O Globo
No início do primeiro mandato, Lula
repreendeu os petistas que criticavam sua reforma da Previdência. “Reconheço o
direito dos companheiros a falar as bobagens que quiserem. Mas, quando a
decisão é tomada pela maioria, todos têm que cumprir”, avisou.
O embate terminou com a expulsão de quatro
parlamentares que votaram contra a orientação partidária. Dezenove anos depois,
o ex-presidente volta a enquadrar os rebeldes do PT. Desta vez, o motivo é a
resistência à aliança com Geraldo Alckmin.
Um manifesto da esquerda petista critica a
negociação de Lula com “forças reacionárias”. O texto chama o ex-tucano de
“neoliberal” e “golpista”, lembrando seu apoio ao impeachment de Dilma
Rousseff. “Alckmin tem uma longa trajetória de combate às posições nacionais,
democráticas, populares e desenvolvimentistas”, diz o documento. Entre os
signatários, há dois ex-presidentes do PT: José Genoino e Rui Falcão.
Os rebeldes têm seus motivos. Antes de Lula
chegar ao Planalto, eles já se esgoelavam contra os governos de Alckmin em São
Paulo. Opunham-se à truculência policial, ao fechamento de escolas, ao arrocho
no funcionalismo.
Os petistas ainda são assombrados por um trauma recente. Dilma se elegeu com um vice conservador. Quando sua popularidade despencou, ele passou a conspirar para derrubá-la. A militância quer garantias de que Alckmin não será outro Michel Temer. Mas não há seguro-fidelidade na política: resta acreditar ou não no ex-rival.
Na quarta-feira, Lula tentou acalmar os
companheiros. Disse que Alckmin faz oposição clara ao bolsonarismo e a João
Doria. Em seguida, indicou que sua decisão já está tomada. “Não terei nenhum
problema em fazer chapa com o Alckmin para ganhar as eleições e governar”,
afirmou.
A maioria do PT já se dobrou à vontade do
ex-presidente. Foi o que aconteceu em 2003, quando o partido abandonou
bandeiras históricas e replicou a política econômica do governo Fernando
Henrique.
Em 2022, Lula deve ter menos trabalho para
enquadrar seus rebeldes. Por via das dúvidas, ele avisou na quarta que não vai
tolerar indisciplina. Todos terão que seguir a “posição partidária” — ou seja,
a ordem do chefe. “É isso o que vai acontecer. E todo mundo vai aparecer rindo,
ninguém vai aparecer chorando”, prometeu.
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