O Estado de S. Paulo
Para Bolsonaro, Queiroga e Damares, parada cardíaca de criança vacinada seria troféu
De todo o show de horrores da pandemia,
poucos conseguem ser piores do que a tentativa de usar uma menininha que teve
parada cardíaca em Lençóis Paulista como troféu na campanha contra a vacinação
de crianças. É vil, indigno, imoral.
Sempre indiferente, o presidente Jair
Bolsonaro telefonou diligentemente para os pais da menina, que teve a parada
horas após receber a vacina contra a covid-19. Logo ele, que nunca deu uma
palavra de consolo para as famílias dos mais de 620 mil adultos e de 1.400
crianças mortos pela doença – o que ele acha pouco.
Quando o Brasil atingiu 10 mil mortos, Bolsonaro foi passear de jet ski no Lago Paranoá, em Brasília. Com mais alguns milhares, deu de ombros: “E daí? Todo mundo vai morrer”. E, depois de trabalhar contra a vacinação de adultos, faz campanha aberta contra a de crianças. Não se vacinou nem vacina a filha.
Então, por que ligou para os pais da
menininha? Para se solidarizar? Manifestar empatia? Não. Só ligou para saber o
quanto a dor e o susto deles lhe poderiam ser úteis, o quanto poderiam
comprovar que vacina é perigosa. Na próxima live, diria: “Viu? Eu não disse?”
Fiéis coadjuvantes, os ministros Marcelo
Queiroga, da Saúde!, e Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos!,
saíram em desabalada carreira atrás da família. Frustração.
A menina se recupera bem e a parada foi por
uma síndrome congênita, sem relação de causa e efeito com a vacina.
O Sindicato dos Médicos do Rio e a
Associação Brasileira de Imprensa (ABI) pediram o impeachment de Queiroga na
Câmara e a CNBB se uniu a cinco entidades num pacto pela vida das crianças. O
Ministério da Saúde demorou três semanas após a autorização da Anvisa para
admitir a vacinação de 5 a onze anos, inventando bobagens. E as aulas começam
em fevereiro.
O ministério de Queiroga também enviou nota
técnica para a Anvisa empurrando toda a responsabilidade pelos autotestes para
as farmácias. Depois, derrubou as diretrizes da sua própria comissão técnica
contra o tal kit covid. E faz corpo mole para a Coronavac em crianças. Sem
plano, estimativa de doses, cronograma, logística.
E a Ômicron definitivamente não é
“bem-vinda”, como Bolsonaro chegou a dizer, tanto que os hospitais estão
lotados, as mortes voltaram a subir e Rio e São Paulo acabam de adiar os
desfiles de escolas de samba no Carnaval.
É preciso vacinar nossas crianças o mais
rápido possível. Ao contrário do que Bolsonaro diz e Queiroga se esforça para
comprovar, vacina contra covid não é experimental. É testada, segura e eficaz.
Salvem seus filhos, papais e mamães do Brasil!
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