O Estado de S. Paulo.
União Brasil busca um candidato, Moro muda alvo, linguagem e estratégia
Praticamente todos os partidos, grandes,
médios e até pequenos, têm candidatos à Presidência em outubro, seja para
valer, seja para esquentar a cadeira até o baile de fato começar. Já o União
Brasil, fusão de DEM e PSL, não lançou nenhum nome e passa a ser um “partidão”
disputado na eleição. Mas nada a ver com o velho partidão, hein!
Com 81 deputados, os 52 do PSL e os 29 do
DEM, o União Brasil tem a maior bancada da Câmara e R$ 1 bilhão de fundo
eleitoral e partidário. Um dote e tanto para uma noiva indecisa que, neste
momento, parece mirar Sérgio Moro, do Podemos.
Em terceiro lugar nas pesquisas, mas sem atingir dois dígitos, Moro é por enquanto candidato a ser a terceira via numa eleição polarizada entre o favorito Lula, do PT, e Jair Bolsonaro, do PL, que tem a vantagem de disputar a reeleição. E Moro fez uma guinada e tanto na campanha, no discurso e no alvo.
A previsão era de que ele mirasse
Bolsonaro, para colher o eleitorado conservador desiludido com o presidente,
enquanto fechava uma espécie de pacto com João Doria, do PSDB, e Luiz Henrique
Mandetta, do então DEM: o mais bem colocado nas pesquisas e com mais capacidade
de chegar ao 2.º turno levaria o apoio dos outros.
A realidade, no entanto, é mais forte do
que avaliações e estratégias. E a realidade foi mostrando a consolidação de
Lula na dianteira e a insistência de Bolsonaro em dar tiro no pé sozinho e em
afugentar o eleitorado que é conservador, mas não brucutu, negacionista ou
absurdo. Logo, Moro trocou de alvo e de linguagem.
Quando Lula o chamou de “canalha”, Moro
devolveu: “Canalha é quem roubou o povo brasileiro”. E engrenou: “Deveria estar
preso”. Poderia ser só um rompante, mas é pragmatismo. Moro vê que sua chance é
bater de frente com Lula e tirar de Bolsonaro a condição de grande adversário
do petista no 2.º turno. Além dos bolsonaristas arrependidos, quer atrair os
antipetistas de todas as cores.
As crescentes divisões do bolsonarismo
contribuem para a estratégia: Abraham Weintraub e Ernesto Araujo atacando o
Centrão, Eduardo Bolsonaro e Fábio Faria tomando as dores, Damares Alves
disputando vaga ao Senado com Janaina Paschoal. E esses rachas se refletem no
próprio União Brasil.
De outro lado, uma aliança de Lula com Geraldo Alckmin atrapalha Moro, assim como a determinação de Doria. Alckmin é o ímã de Lula para atrair o centro e a direita equilibrada e Doria quer ser o candidato desse centro e dessa direita. Quanto mais todos racham, mais Lula trabalha pela união e o União Brasil exercita a paciência, para escolher o noivo certo, na hora certa.
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