O Globo
Sua entrevista na quarta-feira foi uma sucessão de
pequenos discursos; Há algo de “Lulinha, paz e amor” na promessa
Na quarta-feira, Lula deu uma entrevista de três horas a
jornalistas. Não foi exatamente uma entrevista, mas uma sucessão de pequenos
discursos. Afora uma introdução, um deles durou mais de dez minutos. O
jornalista perguntava sobre a amplitude de suas alianças políticas e, no meio
da resposta, ele dizia que Jair Bolsonaro não sabe comer camarão. Esse é seu
estilo, à vontade no palanque, travado ou parabólico diante de perguntas
diretas.
Mesmo assim, Lula foi revelador. Sua primeira frase teve um jeito
de bordão: é preciso, em primeiro lugar, “colocar o pobre no Orçamento e, em
segundo lugar, colocar o rico no Imposto de Renda”. Num outro momento, defendeu
a isenção para quem ganha até cinco salários mínimos.
A maioria das perguntas se relacionava à possibilidade de ele vir
a ter como companheiro de chapa o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, e
numa das respostas Lula também foi revelador. Prevendo um Brasil melhor,
reconstruído. A ideia seria essa, senão, “pede a conta e vai embora, deixa a
Gleisi (presidente do PT) ‘livre para indicar outro’”:
“É para fazer esse país que eu preciso construir uma relação
política mais ampla que o PT, e não mais à esquerda, mas ao centro e, se for o
caso, até com setores, sabe, de centro-direita. (...) Eu sei a diferença entre
falar e fazer”.
A entrevista estava no final quando Lula mostrou a nova carta: “Eu
não vou fazer com eles o que fizeram comigo.” Chamou Sergio Moro de “canalha”,
mas deixa para lá.
“Este país precisa de muita solidariedade, muito carinho, muita alegria. (...) Vou fazer uma campanha leve, uma campanha simpática. (...) Não vou ficar respondendo mentira do Bolsonaro.”
Há algo de “Lulinha, paz e amor” na promessa. A ver.
Lula seguiu a velha receita: deu xeque-mate nos petistas que o
criticam, dizendo-lhes que podem procurar outra liderança. Como desde a
fundação do partido ela não apareceu, nem ele ajudou para que ela aparecesse, a
carta é e será Lula.
Palanque e debate
Lula saiu da entrevista para um almoço com os jornalistas e nele
criticou o modelo dos debates entre candidatos: “Não funciona”.
Sua restrição está no limite de tempo: um minuto para a pergunta,
dois para a resposta, outros dois para a réplica e para a tréplica.
Pode ser pouco, mas não há modelo que possa transformar debate em
palanque.
Convergência
Lula e Geraldo Alckmin têm a mesma opinião a respeito daqueles que
não concordam com a possibilidade de uma aliança entre os dois: são românticos.
Fala, Rui Falcão
Rui Falcão, ex-presidente do PT, é um veterano militante do
partido e no período em que os companheiros estiveram no governo federal não se
lambuzou (expressão do senador Jaques Wagner, do PT da Bahia).
Numa entrevista ao repórter Ranier Bragon, ele criticou a presença
de Geraldo Alckmin na chapa de Lula, dizendo o seguinte:
“Primeiro porque temos um programa de reconstrução e transformação
do país, como a Fundação Perseu Abramo vem trabalhando.
Segundo, o Alckmin é a contradição a tudo isso que fizemos e
pretendemos fazer.
Terceiro, dá uma sinalização muito negativa para uma campanha que
tem que ser aguerrida, mobilizada e com a construção de comitês de defesa da
eleição do Lula que permaneçam depois como comitês de apoio do programa de
transformação.”
Combater a aliança com Alckmin é uma coisa, defender “comitês de
apoio do programa de transformação” é bem outra.
Briga na direita
Pode-se dizer de tudo contra a esquerda, mas as brigas internas do
PT se parecem com discussões de lordes, se comparadas aos bate-bocas dos
bolsonaristas.
Registre-se que Abraham Weintraub, alvo e personagem dos últimos
arrufos, foi considerado um profissional adequado para o Ministério da Educação.
Não o estão tratando como tal.
Arrogância
Os advogados que aconselharam a plataforma Telegram a deixar sem
resposta quatro mensagens do Tribunal Superior Eleitoral tiveram uma má ideia.
Divergência é uma coisa, malcriação é outra. O Telegram tem sede
em Dubai e se tornou abrigo para disseminação de patranhas odiosas.
Mesmo ministros que simpatizavam com o direito da plataforma se
constrangeram com a arrogância da turma.
O Telegram não tem endereço no Brasil, enquanto seus concorrentes
o têm e colaboraram sempre que foram solicitados.
Ninguém deve se esquecer que na ponta da vigilância contra a
poluição do debate eleitoral estará o ministro Alexandre de Moraes. Ele não
virá para brincadeiras.
Prorrogação
Se não bastassem os penduricalhos da magistratura, alguns
presidentes de Tribunais de Justiça em fim de mandato flertam com a ideia de
prorrogá-los. Argumentam que a pandemia prejudicou suas gestões.
Ao saber disso, Eremildo, o idiota, propõe:
1) Que sejam devolvidos os impostos pagos por pessoas que perderam
seus empregos;
2) Que seja criada uma Bolsa Covid para beneficiar as famílias que
perderam seus chefes para a doença;
3) Que sejam prorrogados os contratos de trabalho de todos os
profissionais de saúde recrutados em caráter emergencial;
4) Que seja criado um fundo para custear a produção de bustos de
bronze, homenageando os presidentes de tribunais durante a duração da pandemia;
e
5) Que a profissão de idiota seja regulamentada.
Suprema Corte é suprema
Para quem acha que os ministros da Suprema Corte americana vivem
encoleirados às posições dos presidentes que os nomearam:
Donald Trump recorreu à Corte para que não fossem divulgadas as
comunicações internas da Casa Branca durante a insurreição de 6 de janeiro de
2021. Perdeu de 8 a 1, e o único voto a seu favor veio de Clarence Thomas,
nomeado por George Bush, o primeiro.
Os três juízes nomeados por Trump votaram com o Direito.
A papelada tem tudo para deixar Trump em maus lençóis, porque uma
banda do seu governo se deu conta do desastre que o presidente incentivou.
Coincidências
Elza Soares morreu no mesmo dia de Garrincha, com quem viveu. No
mesmo 20 de janeiro, em 1917, Donga registrou seu samba “Pelo telefone”, um dos
primeiros do gênero e certamente o primeiro a buscar o carimbo.
Corrida aos cargos
Bolsonaristas engravatados se mostram ansiosos e começaram a
acelerar suas corridas a cargos vitalícios.
No Judiciário, o número de telefone mais procurado pelos postulantes é o do ministro Nunes Marques.
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