os amotinados que ainda sonham com uma intervenção militar acampados nas cercanias da Praça dos Três Poderes esperando a solução mágica de um golpe militar. Verdade que, furando a bolha dos conspiradores contra a ordem democrática, o que ainda nos resta entre seus defensores se apresta a tomar medidas que a defendam. Nessa mesma direção, conta-se com que a imensa participação popular que se espera para cerimônia da posse presidencial atue como força dissuasória dos tresloucados.

Fora o imprevisto, sempre uma possibilidade face a insânia que medrou livre nos últimos quatro anos, pode-se, ao fim e ao cabo, realizar uma celebração cívica para o recomeço da vigência dos rituais próprios à democracia. Mas que ninguém se engane, finda a festa, a inana dos conspiradores antidemocráticos seguirá seu curso, em certos setores ainda mais enraivecida pelo infortúnio dos seus propósitos, e que têm em mãos posições nos poderes legislativos e nas máquinas estaduais de várias cidades e estados, além do fato de terem expressão partidária.

Pablo Ortellado - Final melancólico

O Globo

Durante quatro anos, ele repetiu que a “liberdade” deveria valer mais que a própria vida. Mas, agora, quando teria de colocar seus ideais à prova, preferiu fugir para os Estados Unidos

Depois de dois meses de silêncio, no último dia útil do seu governo, Bolsonaro falou. Foi elíptico e evasivo sobre os temas importantes e fugiu logo em seguida para os Estados Unidos. Foi um final melancólico para uma aventura perigosa. A democracia brasileira sobreviveu, mas saiu chamuscada. Ganhamos um respiro, mas o risco não foi de todo afastado.

A maior parte do pronunciamento de mais de 50 minutos foi dedicada a celebrar as realizações do governo. Mas, entre louvores ao preço baixo dos combustíveis e à criação do Auxílio Emergencial, surgiram alertas sobre a volta do PT e justificativas para ele não ter atendido aos radicais acampados nos quartéis. Tudo sob uma chuva de comentários de espectadores no YouTube pedindo intervenção militar.

Bolsonaro disse que, nestes dois meses de silêncio estratégico, não ficou parado: “Como foi difícil ficar dois meses calado trabalhando para buscar alternativas!”. As alternativas, sabemos pelas movimentações noticiadas pelos jornais, foram a busca do apoio das Forças Armadas e do Parlamento para uma ruptura autoritária.

Eduardo Affonso - Adeus, Jair

O Globo

Seu maior legado é o que toma posse neste domingo. Um retrocesso de seis anos para retomada do que já não deu certo, nem nunca dará

Duas cartas lhe foram endereçadas, aqui nesta coluna. A primeira, pouco antes da eleição de 2018, contém mais pensamento mágico que qualquer outra coisa. Dizia: “Você é depositário das esperanças de milhões e milhões de brasileiros. São pessoas que o admiram ou apostam em você para nos livrar de um mal maior. Tomara que não estejam cometendo um equívoco”.

Estavam.

Prosseguia, num misto de sugestão e súplica: “Não entre no toma lá dá cá. Não faça conchavo”. Você entrou. Fez. “Descupinize o Estado. Deixe-o mais leve, mais ágil, mais saudável. Dê um basta nos privilégios; acabe com os feudos, as tetas, as tretas. Desestatize, desburocratize, reforme. Melhore a vida do cidadão. Devolva com saúde, educação, saneamento, infraestrutura e segurança o imposto que ele paga.” Parece psicologia reversa: foi feito exatamente o contrário.

Ascânio Seleme - Pelé, respeito à hierarquia

O Globo

Jornalismo é também hierarquia. Não fosse ela, não haveria manchete nos jornais, e as notícias seriam amontoadas pela ordem de chegada. Nos primórdios da internet, era assim nos sites noticiosos. Mas, mesmo o ambiente digital rendeu-se à autoridade da relevância. O mais importante vem antes, tem mais destaque, ganha caixas altas e, se possível, brilha e pisca. É o caso de Pelé. Sua morte atraiu todas as atenções do dia 29 de dezembro. O anúncio dos derradeiros ministros de Lula, os preparativos para a sua posse e a prisão de bolsonaristas radicais foram praticamente ignorados nas TVs e nos jornais digitais durante toda a tarde. A morte de um rei é muito mais notícia do que a assunção de um presidente.

E não estamos falando de um rei qualquer, de um filho nobre que herdou a coroa que pertencia ao seu pai ou a sua mãe. Não. Pelé foi um self-made-king, um rei que se construiu, que desenhou a coroa que mereceu usar em cada um de seus 65 anos de reinado. Pelo seu gigantismo e pioneirismo, Pelé foi o principal assunto dos noticiários de TV e destaque em todas as primeiras páginas dos jornais brasileiros e mundo afora. O GLOBO deu quatro primeiras páginas ao rei. Lindas, mais do que primeiras, são capas que ilustram a estatura do atleta. O jornal foi superlativo com Pelé, ele próprio sinônimo de superlativo.

Carlos Alberto Sardenberg - Eu vi o Rei

O Globo

Os que jogavam a seu lado ou contra ele também sabiam que ali estava o melhor de todos, capaz de jogadas impossíveis para os mortais

Vi Pelé jogar. E concordo com Nélson Rodrigues. Pelé sabia que era o Rei. Mais: os que jogavam a seu lado ou contra ele também sabiam que ali estava o melhor de todos, capaz de jogadas impossíveis para os mortais. Mais ainda: a torcida sabia. Todas as torcidas. No estádio, era um espetáculo. Quando Pelé dominava a bola no meio-campo e virava o corpo na direção do gol adversário, as pessoas se levantavam na expectativa.

Reparem: Pelé estava a meio campo do gol, vários adversários à frente, e a torcida já de pé. Quando ele partia em velocidade, as pessoas já estavam comemorando. Mesmo que não saísse o gol, a gente podia dizer: eu vi.

Meu gol preferido é da Copa de 1958, contra o País de Gales. Pelas circunstâncias. Zero a zero, jogo eliminatório, segundo tempo. Pelé está dentro da área, de costas para o gol. Pede a bola. Recebe no peito, deixa cair, um toquezinho sobre as pernas do marcador e coloca no canto.

Ele faria outros gols espetaculares e decisivos. Mas a gente já sabia que era o Pelé. Em 1958, era um rapaz de 17 anos que se apresentava ao mundo. E todos entenderam, era muito mais que um gol de Copa. Ou se poderia dizer: vocês ainda não viram nada.

Governo Lula

Oscar Vilhena Vieira* - O futuro da Constituição

Folha de S. Paulo

O sucesso depende de sua capacidade de articular estabilidade e mudança

Muito antes de DarwinMaquiavel já preconizava —em seus "Discursos"— ser a capacidade de adaptação a principal responsável pela sobrevivência da República. Associada à diversidade e à liberdade dos cidadãos, a disposição para mudar permitiria à República se adaptar às novas circunstâncias, preservando o cerne de sua Constituição.

As constituições modernas são dispositivos institucionais que buscam contribuir para que as Repúblicas sejam capazes de se adaptar, ao estabelecer a liberdade, o pluralismo e a alternância no poder como suas regras essenciais; criando obstáculos, no entanto, para que os que venham a exercer o poder não possam colocar em risco as premissas fundamentais para a sobrevivência da própria República.

Igor Gielow - Bolsonaro sai pela porta dos fundos e arrisca vácuo político

Folha de S. Paulo

Em live lacrimosa, ex-presidente em atividade tenta se desvincular de extremistas que insuflou

Para quem esperava um Götterdämmerung, um crepúsculo dos deuses wagneriano, o ocaso da Presidência de Jair Bolsonaro (PL) chegou ao fim formal nesta sexta (30) com um sussurro algo vazio antes de embarcar rumo ao reino de Donald Trump.

Na forma de uma lacrimosa live, Bolsonaro encerrou dois meses de mutismo para entregar um pacote de platitudes e lamentos. Não chegou a questionar as urnas como de costume, moderando sua agressividade talvez em vista dos dois dias de foro privilegiado que tem pela frente.

Nem tampouco admitiu a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), embora o tenha feito de forma tácita ao admitir que o sol nascerá no dia 1º como sempre. Titubeante, não apagou o efeito que sua reclusão final no Palácio da Alvorada potencialmente causou no movimento que o levou ao poder no pleito de 2018.

Demétrio Magnoli - Imaginando o ano novo

Folha de S. Paulo

Um roteiro para um 2023 genuinamente feliz

O mercado profetiza um início de governo assaltado por repiques de juros que anunciam um horizonte sombrio. A extrema direita sonha com um desastre iminente, acompanhado por atos golpistas multitudinários. Mas, e se 2023 surpreender? Como seria um ano novo genuinamente feliz? Eis um roteiro imaginário.

1. Haddad adota um plano formulado por Persio e Armínio

Março. O ministro da Fazenda levou ao Congresso sua proposta de nova ancoragem fiscal anticíclica. Nas fases de crescimento, faremos elevados superávits primários; nas de recessão, produziremos déficits, irrigando a economia. Como resultado, a dívida pública decrescerá paulatinamente como proporção do PIB. De passagem, Haddad anunciou que o governo gastará de fato, em 2023, apenas cerca de dois terços do espaço fiscal aberto pela PEC da Transição.

Camila Rocha - A última live

Folha de S. Paulo

Desde o início de seu governo, Jair Bolsonaro fez a opção de se dirigir apenas aos seus apoiadores. O final de sua passagem pelo Planalto não foi diferente.

Após dois meses de recolhimento, sua última live no poder foi dedicada a todas as pessoas que permanecem acampadas nos arredores de quartéis à espera de um golpe militar.

Durante a transmissão ficou claro que tal caminho não será trilhado: "não tem tudo ou nada". Para minimizar o clima de velório face à iminência do despejo, a frase "o Brasil não vai acabar no dia 1° de janeiro" foi repetida várias vezes pelo mandatário.

Tais esforços não são em vão. Afinal, o que importa ao bolsonarismo é manter sua base constantemente mobilizada. Sobretudo nos tempos difíceis que se avizinham, a julgar pelos recentes ataques terroristas e pelo que vem se passando acima da linha do Equador.

João Gabriel de Lima * - As várias faces dos desafios de Haddad

O Estado de S. Paulo.

Time de Haddad terá de entregar uma melhora significativa nas áreas social e ambiental

A campanha das “Diretas-já” era um evento histórico, e a tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco não poderia ficar de fora. Corria o ano de 1984, e o jovem presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, Eugênio Bucci, tinha senso de História. Gastou todo o orçamento do grêmio estudantil em manifestações, festas e participações em comícios. Seu sucessor herdou uma dívida portentosa.

“Foi o primeiro ajuste fiscal que tive que fazer”, disse-me certa vez, entre risos, o sucessor de Eugênio Bucci no Centro Acadêmico – o novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A conversa se deu há três anos no bandejão do Insper, onde éramos professores. Salvo engano, o presidente da escola, o economista Marcos Lisboa, estava entre nós – e riu junto.

Bolívar Lamounier* - Programa de governo sem projeto de país?

O Estado de S. Paulo.

Precisamos nos alçar até o degrau superior de uma escada para de lá delinear um horizonte que nos sirva como meta e aspiração

Se o número de ministérios do governo que ora se inicia for uma boa indicação da qualidade do programa que ele pretende implementar, estamos feitos; teremos um governo supimpa.

Infelizmente, no Brasil, em geral acontece o contrário; o presidente quebra a cabeça para encaixar três dúzias de aliados nos ministérios e depois cada um sai à cata de um programa. Ignorando, na maioria dos casos, quais deveriam ser os afazeres de cada um, prefiro me manter a uma prudente distância do emaranhado programático. Abro uma exceção para a Educação. Pelo menos nessa área, atrevo-me a pensar que o governo entrante têm ciência de que a situação brasileira é catastrófica, não comportando reforminhas encabuladas como as que temos tido há séculos.

Entrevista | Carlos Melo: ‘Bolsonaro preferiu liderar os radicais ao invés de uma base social mais ampla’

Por Eduardo Kattah / O Estado de S. Paulo

O cientista político Carlos Melo, professor do Insper, avalia que o presidente Jair Bolsonaro ficou “refém de uma parte dos seus eleitores, os mais radicais”. Para Melo, a última live do presidente antes de deixar o cargo simbolizou o seu dilema, traduzido em um silêncio de dois meses desde que foi derrotado nas urnas pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva. Leia a entrevista:

O presidente Jair Bolsonaro fez uma live, a última antes de deixar o Palácio do Planalto, marcada por justificativas ao seu público pelo silêncio de dois meses enquanto apoiadores se manifestavam contra a vitória de Lula. Como avalia esse discurso final?

Bolsonaro ficou refém de uma de uma parte dos eleitores mais radicais, que vieram com ele até o final e não queriam que ele assumisse a posição civilizada e democrática. Para não desprezar esse leitor radical então ele vem com uma live no final pedindo desculpas, que não pôde atendê-los com um golpe. Bolsonaro preferiu liderar os radicais ao invés de liderar uma base social mais ampla que lhe deu quase 50% dos votos agora.

Entrevista | Sérgio Abranches cientista político: Sem o orçamento secreto, Lula poderá dispensar o Centrão

Por Rayanderson Guerra / O Estado de S. Paulo

RIO — Com o poder do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), limitado pela decisão do Supremo Tribunal Federal que considerou inconstitucional o orçamento secreto, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva precisa de MDB, União Brasil e PSD como fiadores da sua coalizão para levar seu governo para o centro, avalia o cientista político Sérgio Abranches.

Autor de Presidencialismo de coalizão: raízes e evolução do modelo político brasileiro, ele diz que, com esse movimento, Lula pode prescindir do apoio do Centrão. Para Abranches, sem o instrumento derrubado pelo Supremo, o chefe da Câmara perde a força que teve no governo de Jair Bolsonaro. “Sem fontes espúrias de poder, ele (Lira) é um presidente (da Câmara) como outro qualquer.”

Eleito, Lula abriu diálogo com o presidente da Câmara, Arthur Lira, para a aprovação da PEC da Transição. A articulação é uma prévia de como deve ser a relação entre o novo governo e o comando da Casa?

Não é necessariamente o modelo que deve se perpetuar no novo governo porque a correlação de forças na Câmara vai mudar. Temos cerca de 200 deputados que não vão voltar. Vai haver uma mudança no plenário que afeta a relação entre o presidente da República e o presidente da Câmara. O presidente precisa ter uma maioria, e aceitar determinadas modificações que não comprometam o teor de suas propostas. O que aconteceu com a PEC da Transição? No final, ele (Lula) conseguiu o que queria. Fizeram concessões. Esse é o modelo de relacionamento. Com esse Ministério, ele tem uma maioria dentro da coalizão majoritária, que prescinde dos partidos que apoiaram Bolsonaro ou mesmo o Centrão. Precisará de poucos acenos.

Marcus Pestana - O que nos reserva o amanhã?

Poucas vezes no Brasil tantas interrogações povoaram uma passagem de ano. As transições de poder, nestes 38 anos de Nova República, sempre foram tranquilas, exceto nos dois extremos temporais. O General Figueiredo se negou a passar a faixa presidencial à José Sarney, a quem chamava de traidor e pulha. Mas, certamente o faria se o destino não nos tivesse roubado Tancredo Neves. Era uma questão mais pessoal do que institucional. De Sarney e Collor à Michel Temer e Bolsonaro, todos os mandatários cumpriram o rito republicano.

Amanhã, 01 de janeiro de 2023, uma vez mais o gesto da passagem da faixa não ocorrerá. Mas, desta vez, a questão é um pouco mais séria. Jair Bolsonaro, 38º. presidente do Brasil, optou por um silêncio sepulcral após as eleições e por uma ausência eloquente nos dois últimos meses de poder, deixando um vácuo de liderança a partir do qual brotaram iniciativas estapafúrdias de setores radicalizados do bolsonarismo, envolvendo os atos de vandalismo no dia da diplomação dos eleitos e a preparação de atos terroristas antidemocráticos.

Fernando Carvalho* - A Corrupção do Nióbio Brasileiro

Os dados sobre o nióbio são estarrecedores. Trata-se de um minério de importância estratégica internacional. O nióbio é fundamental para a indústria de alta tecnologia. Necessitam de nióbio: a indústria aeroespacial (foguetes); a indústria de armas (mísseis e bombas inclusive atômicas); construção civil (o esqueleto metálico das edificações); naval (lanchas, navios e submarinos); medicina (próteses metálicas e tomógrafos); transportes terrestres (automóveis e caminhões e até o trem bala); petroquímica (gasodutos e tubulações de alta pressão); lentes telescópicas; lâminas de barbear; fabricação de joias; quaisquer produtos da indústria mecânica que exija superligas, ligas supercondutoras, soldas, óxidos; sucroquímica (catálise para a produção de biodiesel); lâmpadas de alta intensidade, dispositivos eletrônicos, capacitores cerâmicos, sondas submarinas. Resumindo: o que há de mais avançado em termos de indústria necessita de nióbio.

Isso porque o nióbio é uma espécie de "enzima" metálica que confere ao aço e outros metais propriedades especiais: leveza, dureza, supercondutividade, resistência à corrosão, à altas temperaturas e ao tempo. Ou seja, a revolução industrial não chegaria ao ápice em que se encontra sem o nióbio. As grandes potências incluem o nióbio entre os metais com oferta crítica ou ameaçada. Em 2010, o portal Wikileaks divulgou um documento do Departamento de Estado dos Estados Unidos que colocava as reservas brasileiras de nióbio como de "importância estratégica para os Estados Unidos".

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Declarações de Haddad apontam direção correta

O Globo

Futuro ministro da Fazenda acerta ao manifestar desejo de “arrumar a casa”, mas também desperta preocupação

Trouxeram certo alívio as declarações do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista ao GLOBO. Seu principal recado: é preciso “arrumar a casa” logo no início do governo, revisando gastos e desonerações promovidos pelo governo Jair Bolsonaro que, segundo ele, resultaram num impacto fiscal equivalente a 3% do PIB. Haddad também se comprometeu a obter um resultado primário em 2023 melhor que o déficit de R$ 220 bilhões previsto no Orçamento. É um alento saber que ele reconhece a situação crítica das contas públicas e se esforçará para equilibrá-las.

Caso cumpra os compromissos, ajudará a criar confiança na política econômica do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, abalada depois da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Transição, que acabou com a credibilidade do teto de gastos e semeou dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida pública.

Poesia | Ano novo - Mário Quintana

 

Música | Joan Baez & Mercedes Sosa - Gracias a la vida (Violeta Parra)

 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Vera Magalhães - Adeus, Bolsonaro

O Globo

Que o Brasil saiba desarmar a bomba do extremismo golpista que ele deixou antes de sair pela porta dos fundos do palácio e da História

O ano termina amanhã e, com ele, o mais desastroso governo do Brasil pelo menos desde a redemocratização. O país precisará, a partir de domingo, ser reconstruído em todas as suas esferas, das relações sociais à economia, passando por direitos humanos, educação, saúde, ciência, cultura, meio ambiente e todas as demais áreas da vida nacional.

Não será tarefa simples fazer as pessoas voltarem a confiar em vacinas e a seguir o calendário de imunização, mesmo de suas crianças. Parece trivial, mas dará trabalho voltar a reunir as famílias para almoçar sem que alguém levante dúvida sobre a segurança das urnas eletrônicas e a regularidade das eleições.

Levará tempo para que pais outrora moderados deixem de enxergar infiltrados comunistas nos professores dos seus filhos ou parem de bradar nos grupos de WhatsApp contra a ideologia de gênero nas escolas caras em que matriculam suas crianças, sem ter a mais pálida ideia de que bobagem estão falando.

A sociedade brasileira foi violenta e rapidamente radicalizada nos últimos quatro anos por Jair Bolsonaro, seus filhos e apaniguados. Alimentada à força com doses diárias e cavalares de teorias da conspiração incubadas no exterior e inoculadas aqui.

Pedro Doria - A missão de Lula

O Globo

Se queremos uma chance daqui a dez ou 20 anos, precisamos resolver o problema da educação básica de massas neste governo

O pesadelo nacional durou quatro anos e se encerra neste domingo com a posse de um novo presidente. Um presidente que, pouco importam seus defeitos, construiu sua carreira política a partir da democracia. Estivemos muito próximos de perdê-la, mais próximos do que muitos se dão conta. Muitos não se dão conta, tampouco, de que Jair Bolsonaro recebeu, neste último segundo turno, mais votos do que teve para elegê-lo em 2018. O eleitorado de Bolsonaro não diminuiu, aumentou ao longo de seu mandato destrutivo, iliberal, anti-iluminista. Daí nasceu o principal desafio para o governo que entra: lidar com a angústia que leva à busca pelo populismo autoritário.

Porque é fácil gritar “fascista”, fazer troça de quem acredita nas mentiras do zap, simplesmente tratar de ignorante quem recusa a vacina, bruto quem compra armas ou com desdém a massa que fez da camisa da seleção a versão contemporânea do uniforme verde-escuro com a braçadeira do Sigma. Por trás de todo esse comportamento que arrasta não só dezenas de milhões de brasileiros, mas também outros tantos americanos que votaram em Donald Trump ou os italianos que elegeram Giorgia Meloni, está a angústia com um mundo em rápida transformação.

Luiz Carlos Azedo - Morte de Pelé ofusca o anúncio dos novos ministros

Correio Braziliense

Era a personalidade brasileira mais admirada e reconhecida internacionalmente; sua morte está tendo enorme repercussão mundial.

A Esplanada, com 37 novos ministros indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, representa uma coalizão de nove partidos no primeiro escalão. Há 11 ministros sem filiação ou vinculação partidária. Ontem, foram indicados os 16 que faltavam, entre os quais duas estrelas, Simone Tebet (MDB) no Planejamento e Marina Silva (Rede) no Meio Ambiente, ambas ex-candidatas a presidente da República. MDB, União Brasil e PSD levaram nove dos novos indicados, a maioria políticos sem projeção nacional. Agora, Lula administra o descontentamento do Solidariedade, PV e Cidadania, partidos que o apoiaram no segundo turno e ficaram fora do primeiro escalão. Lula pretende ampliar seu governo com indicações dessas legendas para cargos importantes no segundo escalão, mas isso ficará para depois da posse.

Entretanto, o anúncio dos novos ministros foi completamente ofuscado pela morte do Pelé, aos 82 anos, que estava internado em estado grave, no Hospital Alberto Einstein, em São Paulo. Ele era a personalidade brasileira mais admirada e reconhecida internacionalmente; sua morte está tendo enorme repercussão mundial. Foram proféticas as palavras do escritor e jornalista Nelson Rodrigues, ao ver Edson Arantes do Nascimento jogar pela primeira vez e se surpreender com a idade do craque: “É um menino, um garoto. Se quisesse entrar num filme da Brigitte Bardot, seria barrado”, escreveu na coluna intitulada “Meu personagem do ano”, de janeiro de 1958. Pelé tinha apenas 17 anos.

Flávia Oliveira - É o fim da monarquia

O Globo

Foi um tesouro que ajudou, mais que qualquer outro jogador, a transformar o Brasil no país do futebol

A monarquia no Brasil chegou ao fim na tarde de uma chuvosa quinta-feira, 29 de dezembro de 2022. Cento e trinta e três anos depois de proclamada a República, partiu o Rei Pelé, primeiro e único, reconhecido aqui e mundo afora — Roberto Carlos, rei para nós, seus fãs, não é universal. Aos 53 anos, não carrego memória de assistir ao vivo Edson Arantes do Nascimento em campo, tampouco contestei sua realeza. Inequívoca.

Jornalista, tive por ofício a possibilidade de viajar para alguns países. Em todos, ao me saberem brasileira, as pessoas faziam referência ao Rei do Futebol. Quando não acontecia, citava eu mesma o ilustre monarca. Pelé, para brasileiros no exterior, era cartão de visita, visto, passaporte. Era a senha para escancarar sorrisos, abrir portas. Ainda é. Será.

Por ser compatriota de Pelé, mais de uma vez recebi pedido ou recomendação de levar na bagagem camisas da seleção brasileira, as amarelas, para ofertar a estrangeiros, dos Estados Unidos à África. Em 1969, ano em que nasci, Pelé viajou com o Santos para jogar um amistoso contra uma seleção do Centro-Oeste da Nigéria. A História conta que a região, em conflito, parou a guerra para lotar o estádio e assistir à partida, que terminou 2 a 1 para o time do Rei. Soberano do futebol, o mineiro de Três Corações fez do uniforme instrumento de diplomacia.

Fabio Giambiagi - Bella Ciao

O Globo

Em breve, voltaremos a tratar de números e outros aspectos frios da realidade. Hoje, porém, é hora de celebrar o ano que vem pela frente

 “O sadismo não pode ser considerado uma estratégia política, mas uma perversão moral” (Procurador Strassera, em “1985”)

Sempre gostei da filosofia de Desmond Tutu, que sugeria: “Não levante a voz: melhore seu argumento.” Em condições normais, encaro esta coluna como um espaço de convencimento, em que a batalha se dá em função da qualidade do raciocínio e não da intensidade do sentimento.

Hoje, porém, irei esquecer tal filosofia. Deixemos então, por um momento, a razão de lado para deixar o sentimento fluir, pois chega ao fim uma época sinistra.

Os historiadores do futuro terão dificuldade em entender como fomos vítimas da praga bíblica que se abateu sobre nós nos últimos anos, com seu legado macabro de tragédias e perdas. Nesta época de trevas, em que o simples exercício da compaixão se tornou malvisto por aqueles que fizeram do desprezo um meio de vida, conhecemos o que o ser humano pode revelar de pior.

César Felício - O 2022 de Lula e Bolsonaro

Valor Econômico

Ano para os polarizadores não seguiu o calendário

O ano de 2022, em termos políticos, começou ainda em 2021 e talvez não termine tão cedo. Foi um ano naturalmente dominado pela sucessão presidencial, e a de Bolsonaro foi mais longa que o normal.

Do lado de Lula, é possível situar o marco zero em dezembro do ano passado, no restaurante Figueira, em São Paulo, quando Lula e Alckmin debutaram como parceiros perante a classe política. Foi o primeiro movimento importante de Lula desde que recuperou seus direitos políticos, em março de 2021.

Lula sinalizou com uma aliança partidária ampla, podendo alcançar siglas do centrão, que lá estavam representadas no jantar do Figueira, mas com poucas concessões no campo econômico. Ele reafirmou bandeiras tradicionais da esquerda, como o freio ás privatizações, por exemplo, e não julgou necessário, ou quem sabe não achou útil, divulgar uma “carta ao povo brasileiro”, como fez em 2022.

Claudia Safatle - Uma nova visão do governo que assume

Valor Econômico

Pedido para que desoneração dos combustíveis não fosse prorrogada contou pontos a favor da racionalidade econômica de Lula e sinalizou que ele está atento às questões fiscais.

Quando assumir o cargo de presidente da República, domingo, Luiz Inácio Lula da Silva estará buscando implementar uma nova visão de governo na política econômica. Uma ótica que privilegiaria a demanda e cuja sustentação acadêmica encontra-se na Universidade de Campinas. Seria preciso, portanto, aumentar a renda para as pessoas comprarem mais bens e serviços, com isso, colocar-se-ia a economia para rodar. O Estado, ao aumentar o gasto, acabaria gerando mais renda, o que se reflete no orçamento.

Fala-se muito hoje em conflito distributivo e em justiça social, o que é um imperativo urgente, mas é raro ouvir alguém, no governo que assume, discorrer sobre eficiência econômica, produtividade e competição. Essa é uma mudança grande de foco. A visão econômica de que o Estado, ao gastar, produz renda, parece uma leitura parcial de Keynes, que é verdade quando a economia está em recessão ou depressão. Mas quando não está, não dá para desconhecer a reação da oferta.

Eliane Cantanhêde - ‘Companheiros’ e ‘companheiras’

O Estado de S. Paulo

Lula quis combinar competência, diversidade e equilíbrio político. Vai funcionar?

Luiz Inácio Lula da Silva anunciou cada ministro como “o companheiro” ou “a companheira”, fosse ele ou ela do PT, “que não é fácil”, do PDT do seu feroz adversário Ciro Gomes, do União Brasil do seu algoz Sérgio Moro ou de qualquer um dos nove partidos que vão se alojar – e eventualmente, ou certamente, se digladiar – na Esplanada dos Ministérios. É a “frente ampla”.

O que mais chamou a atenção no anúncio do último pacote de ministros não foi o excesso de 37 pastas, que já se sabia, nem os escolhidos, já esperados, mas, sim, o atraso, a insistência em valorizar as escolhas femininas e a forma de Lula de se referir à sua equipe a três dias de assumir seu terceiro mandato, depois de tudo.

Laura Karpuska* - Progresso na incerteza

O Estado de S. Paulo

Apesar de tudo, é possível enxergar progresso mesmo em períodos de grande incerteza

O que o futuro nos guarda? É fim de ano. Inevitavelmente, refletimos sobre o passado e nos preparamos para o futuro.

O último Relatório de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas ressalta a dificuldade do nosso tempo. “Vivemos em um mundo de preocupação: a continuidade da pandemia da covid-19, guerra na Ucrânia, temperaturas recordes, incêndios e tempestades.”

Segundo a ONU, há três grandes fontes de incerteza sobre o futuro: a desestabilização planetária causada pelo chamado antropoceno (impacto do homem sobre o planeta), mudanças estruturais sociais e a intensificação da polarização.

Reinaldo Azevedo - Lula divide o poder com os aliados

Folha de S. Paulo

Sai a arruaça de colisão do bolsonarismo; volta o presidencialismo de coalizão

Pronto! Lula indicou os 37 ministros. Talvez haja alguma pacificação "Duzmercáduz", sei lá. Ou o contrário. Não tenho intimidade com essa gangorra e enforcaria o último especulador com a tripa metafórica do último experto (com "x") que tortura os fatos para que caibam em suas apostas. Os olhares analíticos têm lá seus respectivos vieses. O meu é reconstruir o tecido institucional esgarçado e resgatar entes de Estado, como as Forças Armadas, das trevas da fascistização. Nesta quinta, mais uma vez, vimos o Exército servir como "supernanny" de golpistas.

Eis, pois, o meu lado nessa história. "Com responsabilidade fiscal ou sem, Reinaldo?" Ah, com ela! Mas não confundo as minhas próprias contas ou as dos meus amigos e fontes (e seus inevitáveis interesses) com o Evangelho Revelado. Já nem cito o pressuposto, sendo pressuposto, da responsabilidade social. Acrescento aos dois pilares um terceiro: a responsabilidade política.

Vinicius Torres Freire - O ministério de Lula e o Congresso

Folha de S. Paulo

Políticas a que Lula vai dar de fato prioridade, quem vai tocar esses barcos e se são capazes de fazê-lo são as próximas definições

Luiz Inácio Lula da Silva deu nove ministérios, ou praticamente isso, para MDB, PSD e União Brasil. Juntos, esses partidos terão 143 deputados federais a partir do ano que vem.

Como era de esperar, o núcleo da base bolsonarista, PL, PP e Republicanos, não levou nada —até agora. Juntos, têm 187 deputados. Em uma conta simples, a coalizão de apoio a Lula 3 tem 283 deputados.

Não se adquire apoio de partido com porteira fechada, em bloco, como se sabe. Haverá recalcitrantes no centrão luliano. Haverá quem vote com o governo mesmo em partidos como o PL, casamento da extrema direita com a fisiologia mais crua, assim como no PP e no Republicanos. A negociação, de resto, não acabou.

Bruno Boghossian - Uma base aliada em construção

Folha de S. Paulo

Com sequelas das negociações partidárias, petista precisará manter negociações para ter base sólida

Os lances feitos por Lula para acomodar aliados na Esplanada dos Ministérios deram cara à base governista, mas também devem engordar um time de dissidentes no Congresso. As articulações com a União Brasil, que ganhou três pastas, vão deixar sequelas na relação entre a legenda e o novo presidente.

Quando um partido recebe as chaves de espaços cobiçados no governo e se recusa a vestir o boné de aliado, é sinal de que algo deu errado. Integrantes da União indicaram ministros da Integração, das Comunicações e do Turismo, mas dirigentes dizem que as bancadas do partido serão independentes no Congresso.

O anúncio é resultado de uma divisão que o próprio Lula ajudou a aprofundar. O presidente eleito privilegiou o senador Davi Alcolumbre na escolha dos ministros da União Brasil, deixando de lado outros grupos de poder dentro do partido.

Hélio Schwartsman - A fuga

Folha de S. Paulo

Blindagem excessiva impede responsabilização de presidentes

A essa altura, ou Bolsonaro já deixou o país ou está na iminência de fazê-lo. Ele não entregará a faixa presidencial a Lula. É uma questão interessante determinar se se trata de um último ataque simbólico à democracia, um problema de berço (má educação), uma fuga ou uma combinação dos três. Interessa-me hoje a hipótese da fuga.

Uma coisa mal resolvida pelas democracias é a extensão da blindagem judicial concedida a chefes de governo ou de Estado.

Por mais que consideremos a igualdade de todos diante da lei como princípio fundamental, algum nível de proteção precisa haver. De outra forma, seria fácil inviabilizar um governo desferindo contra o presidente uma campanha de assédio judicial (fazê-lo responder a dezenas ou até centenas de processos semelhantes em diferentes comarcas).

Ruy Castro - A taça, enfim, descansou

Folha de S. Paulo

A Fifa não sabe a que intimidades a Jules Rimet teve de se submeter em 1958

O turco Nusret Gökçe, o homem do bife de ouro na Copa do Mundo, é uma potência como açougueiro, chef e restaurateur. Tem 22 restaurantes em cidades internacionais, nos quais serve filés folheados a 24K, rasga os bifes com as próprias mãos na frente do freguês e os salga deixando o sal escorrer pelos antebraços nus. Segundo seus biógrafos, há algo nisso que atiça a lascívia de seus clientes e os faz salivar, um deles Ronaldo Fenômeno. Ronaldo levou os meninos da seleção brasileira ao restaurante de Gökçe em Doha e eles vibraram, embora não se saiba se isso influiu no fiasco do Brasil na competição.

Apitado o final de Argentina x França, Gökçe invadiu o gramado e foi fotografado na premiação segurando a Copa com as duas mãos, levantando-a como se a tivesse conquistado e beijando-a com a maior volúpia. A Fifa, dona do caneco, ficou tiririca —ninguém, exceto os jogadores e as autoridades, pode sequer tocar nele, quanto mais conspurcá-lo com tais intimidades. E promete tomar "providências apropriadas".

O que a mídia pensa - Editoriais /Opiniões

Jamais haverá ninguém que se compare a Pelé

O Globo

Não apenas pelas estatísticas que fizeram dele Rei do Futebol, mas pelo exemplo que deu ao Brasil

Não houve, não há, nem haverá jamais ninguém que se lhe compare. Nas estatísticas, óbvio, mas também — e sobretudo — no exemplo. Foi Pelé — com a marca insuperável de 1.282 gols em 1.364 jogos (479 antes dos 21 anos), três Copas do Mundo antes dos 30 (a primeira aos 17), bicampeonato mundial e dez títulos pelo Santos, além da carreira que lhe rendeu o título de “atleta do século” —, foi Pelé quem mostrou ao brasileiro ser possível livrar-se do rodriguiano “complexo de vira-lata”.

Foi rei no esporte mais popular do planeta, projetando o Brasil como potência. O menino negro, engraxate que jogava com bola de meia em Três Corações, não suportou ver o pai chorar depois da derrota do Brasil na final da Copa de 1950. Prometeu aos 9 anos que traria o caneco— e cumpriu. Quem o viu jogar sabe quão ocioso é compará-lo a outros que tentaram reivindicar (ou usurpar) sua coroa. Não apenas porque suas estatísticas permanecem imbatíveis ou por ter transformado o futebol em arte, com lances desconcertantes, imitados e repetidos à exaustão. Não apenas pela capacidade de enxergar o jogo em três (até quatro...) dimensões, de saber quando chutar a gol e quando driblar, quando fazer uma finta e quando dar um chapéu na defesa e no goleiro — ou apenas quando deixar a bola passar para que um Jairzinho ou Carlos Alberto desferisse a bomba fatídica nas redes. Não apenas por ter dado origem à expressão “gol de placa”, por ter gerado a mística em torno da camisa 10 ou por ter virado substantivo, sinônimo de “o melhor” em qualquer área. Mas sobretudo porque não haveria Maradona, Cruijff, Messi, Neymar ou Mbappé não tivesse havido antes um Pelé.

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - Receita de Ano Novo

 FELIZ ANO NOVO 2023!

Música | Coral Edgard Moraes e Getúlio Cavalcanti - Risos de Mandarim

 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Opinião do dia - Sérgio Abranches*

“Ter os partidos da frente democrática no governo é o único meio de formar a maioria que dará a Lula a governabilidade."

*Cientista Político Sérgio Abranches (@abranches) em Headline Ideias

 

Paulo Fábio Dantas Neto* - O fator Tebet

Penso que a senadora Simone Tebet, ao aceitar o convite do presidente Lula para ser ministra do Planejamento, deve ter avaliado que ficar fora do governo, com posição independente, mesmo sendo coerente com o programa econômico de sua marcante campanha de candidata do centro democrático, seria politicamente inviável, do ponto de vista prático. Dois meses após o segundo turno das eleições, no qual apoiou Lula com assertividade e destemor, tudo no Brasil ainda está polarizado. Inclusive não há movimento concreto, nem da extrema-direita, nem do presidente eleito, para mudar essa situação. A primeira, muito pelo contrário, segue batendo às portas dos quartéis e até resvalando para o terrorismo; o presidente eleito, em ritmo populista que prorroga, em boa medida, o palanque eleitoral, apesar de esforços de racionalidade moderada também presentes em parte da sua equipe de transição.

Por enquanto não se enxerga espaço de vocalização para uma política independente, de centro democrático. Por outro lado, o sinal mais próximo do que poderá vir a ser uma oposição mais civilizada ao governo Lula vem de uma direita na qual posta-se o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Esse novo político, embora tenha discurso e conduta distintos de Bolsonaro, está longe de cogitar rompimento com os grupos reacionários que sustentaram o governo que finda.